Ter colegas de quarto de outras raças reduz preconceito no campus



Diversidade racial também melhora o desempenho de estudantes negros.
Mas relacionamento entre os alunos pode ser mais estressante, diz estudo.

Tamar Lewin Do New York Times

Como calouro da Ohio State University e único estudante negro do seu andar, Sam Boakye estava determinado a tirar boas notas – em parte, para que seu colega de quarto branco não tivesse base para visões racistas.

"Se você está cercado de brancos, tem algo a provar", disse Boakye, estudante do último ano, nascido em Gana. "Você é motivado a fazer melhor, a desafiar o estereótipo de que pessoas negras não são inteligentes."

O veterano Sam Boakye em 22 de junho na Ohio State University, em Columbus. (Foto: The New York Times)

Estudos recentes descobriram que ter um colega de quarto de uma raça diferente na faculdade pode diminuir o preconceito, diversificar as amizades e até melhorar o desempenho dos estudantes negros. No entanto, a pesquisa descobriu também que esses relacionamentos são mais estressantes e têm mais tendência a serem rompidos.

Com as universidades cada vez mais diversificadas, e colegas de quarto de diferentes raças mais comuns, cientistas sociais os observaram como experimentos de campo naturais capazes de oferecer esclarecimentos sobre as relações raciais.

"De uma perspectiva científica, quando esses colegas de quarto são convocados a compartilhar o dormitório, você tem um experimento natural acontecendo, numa área que é muito difícil de testar de forma empírica", disse Thomas E. Trail, estudante de pós-graduação em psicologia da Princeton University, que estuda colegas de quarto de diferentes raças. "Você não poderia iniciar um experimento determinando que pessoas passem vários meses vivendo com alguém de outra raça."

Russell H. Fazio, professor de psicologia da Ohio State e estudioso do tema, descobriu um efeito acadêmico intrigante. Ao analisar dados sobre milhares de calouros da universidade que moram em dormitórios, ele descobriu que os estudantes negros que entraram com notas mais altas em testes padronizados tiveram notas melhores se tinham um colega de quarto branco – mesmo se as notas desse colega fossem baixas. A raça do colega de quarto não tinha efeito sobre as notas dos estudantes brancos ou estudantes negros com notas de admissão baixas. Talvez, especulou o estudo, ter um colega de quarto branco ajude academicamente estudantes negros preparados a se adaptar a uma universidade predominantemente branca.

Esse mesmo estudo descobriu que colegas de quarto de raça diferentes alocados de forma aleatória se separavam antes do fim do trimestre com o dobro da frequência de colegas de quarto da mesma raça.

Pelo fato de que as relações inter-raciais são geralmente problemáticas, disse Fazio, muitos estudantes gostariam de mudar de quarto, mas as diretrizes de alojamento universitário dificultam essa mudança.

"Na Indiana University, onde o alojamento não era tão apertado, mais colegas de quarto de raças diferentes se separaram", disse ele. "Aqui na Ohio State, onde havia uma escassez de dormitórios, eles foram orientados a resolver a situação. A coisa mais interessante que descobrimos foi que, se o relacionamento conseguisse continuar por apenas dez semanas, veríamos uma melhora nas atitudes em relação à raça."

O estudo de Fazio descobriu que três vezes mais estudantes de raças diferentes alocados aleatoriamente não estavam mais morando juntos ao final do semestre, em comparação com colegas de quarto brancos. Os colegas de raças diferentes passaram menos tempo juntos e não se envolveram tanto com os amigos do colega de quarto, em relação aos colegas brancos. O estudo ainda descobriu que as atitudes racistas preexistentes dos brancos previam quais colegas de quarto se separariam.

Vários estudos mostram que morar com um colega de quarto de raça diferente muda as atitudes de um estudante. Um estudo, realizado na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, descobriu uma redução geral no preconceito entre estudantes com colegas de quarto de outra raça – mas aqueles que dividiram o dormitório com asiáticos-americanos, o grupo com maior grau de preconceito, se tornaram ainda mais preconceituosos.

Profissionais que observam as relações entre colegas de quarto afirmam que a alocação de estudantes de raças diferentes no mesmo dormitório é uma parte importante da diversidade no campus.

"A maioria deles não tem problemas, e acho que isso pode ser mais interessante, pois eles têm mais a aprender um com o outro", disse Phil Badaszewski, diretor do dormitório da Ohio State. "Quando existem conflitos, geralmente trata-se de ideias diferentes sobre a divisão das coisas, ou música, ou limpeza, ou chegar tarde da noite no dormitório – coisas que também podem representar problemas para colegas da mesma raça."

O diretor de dormitório Phil Badaszewski. (Foto: The New York Times)

Às vezes, essas disputas mascaram questões raciais implícitas.

"Tive um aluno que escolheu se mudar. Ele disse que simplesmente não gostava dos amigos do colega de quarto, pois eram muito barulhentos", disse Badaszewski. "Achei que havia um pouco de racismo ali, mas não trouxe o assunto à tona. É um daqueles temas – raça, religião e política – sobre os quais seus pais recomendam não falar durante um jantar. E, naquele caso, sabia que não melhoraria as coisas."

Ocasionalmente, ocorrem problemas raciais explícitos.

"Tive uma aluna negra que ouviu comentários racistas no seu quarto", disse Gina Kozlowski, outra diretora do dormitório da Ohio State. "Ela disse que não queria ser transformada em espetáculo, e que não queria ser a pessoa que educaria suas colegas de quarto em relação a raça."

Um novo estudo, realizado com estudantes de Princeton, usou questionários diários para monitorar as interações e percepções entre colegas de quarto.

"Nas primeiras semanas de relacionamento, as emoções positivas diminuíram para a maioria dos estudantes com colegas de quarto brancos", disse Trail, um dos autores do estudo. "Não que os estudantes brancos começaram a ser maus ou negativos. Em vez disso, houve uma diminuição de comportamentos positivos, como sorrir ou fazer contato visual, que levaram os estudantes das minorias a se sentirem pior."

Um estudo com alunos da Duke University descobriu que os estudantes brancos, com menos probabilidade de terem tido amigos próximos de outras raças, eram os que tinham mais tendência a desenvolver mais amizades diversificadas enquanto calouros – em contraponto, alunos negros, que entravam na universidade com mais amizades inter-raciais, tiveram um declínio nesse tipo de amizade no último ano. O estudo encontrou poucas diferenças entre o primeiro e o último ano de faculdade na diversidade das amizades de alunos asiáticos e hispânicos. Calouros com colegas de quarto de outra raça – ou aqueles que moravam sozinhos num dormitório – foram os que tiveram mais tendência a diversificar suas amizades.

"Ter diversidade somente nas salas de aula não aumenta as amizades entre as raças", disse Claudia Buchmann, professora associada de sociologia da Ohio State e autora do estudo da Duke. "Porém, a intimidade de compartilhar residências, sem colega de quarto, ou com um colega de quarto de outra raça, leva a amizades mais diversificadas."

Estudantes da minoria, num ambiente predominantemente branco, disse Buchmann, geralmente se encasulam ao andar em grupos. Conselheiros negros e brancos da Ohio State disseram ser comum que calouros negros busquem outros alunos negros.

"Existem organizações no campus especificamente projetadas para ajudar estudantes das minorias, e muitas vezes esses estudantes tentam encontrar seus amigos através desses grupos", disse Ellen Speicher, conselheira da Ohio State, branca e mãe de um aluno do penúltimo ano. "Faz sentido, num campus predominantemente branco."

Boakye, conselheiro há dois anos, disse haver conforto em andar em grupos. "Sendo uma minoria na Ohio State, tentamos permanecer juntos, nos unir como uma comunidade", disse ele. "É diferente para os brancos."

"Muitos deles vêm aqui sem muita exposição à diversidade", disse Boakye, "então, quando a primeira experiência deles com um rapaz negro não é tão ruim, eles vão e fazem mais amigos negros. Acho que causei uma boa impressão no meu colega de quarto no primeiro ano. Quando o vi este ano, ele disse, 'Ei, cara. Você não é o único amigo negro que tenho'. Isso é bom".

A conselheira Ellen Speicher. (Foto: The New York Times)


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