150 pichadores atacam a avenida 23 de Maio em protesto

da Folha de S.Paulo
MOACYR LOPES JUNIOR
Repórter-fotográfico da Folha de S.Paulo

Um grupo de 150 grafiteiros e pichadores atacou ontem (13) cerca de um quilômetro de muros dos dois lados da avenida 23 de Maio, entre a zona sul e o centro de São Paulo, para protestar contra o que chamam de "cinza do [prefeito Gilberto] Kassab".

A ação, dizem eles, teve o objetivo de colorir novamente os muros que antes abrigavam grafites e pichações e foram pintados pela prefeitura.

Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem
Manifestantes pintam muro da avenida 23 de Maio como forma de protesto contra Kassab
Manifestantes pintam muro da avenida 23 de Maio como forma de protesto contra Kassab

Nove jovens chegaram a ser detidos pela Polícia Militar, mas acabaram liberados. No fim da tarde, assessores de Kassab disseram que os muros seriam pintados de cinza de novo.

"Nunca vi um ataque [de grafiteiros] como esse. A gente resolveu retomar um espaço nosso", disse o grafiteiro Mundano. Ele conta que o ato foi combinado por e-mail e que não tinha uma organização definida. "Recebi um e-mail anônimo, foi no boca a boca mesmo", afirmou Crânio, outro participante.

Às 10h, o grupo, que se reuniu no Centro Cultural SP, espalhou-se ao longo de um quilômetro da avenida. "Não queríamos depredar, mas levar arte à população, que não costuma ir a galerias", afirmou Mundano.

Entre imagens coloridas, picharam frases como "Fora Kassab", "Fora Sarney", "Apaguem os problemas da cidade e não o grafite", "Fiquem pelados" e "Seja feliz, mate um político".

Por volta das 10h30, quando a parede de acesso ao viaduto Pedroso já estava tomada por grafites, um carro da PM chegou. Os policiais tentaram impedir a continuidade do ato e pediram a identidade de três rapazes, enquanto os demais continuavam a pintar.

Nove jovens, entre eles Mundano, foram levados para o 5º Distrito Policial (Aclimação), onde prestaram depoimento e foram liberados. O delegado Milton Coccaro disse que eles não foram presos porque entendeu que nenhum dos "nove artistas tinha a intenção de deteriorar o patrimônio".

"Era uma manifestação de cunho artístico. Também não era razoável prender nove e deixar 150 lá, grafitando." Segundo o delegado, alguns disseram que o grupo tinha autorização da prefeitura. Porém, não apresentaram documentos.

A Subprefeitura da Sé concedeu uma autorização para que a Ioiô Filmes grafitasse uma parede na 23 de Maio. A produtora, porém, diz que não tem relação nenhuma com os protestos de ontem. "Será que pintaram onde vamos filmar?", questiona Diego Alencar, da Ioiô.

A empresa contratou um grafiteiro que irá realizar o trabalho amanhã, segundo ele. Em seguida, tudo será apagado pelo artista. A filmagem será exibida em canal de TV por assinatura.

Além dos muros cinzentos (agora pichados), a 23 de Maio tem em alguns trechos pontuais trabalhos de grafiteiros feitos com a autorização da prefeitura --"osgemeos", por exemplo, estão lá. Esses grafites foram poupados no ataque.

Para o arquiteto Candido Malta, ninguém tem o direito de promover alterações em um espaço público, mas, nesse caso, o ato é válido como protesto. Para ele, se pichadores e grafiteiros antes pintavam nas paredes da avenida com a conivência da prefeitura, agora devem ser ouvidos para que a atividade seja disciplinada.

Alguns grafiteiros mais veteranos criticam a ação. "Há uma grande poluição com trabalhos mal feitos por aí", afirma Pato, que já expôs em Londres.


Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem