Karina Toledo
"Em vez de beber todos os dias, moderadamente, às refeições, como os europeus, os brasileiros bebem tudo de uma vez no fim de semana. É um padrão prejudicial, pois aumenta o risco de dependência e deixa a pessoa mais sujeita a intoxicação e comportamento de risco, como sexo desprotegido, abuso de nicotina e dirigir embriagado", afirma a pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da USP Camilla Magalhães Silveira.
Camilla coordenou, no Brasil, parte de uma investigação da Organização Mundial de Saúde (OMS) realizada em 28 países com o intuito de medir a prevalência de transtornos mentais na população. Mais de 5 mil pessoas participaram da pesquisa na região metropolitana de São Paulo, escolhida para representar o País.
Os dados obtidos revelam que, enquanto o consumo per capita anual de bebida alcoólica na França é de 18 litros por pessoa, no Brasil ele está abaixo de 8 litros. No entanto, a taxa de abuso e dependência aqui é de 4%, enquanto entre os franceses é de apenas 0,8%.
"A OMS tem uma escala que vai de 1 a 4 e mostra o quanto é prejudicial o consumo em cada país. O Brasil recebeu nota 4, a de maior gravidade. Já os europeus têm um padrão de consumo protetor, que até faz bem à saúde", explica.
O estudo revelou ainda que 86% dos entrevistados haviam consumido ao menos 1 dose de bebida alcoólica na vida, e 56,2% consomem regularmente (pelo menos 12 doses em 12 meses). A taxa de dependência foi de 3,3% e a de abuso, de 9,4%.
"Não sei ao certo o quanto bebo, pois há sempre mais pessoas na mesa. Só sei que no fim da noite há pelo menos 20 garrafas de cerveja amontoadas ao lado", diz Ricardo. "Além disso, em festa, extrapolo mesmo."
Outro levantamento recente, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp, aponta que quase metade da população é abstêmia - e que, quem bebe, bebe muito. "Cerca de 25% disseram beber pouco e ocasionalmente. Os outros 25% são responsáveis por consumir 80% do álcool ingerido no país", diz Ronaldo Laranjeira, responsável pela pesquisa.
Para o psiquiatra, esse padrão está relacionado a um consumo não domiciliar. "O consumo é principalmente social, fora de casa e, por isso, a tendência é que seja maior", analisa. Para ele, essa cultura é preocupante não só porque leva os jovens ao consumo excessivo, mas também porque os leva a beber longe do controle familiar.
No topo da lista dos países que mais consomem bebidas alcoólicas por pessoa ao ano, estão Rússia, Ucrânia, Letônia, Lituânia. As bebidas destiladas são as preferidas.
O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário