Do pré-conceito ao preconceito: quando a necessidade de significar aprisiona a capacidade de entender.

É da natureza humana a necessidade de conhecimento. O homem é o único ser que precisa identificar coisas e situações, acomodando tudo nos arquivos de sua mente e possibilitando melhores reações ao deparar-se com aquela mesma realidade. Essa programação neurolingüística gerada pela experiência é o que impulsiona o homem para novas descobertas. Nunca se parte do nada, há sempre um paradigma. Porém, o primeiro encontro com o desconhecido é sempre desastroso.

Todos nós temos medo daquilo que não conhecemos, pois não programamos uma reação específica para um encontro com o desconhecido. Daí nasce o pré-conceito, da necessidade de conceituar algo que não conhecemos. Trata-se de uma identificação prévia e irreal, cujo objetivo é unicamente o de suprir a necessidade imanente ao ser humano de conhecer todas as coisas. O pré-conceito, ou conceito anterior, nada mais é do que um protótipo de um conhecimento. É o ponto de partida para uma investigação séria e sutentável.

Assim como no mundo científico, a vida humana é movida por descobertas que, partindo de fantasias, chega-se a uma sólida realidade. Imaginar a proveniência dos seres, a sua finalidade e até mesmo os aspectos de sua constituição é uma rotina na vida das crianças. Mas, o processo formativo a que são submetidas, aos poucos vai deslindando as fábulas e os sonhos. A realidade vai se consolidando e o conceito se perfazendo.

O que se pretende demonstrar é que o pré-conceito é um processo natural no ser humano. É o instrumento do instinto pelo conhecimento. Primeiro imaginamos o que pode ser, depois descobrimos o que realmente é.

O grande problema que precisa ser superado, é estabelecido no percurso entre imaginar e conhecer. Isto porque nem todos possuem uma formação sólida o suficiente para chegarem ao conhecimento. Muitos às vezes se rendem ao “conceito” imaginado como se aquele fosse a realidade buscada. Assim, acreditando cegamente que o pré-conceito é de fato o conhecimento almejado, começa-se a se programar uma reação mental para se manifestar quando em contato com a coisa ou situação imaginada. Essa reação pode ser boa ou ruim, dependendo da natureza da criação mental que foi formada naquele individuo. Porém, em qualquer caso, será sempre uma reação injusta e equivocada, pois não se a teria se de fato conhecesse tal objeto. Assim, resta formado o preconceito.

Quando se fala que é preciso formação para se chegar ao conhecimento, diz-se que não basta informação, é imprescindível que se tenha capacidade e discernimento para filtrar as informações recebidas, separando, aquilo que realmente contribuirá para a construção de um conhecimento, daquilo que apenas traz especulações imaginativas, tão primárias quanto a primeira imprenssão daquele que desconhece.

Logo, aquele que não é capaz de discernir essas informações, é aliciado por doutrinas e teorias absurdas que criam preconceitos e difundem idéias erradas sobre realidades que não toleram. A intolerância é um tipo de reação programada pela mente com fundamento em um conceito imaginativo, ou seja, em um preconceito.

O que se verificou é que o pré-conceito pode ser um sentimento natural quando criado pela natureza humana imaginativa na tentativa de atingir algum conhecimento. Mas pode se transforma em arma mortal, quando utilizada como instrumento de manipulação, para promover a intolerância e aprisionar pessoas às margens do conhecimento. É uma arma poderosa na mão de demagogos, extremistas ou fanáticos religiosos.

Dessa forma, pode-se dizer que, a despeito de ser da natureza humana a busca pelo conhecimento, nem todos conseguem atingi-lo verdadeiramente. Princípios científicos podem ser facilmente aderidos ao cotidiano de qualquer pessoa como suporte de filtro de informações. O primeiro deles é o da especificidade e competência da fonte. É inadmissível, por exemplo, que religião fale sobre questões referentes a comportamento( área da psicologia) ou ciência e vice-versa. A habilitação daquele que informa também é fundamental. Também, é muito importante que a informação seja prestada sem segundas intenções, ou seja, que não sirva de pretexto para transações comerciais ou aliciamento religioso.

Em fim, somos seres científicos por natureza. Não deixemos que mentes perturbadas e mal intencionadas agridam nossa inteligência com falácias e sofismas. Não deixemos que uma imagem mal explicada se torne uma barreira definitiva que nos separa do conhecimento e das melhores e infindáveis possibilidades.
por Raphael Ramires

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