Mais de 820 milhões de pessoas moram em favelas no mundo

Enquanto em 1950, 30% da população mundial viviam em áreas urbanas, hoje a proporção já atingiu 50%, ou seja, 3,5 bilhões de pessoas.



Estima-se que em 2030 a maioria dos humanos morará numa cidade, e, segundo as projeções do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT), em 2050, será o caso de virtualmente todos os habitantes da terra.



“Daqui a vinte anos, o homo sapiens deverá ser chamado o homo sapiens urbanus”, afirma o novo relatório sobre o Estado das Cidades do Mundo 2010/2011, apresentado ontem (19) no Rio de Janeiro. O documento antecipa o 5º Fórum Urbano Mundial, que começa segunda-feira na capital fluminense.

O subtítulo do relatório, “Unindo o urbano dividido”, é publicado a cada dois anos e resume a principal preocupação do ONU-HABITAT: se teoricamente morar em uma cidade significa melhor qualidade de vida e mais acesso aos serviços públicos, como saneamento, água potável, educação e saúde, em diversas cidades, especialmente nos países em desenvolvimento, urbanização rima com exclusão e marginalização.

Fome nas cidades

“Hoje, é mais frequente uma pessoa passar fome em uma cidade do que na área rural”, afirmou o coordenador da pesquisa, Eduardo López Moreno, durante a apresentação do relatório. Ele apontou as desigualdades em relação à saúde, – a quantidade de doenças é três vezes maiores nas favelas que no resto da cidade – na educação e na cultura. “A exclusão das pessoas morando nas favelas não é apenas econômica, também é social, cultural, e política”, afirmou Moreno.

ONU-HABITAT destaca que 227 milhões de pessoas no mundo deixaram de viver em favelas entre 2000 e 2010 e passaram a fazer parte da cidade formal. Isto significa que a porcentagem de pessoas morando em assentamentos precários passou de 39% para 32% nos últimos dez anos.

Em aparência, é um ótimo resultado, que significa que, coletivamente, os governos do mundo alcançaram uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM): melhorar em 2,2 vezes a vida de pelo menos 100 milhões de habitantes de favelas até 2020.

“No entanto, não é um número suficiente para ser celebrado”, insistiu a diretora executiva de ONU-HABITAT, a tanzaniana Anna Tibaijuka, durante a apresentação do relatório no Rio de Janeiro. “A meta dos ODM em relação à moradia é muito baixa, não faz sentido. Atingi-la não significa uma melhoria substancial da vida das pessoas”, completou.
Tibaijuka lembrou que o “número absoluto” de moradores de favelas cresceu de 776,7 milhões em 2000, para 827,6 milhões em 2010. Isso significa que 55 milhões de novos moradores de favelas foram agregados à população urbana global desde 2000.

Metade deste crescimento veio de pessoas que já viviam em favelas, um quarto são aqueles que migraram do campo para áreas urbanas e outro quarto é representado pelos que viviam em áreas rurais nas bordas das cidades e que tiveram suas residências engolidas pelo crescimento urbano. De acordo com cálculos do programa ONU-HABITAT, a população mundial que vive em favelas deveria aumentar seis milhões por ano até 2020 para chegar a marca dos 889 milhões, quase atingida ainda em 2010.

Urbanização prematura

A diretora executiva do projeto lamentou que os progressos acontecessem de forma desigual ao redor do mundo. “Enquanto conseguimos ter melhorias em países como a Índia, a China, a Indonésia, o Marrocos e a Tunísia, na África Subsaariana e na Ásia Ocidental a história é diferente. Nesses lugares, a maioria das pessoas continua vivendo em favelas, sem água, sem saneamento e sem habitações decentes”, disse.

Qualificando a situação na África Subsaariana de “dramática”, ela lembrou que a região concentrava a maior população em favelas: 199,5 milhões o que representa 61,7% da população urbana. “África Subsaariana está vivendo um fenômeno de urbanização prematura: as pessoas deixam as áreas rurais sem nenhuma preparação. São camponeses que fugiram de guerras ou que se deslocaram para área urbana impossibilitados de trabalhar na terra”, explica Tibaijuka, citando o exemplo da Angola, onde 80% das terras agrícolas ainda estão minadas.

A região que mais evoluiu é a Ásia, onde 172 milhões de pessoas deixaram as favelas entre 2000 e 2010. O esforço foi concentrado na China e na Índia, que somam 125 milhões desses novos cidadãos “incluídos” na cidade. Segundo o relatório, os dois países deram “passos gigantes".

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