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Arte urbana: A resistência das imagens
Memória. Estêncil materializa imagem por anos incorporada ao cotidiano de Belo Horizonte
Não é de hoje que Dereco Machado se inspira em acontecimentos urbanos para criar seus trabalhos em grafite e estêncil. Já em meados de 2008, quando andava a pleno vapor a duplicação da avenida Antônio Carlos, o artista organizou a ACZine, publicação em que documentou por meio de fotos, textos e registros de intervenções in loco a grande transformação sofrida pela cidade.
Por: DANIEL TOLEDO
Frequentemente transitando entre trabalhos de rua e ateliê, mas quase sempre inspirado pela rotina da cidade, Dereco foi recentemente selecionado como finalista do Modern Craft Project, concurso internacional voltado a uma revisão contemporânea do conceito de artesania, realizado pela revista “Wallpaper”.
“Logo que fiquei sabendo dessa história, achei interessante o conceito de artesania contemporânea e entendi que meu trabalho se aproximava disso. Mesmo usando a rua como suporte, sempre passo muito tempo no ateliê concebendo e produzindo os trabalhos”, conta Dereco, selecionado em meio a outros 19 brasileiros para a etapa final da competição.
Entre os trabalhos que apresentou à curadoria do concurso, destaca-se uma complexa obra de estêncil na qual reproduz com impressionante fidelidade um dos mais conhecidos edifícios abandonados de Belo Horizonte, situado na região da Lagoinha e recentemente comprado por uma rede hoteleira.
“Depois de ficar abandonado por muito tempo, esse edifício acabou se convertendo na maior agenda de pichadores da cidade, onde estavam assinaturas de nomes importantes dessa cena. Foi a partir dessa textura que criei o trabalho, concebido como uma espécie de gravura em homenagem a uma paisagem que se perdeu, cedendo lugar a mais um edifício genérico dentro da cidade”, observa.
Outro trabalho de destaque dentro do conjunto corresponde à publicação “Praça Sete de Setembro”, na qual Dereco faz referência à mesma onda higienista que, no ano passado, gerou conflitos entre policiais e artesãos que há tempos trabalhavam e expunham suas criações na praça Sete.
“Nesse caso, trabalhei a partir de uma série de fotografias feitas durante uma dessas ações policiais, gerando uma espécie de narrativa em que um policial revira um cobertor. E toda a publicação foi construída a partir de colagens, em uma espécie de mosaico feito com materiais encontrados na rua”, explica ele, que atualmente se dedica à criação da série “Cidadão Comum”, na qual retrata, por meio do estêncil, diferentes figuras marginalizadas que povoam as ruas da cidade.
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