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Historia do quarteirão do Soul
O projeto cultural conseguiu se estabelecer como um dos mais marcantes da cidade, congregando pessoas saudosas e jovens curiosos.
Fãs de soul dançam no que ficou conhecido como Quarteirão do Soul
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2004, com a compra de um CD na rua Goitacazes, no centro de Belo Horizonte. Valdeci Cândido, o DJ Abelha, queria adquirir de Geraldinho, um lavador de carros do local, uma compilação de soul music. Ao testar o disco no som de sua Caravan, dançarinos passaram e começaram a se envolver com a música. Nascia aí o embrião do que ficou conhecido como Quarteirão do Soul.
Corta para 2013. A Caravan foi vendida, o Movimento Black Soul, criado por Abelha, teve de deixar a rua onde ficou por oito anos – a mesma Goitacazes, onde tudo começou – e houve algumas rupturas entre os membros de primeira hora daquele espaço. Apesar desses contratempos, o projeto cultural conseguiu se estabelecer como um dos mais marcantes da cidade, congregando pessoas saudosas e jovens curiosos. “Fica parecendo que sou um pouco convencido, mas muita gente vem me agradecer por eu ter tido a ideia. Essas pessoas sempre gostaram de black music e de tudo que envolve o estilo, mas não tinham onde curtir. E, hoje, vejo que o público é de 30% de jovens. Acho muito bom ver os mais novos com a gente”, afirma Abelha.
Ele agora está às voltas com o Carnasoul, que aconteceu no último fim de semana e volta à cena no próximo sábado, na rua Santa Catarina, e, no domingo, chega à praça Sete,
“Aproveitamos o cronograma do Black Soul, já que fazemos o evento na Santa Catarina nos dois primeiros sábados de cada mês e no segundo domingo do mês na praça Sete. É uma opção para quem não gosta do Carnaval tradicional. Vai ter festa do mesmo jeito, só que ao som de black music”, explica o DJ, lembrando que hoje tem apoio da prefeitura para os eventos, apesar de a gestão municipal ter pedido para que o Quarteirão se retirasse da Goitacazes. Abelha diz ter concordado com a decisão “numa boa”. “Eles disseram que era uma área residencial e que os moradores estavam reclamando do barulho. O problema é que, quando saímos de lá, a prefeitura só nos autorizou a fazer o soul das 14h às 20h. Já que estamos em outras áreas, queremos voltar a acabar às 22h, como acontecia antes”. Em conversa com o prefeito Marcio Lacerda, Abelha diz ter obtido a garantia de que isso será revisto.
Quando o Quarteirão começou, em maio de 2004, despertou desconfianças, especialmente da polícia. “A PM foi lá, revistou, tentou achar alguma coisa, mas nunca houve, nesses anos todos, nenhum tipo de ocorrência. O que nos interessa é tocar música para quem quiser ouvir”, frisa Abelha. O preconceito foi ficando de lado e os transeuntes, segundo Abelha, começaram a se integrar com os fãs de soul. Ele ainda lembra que hóspedes de um hotel nas proximidades ficavam fascinados com o que viam e ouviam.
Desde os anos 1970, com algumas interrupções, o auxiliar de escritório que se transforma em mestre de cerimônia nos fins de semana, trabalha com música. “Eu sempre fui do soul, desde criança. O soul é a minha vida, eu vivo para ele. Para você ter uma ideia, tem dias que durmo pensando nas músicas que vou tocar, se vai ficar bom ou não”.
Durante a infância, o garoto escutava o programa de rádio “Cultura Ritmos da Noite”. Foi ali que ele descobriu o gênero pelo qual se apaixonaria. “Eu ouvi muita coisa ali pela primeira vez, foi como uma escola. E acabei montando minha própria aparelhagem, a Univercitysom, no fim dos anos 1970. Belo Horizonte era a capital do soul. Mas, veio aquela onda da discoteca e acabou tudo, ninguém mais queria ouvir o que a gente tocava”.
Na década seguinte, Valdeci se tornou mestre de kung fu, ganhando o apelido de Abelha e passou a trabalhar como auxiliar de escritório em jornais e revistas de Belo Horizonte. Em 2004, naquele dia em que comprou o CD do lavador de carros e pôs para tocar no som de sua Caravan, ele não imaginou que a música voltaria a vir com força na sua vida. Ele só lamenta ter vendido o automóvel.
“Vou tentar comprá-la de novo, mas eu não sei onde ela está”, diz Abelha. Vão-se os anéis, ficam os dedos.
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