“Para começar, crio trabalhos totalmente escondidos, que acabam invertendo a lógica da visibilidade, muito importante para os artistas urbanos. Além disso, o formato dos suportes acaba me conduzindo para uma relação mais escultórica com o objeto, diferente do que acontece em muros e edifícios, por exemplo. Por fim, vale a pena chamar atenção para o fato de que, nos lugar de carros e buzinas, são os sons da natureza que embalam a criação desses trabalhos”
Por: DANIEL TOLEDO
Natureza. Elementos naturais servem como suporte para série de trabalhos realizados na região de Ouro Preto e Mariana
Foi a partir de uma inusitada combinação entre elementos do grafite e práticas relacionadas à arte ambiental que o artista mineiro Dinho Bento deu início a uma série de trabalhos que vêm criando discretas modificações nas paisagens naturais que contornam as cidades de Ouro Preto e Mariana.
Inspirado por traços que remetem às artes africana e pré-colombiana, o artista tem levado a essencialmente urbana linguagem do grafite a troncos velhos, cupinzeiros abandonados e variados suportes encontrados ao longo de passeios por estradas e trilhas mineiras, por meio de uma série de trabalhos intitulada “Escondidos”.
“Esse trabalho teve início no ano passado, quando percebi que já não me identificava tanto com o grafite urbano e decidi procurar outros contextos de criação. Como sempre vou a Mariana e Ouro Preto para pedalar, comecei a observar que os caminhos ofereciam vários suportes muito interessantes”, relembra o artista, que associa a própria criação à conhecida prática de observar nuvens em busca de formas que se assemelham a outras coisas do mundo.
“Sem dúvida, uma das partes mais interessantes da criação é observar as formas de cada suporte, buscando evidenciar alguma coisa que já está sugerida. Assim como muitas pessoas observam nuvens, eu olho para troncos e cupinzeiros em busca de olhos, cabeças, tótens e por aí vai”, exemplifica Dinho, que reconhece estabelecer algum afeto com os trabalhos criados em meio à natureza.
“Quando consideramos que a região de Ouro Preto e Mariana está cada vez mais dominada por grandes mineradoras, os trabalhos podem, sim, ser vistos como uma forma de chamar atenção para o meio natural. Esse, aliás, é um aspecto que pretendo reforçar em próximas etapas desta série”, afirma o artista, que, ao mesmo tempo, reconhece uma certa dimensão mística em torno de suas criações, algumas vezes associados às antigas pinturas rupestres.
“Ainda que a maioria dos trabalhos esteja em lugares pouco visitados, vez ou outra tenho notícias sobre a recepção deles, que não têm qualquer tipo de assinatura ou menção à autoria. Eu mesmo já me encontrei com alguns moradores rurais enquanto fazia um ou outro trabalho, e as reações são muito positivas, num misto de curiosidade e espanto”, descreve Dinho, ressaltando as diferenças entre o próprio trabalho e aquele que se vê no contexto das cidades.
“Para começar, crio trabalhos totalmente escondidos, que acabam invertendo a lógica da visibilidade, muito importante para os artistas urbanos. Além disso, o formato dos suportes acaba me conduzindo para uma relação mais escultórica com o objeto, diferente do que acontece em muros e edifícios, por exemplo. Por fim, vale a pena chamar atenção para o fato de que, nos lugar de carros e buzinas, são os sons da natureza que embalam a criação desses trabalhos”, compara.
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