Por Fabíola Perez
Vinte anos após a Guerra do Vietnã, Estado tenta reconstruir o país marcado pelo confronto contra os EUA
Com o objetivo de debater as conseqüências do agente laranja deixadas ao longo de décadas na população do Vietnã, ocorrerá entre os próximos dias 7 e 10 de agosto, a 2ª Conferência Internacional das Vítimas do Agente Laranja, e o Brasil será representado pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) e pelo Conselho Mundial da Paz (CMP).
Segundo a presidente do Cebrapaz e do CMP, Socorro Gomes, movimentos de todo o mundo estarão reunidos para reivindicar que a ONU se manifeste a favor da indenização das vítimas. “Queremos uma reparação dos danos causados. Os responsáveis devem ser identificados e punidos pelo crime cometido durante a guerra e que se perpetura até hoje”, afirma ela.
De acordo com as estimativas, Washington lançou o produto em mais de 25 mil quilômetros do Sudeste Asiático. Conhecido como agente laranja, o líquido continha grandes quantidades de dioxina, substância cancerígena que causou doenças e incapacidades tanto em soldados quanto em civis. Atualmente, mais de dois milhões de vietnamitas sofrem os efeitos da contaminação em seu organismo.
Socorro lembra que “famílias inteiras foram afetadas”. “Foi uma atitude criminosa, um genocídio contra o povo vietnamita. Houve uma mutação genética que ocasionou diversos tipos de câncer, doenças de pele e de pulmão, incapacidades mentais, entre outras anomalias”, lembra. “Ainda hoje milhares de pessoas continuam sofrendo essas conseqüências. Filhos e netos das vítimas foram afetados pelas mutações”, recorda ela.
Sem responsabilidade
Movimentos e associações vietnamitas cobram dos Estados Unidos uma reparação e uma indenização pelos danos da guerra. A Casa Branca, no entanto, nega a responsabilidade no caso e atribui os malefícios aos fabricantes do produto. Em 2004, as associações de vítimas do Vietnã e dos Estados Unidos entraram com um processo na Justiça Federal de Nova York contra 36 empresas que forneceram o desfolhante. A petição foi negada, em primeira instância, pelo juiz Jack Weinstein.
Para a presidente do Cebrapaz, “o judiciário americano não deu ganho de causa porque daria precedentes para processos em outros países onde o produto também foi lançado”, com na ex-Iugoslávia, no Afeganistão e no Iraque. “A humanidade não pode se esquecer disso. Esse foi um dos crimes pelos quais os Estados Unidos nunca foram julgados, assim como a bomba em Hiroshima e Nagasaki. E os médicos consideram a atual indenização de US$ 18 oferecida pelos Estados Unidos absolutamente insuficiente para manter as vítimas”, enfatiza.
Muitas associações de vítimas sobrevivem, segundo Socorro, graças ao apoio do Estado. “As famílias não têm como se virar, por isso, as associações mantêm escolas, abrigos e hospitais para crianças”, conta. “O Estado está buscando a reconstrução do país e o grande desafio é atingir o desenvolvimento social e econômico, diminuindo a pobreza no campo”, afirma ela.
Além do debate em torno das conseqüências do produto ainda hoje presentes na vida da população do país, Socorro ressalta que o Cebrapaz deverá aproveitar a Conferência para debater a erradicação do uso de armas químicas em conflitos.
Campo minado até hoje
No último dia 1º de agosto, três pessoas morreram no Vietnã devido à explosão de uma bomba da época da guerra com os Estados Unidos no centro do país. O fato ocorreu no sábado em Binh Chau, na província de Quang Ngai, depois que três camponeses encontraram uma bomba de artilharia de 105 milímetros, disse o chefe local da Polícia, Tieu Viet Thanh.
A bomba explodiu quando os três homens, de entre 51 e 57 anos, tentavam desmantelar a bomba com uma serra para vender o ferro-velho. Dois deles morreram no ato e o terceiro pouco depois enquanto era levado para o hospital, segundo a Polícia.
Desde o final da guerra em 1975, por culpa das bombas abandonadas morreram cerca de 40 mil vietnamitas, uma terceira parte deles sucateiros que procuram e desativam bombas para vender o metal. Cerca de 15 milhões de toneladas de bombas foram jogadas durante a guerra, das quais, 10% falharam ao detonar, segundo a organização Renew, dedicada à desativação de explosivos.
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