No ano em que se comemora o centenário de nascimento do abolicionista Joaquim Nabuco, o Correio Braziliense vai contar a história de negros brasilienses, homens e mulheres, adolescentes e adultos, moradores de áreas nobres e de cidades-satélites. Relatos em primeira pessoa de quem experimenta o preconceito, as dúvidas, as angústias, os medos, a raiva, as conquistas, a dor e a delícia de ter a identidade negra.
A capital do país é mais negra do que se dá conta. A diferença entre os de pele parda ou preta e os de pele branca é de 36,8%. Em números absolutos: dos 2,4 milhões de moradores do Distrito Federal, 1,3 milhão são negros e 1 milhão são brancos, segundo dados da PNAD/2007, tabulados pelo Laeser/UFRJ. Mesmo quando se leva em conta os moradores da capital do país que se declaram pretos (179,936), os pardos ainda são flagrante maioria, 1.210.500, 17% a mais que os brancos.A distribuição espacial de brancos e negros no Distrito Federal é segregadora. Ao branco está reservado o Plano Piloto e os lagos Sul e Norte e ao negro, as cidades-satélites.
Quanto menor a renda, maior o número de habitantes de pele parda ou preta, segundo revelam dados da Codeplan. São números antigos, de 2004, que estão sendo atualizados desde 1º de setembro passado, quando 40 pesquisadores começaram a visitar 24 mil moradias de 30 regiões administrativas. Entre as perguntas que estão sendo feitas aos chefes de família entrevistados, está a de cor. São cinco as opções oferecidas: branco, pardo/mulato, negro, indígena, amarelo ou não definido. Até que se conclua, em oito meses, a nova PDAD, a pesquisa domiciliar de Brasília, o que se tem são esses dados de seis anos atrás que demonstram que a segregação espacial da capital do país é também uma segregação de raça.

Morador eventual de Brasília há dois anos, o ministro da Igualdade Racial, Eloi Ferreira de Araújo, já se deu conta dessa segregação. "Nos ambientes que frequento percebo uma invisibilidade muito grande da população negra. Fui recentemente numa escola de Ceilândia e vi um montão de negros. Mas no Plano Piloto, eles são invisíveis". Ele mesmo já foi vítima do preconceito racial na capital do país. "Há pouco tempo, eu estava com o meu terno mais bonito [risos], parado perto de um palco onde estava acontecendo um evento. Estava parado pensando se subiria no palco ou não, quando uma senhora se aproximou de mim e me perguntou, bem baixinho, carinhosamente, se eu não podia dar um jeitinho de colocar um deputado no palco. ‘Senhora, eu também não sei como subir’. Ela ficou desconcertada. Olhei em volta e vi vários homens de terno, mas ela decidiu pedir ajuda ao negão aqui. Acho que eu era um segurança.’
O Plano Piloto tinha, há seis anos, 70 mil chefes de família, dos quais 70% eram brancos, 19% eram pardos/mulatos e 6,3% eram pretos. No Lago Sul e Lago Norte, o percentual era de 80% de branco para 20% de preto, pardo, amarelo e indígena. No Itapoã, a proporção se inverte: 64% dos chefes de família são pardos/mulatos; 8% são pretos e 15% são brancos. No Recanto das Emas, os números também viram do avesso em relação às áreas nobres da cidade: dos 24 mil chefes de família entrevistados, 66% se declararam pardos/mulatos, 7%, pretos e 25% brancos.
À medida que diminui a renda média per capita dos moradores, aumenta a proporção de pardos/mulatos e pretos e diminui a de brancos. É preciso observar que a pesquisa por amostra de domicílio do GDF oferece as opções: pardo/mulato, preto, amarelo e indígena. A metodologia brasiliense optou por acrescer a opção mulata à categoria parda. A do governo federal opta pelo clássico: branco, pardo, preto, amarelo e indígena. Para conferir o número de brancos e negros nas regiões administrativas, acesse XXXXX
Preto como a Nigéria

Estimativas que devem se comprovar com a tabulação do Censo 2010 indicam que o Brasil já é mais negro (preto + pardo) que branco. Tabulações feitas pelo Laeser/UFRJ a partir de dados do PNAD/2007, revelaindicam que são 93,7 milhões os brasileiros de pele clara e 94,4 milhões os de pele escura ou cor de canela, ou moreno-jambo ou negrota ou cabocla ou cabo verde ou bugrezinha escura. diferença numérica entre brancos e negros é bem pequena, de 0,7%, mas pode aumentar. Desde 2008, que o IPEA já trabalha com a perspectiva de que os negros são maioria no país. A expectativa agora é de que, divulgados os dados do censo, se constate que essa hegemonia é absoluta, ou seja que pretos e pardos, juntos, compõem mais de 50% da população brasileira, ou seja, mais que a soma de brancos, índios e amarelos.
O consenso nos meios acadêmicos, governamental e ativista de que negro é igual a preto + pardo deve-se a uma constatação. "Já se comprovou, do ponto de vista estatístico, que as populações pretas e pardas têm características muito parecidas em indicadores de renda, de educação, saúde, saneamento básico, nível de emprego. É um grupo homogêneo", explica Mário Theodoro, diretor de cooperação e desenvolvimento do Ipea.. O que significa dizer que ter a pele um pouco mais clara, amorenada, cor de café, corada, bronze ou pouco-clara não abre caminho no mundo mais bem servido dos brancos.

Vista no mapa, a tonalidade da pele brasileira se distribui geograficamente de modo concentrado: o Sul, o Sudeste e parte do Centro-Oeste é branco, com a exceção de nichos de negritude, no Rio, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. O Norte e o Nordeste e parte do Centro-Oeste é negro (preto + pardo). É o que demonstra o mapa da distribuição espacial da população segundo cor ou raça, pretos e pardos, feito em 2000 pelo IBGE em convênio com a Seppir. O Distrito Federal está incrustrado numa região de razoável concentração de população negra. Há uma explicação histórica: as minas de ouro de Goiás trouxeram para o Estado, entre os séculos 17 e 18, considerável leva de escravos. O historiador goiano Gelmires Reis (1893/1979) escreveu num de seus 28 livros sobre a história de Luziânia que, em 1763, havia 13 mil escravos no município, para uma população de 16 mil habitantes. Tanto assim que a população negra goiana é 45% maior que a branca.
GLOSSÁRIO
IBGE — Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPEA — Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LAESER — Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro
PDAD — Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio
PNAD — Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
PNUD —Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoIPEA —- Instituto Brasileiro de Economia Aplicada
Livro onde consta o texto de Marcelo Paixão -- Derechos de La población afrodescendiente de América Latina: desafios para su implentación
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2 comentários:
Qual o nome do grupo de teatro que encenou??
NA FOTO ACIMA EU COMIA AS PRETAS E COLOCAVA OS PRETOS NO TRONCO KKKKKKKKKKK
------------SANTA CATARINA
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