Documentário conta a história dos rappers Dexter e Afro-X e o seu 509-E
Janaína Cunha Melo - EM Cultura
Entre a luz e a sombra poderia ser apenas a história de uma mulher que se envolve com um projeto social que muda sua trajetória, mas o filme da cineasta mineira Luciana Burlamaqui vai além. Descreve o surgimento e a ruptura de um dos grupos de rap mais admirados do hip hop nacional, o 509-E, revela a complexidade dos dilemas enfrentados pelos rapper Afro-X e Dexter, ao longo dessa investida, e, sobretudo, enfrenta o desafio de problematizar o difícil diálogo entre o centro e a periferia social, sem juízo de valor. Durante sete anos, a curiosidade da diretora a levou a lugares inóspitos, do Carandiru à intimidade de um casal, e deu forma ao documentário, que estreia em circuito comercial neste fim de semana em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, depois de ter representado o Brasil em várias mostras internacionais no país e no exterior. Veja mais fotos de Entre a luz e a sombra Afro-X e Dexter se conheceram na infância. Foram amigos numa favela de São Paulo. Por coincidência, voltaram a se encontrar num dos maiores presídios da América Latina, no início dos anos de 1990. Afro-X cumpriu pena por assalto à mão armada e estelionato. Dexter foi condenado por homicídio, assalto à mão armada, e continua em regime fechado. Na cadeia, o reencontro deu origem a letras de rap que repassam a história de ambos, que começaram a ganhar visibilidade depois de eles terem sido revelados no projeto Talentos aprisionados. Com essa iniciativa, Sophia, que já trabalhava com populações carcerárias como voluntária em oficinas de teatro, queria demonstrar as possibilidades de reintegração social de um detento, e possibilitar que as penas fossem cumpridas com mais humanidade. Confira os horários e onde está passando Entre a luz e a sombra De idealizadora do projeto a mulher de Dexter, a atriz tornou-se empresária, transformou seu apartamento, onde morava com os dois filhos do primeiro casamento, em escritório e coordenou a agenda dos dois rappers. Convenceu um juiz da importância do investimento e conseguiu sucessivas liberações para que os artistas fossem liberados do Carandiru para apresentações em festivais como o Hutuz, no Rio de Janeiro, em que foram premiados como grupo revelação. Dexter e Afro-X também realizaram inúmeras palestras em centros de internação de adolescentes em conflito com a lei. O trabalho repercutiu nacionalmente, e o 509-E teve músicas cantadas como hinos por multidões de jovens de periferia reunidos em festas, shows, eventos beneficentes. O CD de estreia da dupla foi lançado em várias capitais, incluindo Belo Horizonte, com apoio de rádios comunitárias e educativas, e de lideranças do hip hop como Mano Brown e KL-Jay, dos Racionais MCs, entre outros. Mas nem tudo foi êxito nessa empreitada, até que Sophia conclui que o trabalho social tem recompensas e frustrações, e não depende apenas de boa vontade. Como folha solta ao vento, como ela se descreve, muito pouco é possível, apesar de o 509-E ter deixado legado importante e ainda hoje repercutir na cena. Atenta para o tamanho da responsabilidade a que se dispôs, a jovem diretora e jornalista mineirairara Luciana Burlamaqui, que tem outras experiências no campo social, deu um salto à frente e registrou com agudeza de percepção os dilemas de uma geração. A má distribuição de renda não é o único, nem o mais difícil problema, a ser enfrentado pela juventude de periferia. |
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