Mauricio Stycer
Os sinais já estavam no ar, mas se intensificaram nas últimas semanas. O Racionais MC’s, mais importante e respeitado grupo de hip hop brasileiro, prepara-se para lançar um novo CD no qual deixa de lado, em algumas músicas, a temática de cunho social e a agressividade nas letras que sempre caracterizaram o grupo.
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Líder do Racionais MC's, Mano Brown deve estampar capa da revista Rolling Stone |
Além de canções sobre a “vida loka” dos jovens da periferia envolvidos com a miséria e o crime, celebrizadas em CDs como “Sobrevivendo no Inferno” e “1000 Trutas 1000 Tretas”, o grupo agora volta-se também para outros interesses e parceiros.
O sinal mais evidente desta guinada “pop” já circula no You Tube. Chama-se “Mulher Elétrica”. Bem-humorada, a letra da música contém trechos assim: “Ela é preta na cor loira no cabelo, ela é uma hora e meia em frente ao espelho. Ela é... Ela é Naomi, Ela é Clara, é Nunes, é Donna Summer, Rosa, é Sônia, Ela é Tereza, Ela é Ana, Ela é Glória, Ela é bem Brasil, me engana que eu gosto ela tem tristeza balança o swing rara beleza, Ela é...Onde vai...? Mulher Elétrica Mulher Elétrica 3000 volts”.
Como tudo que diz respeito a Mano Brown e os demais músicos do grupo, há muito segredo envolvido em seus novos movimentos. Uma das novidades – talvez a que venha causar mais surpresa para os fãs – é o rumor que Mano Brown estará na capa da revista “Rolling Stone”, cuja próxima edição chega às bancas no dia 10 de dezembro.
O editor-chefe da revista, Ricardo Cruz, diz não poder confirmar a informação, mas o Último Segundo ouviu de pessoas próximas aos Racionais que está tudo certo –as fotos, inclusive, já foram feitas.
Desde que surgiu à frente dos Racionais, no início dos anos 90, Mano Brown mantém o compromisso de não falar com a chamada grande imprensa. Oriundo do Capão Redondo, na zona Sul de São Paulo, o músico deu raras entrevistas nestes últimos 15 anos, normalmente apenas para veículos alternativos.
Outra novidade sobre Brown é a sua aproximação com a Banda Black Rio. O famoso grupo de funk e soul music, surgido na década de 70, retomou suas atividades no final dos anos 90, liderado por William Magalhães, filho do fundador da banda, Oberdan Magalhães.
Na última sexta-feira 20, Dia da Consciência Negra, Brown cantou quatro músicas no show que a Black Rio fez na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, dentro das atividades do Seminário Internacional da Cultura Digital, um evento destinado a discutir políticas públicas para a área da comunicação.
Acompanhado do rapper Dom Pixote, Brown cantou “O Jogo é Hoje”, música feita por encomenda para a Nike e utilizada na trilha da promoção “Batalha das Quadras”. Originalmente um campeonato de futsal para jovens, no Rio e em São Paulo, realizado em 2008, “Batalha nas Quadras” gerou um CD promocional, produzido pelo músico Ice Blue, dos Racionais, com a presença de vários jovens artistas do hip hop.
A primeira faixa, que dá nome ao disco, intitula-se justamente “O Jogo é Hoje”, e é uma parceria entre Brown (que assina “MB”) e Pixote. A música fala da ansiedade antes de uma partida de futebol, e é outro sinal de mudança de foco das preocupações de Brown e seus colegas dos Racionais.
Chamado de “presidente” por William Magalhães, Brown vestia uma vistosa camisa pólo da Nike, com o logo da empresa estampado no peito – modelo idêntico ao que Pixote usava. Estava bem-humorado, à vontade e simpático – outra novidade para quem já viu algum show dos Racionais.
O Último Segundo ouviu de fontes ligadas à promoção do show que a Nike teria interesse em adquirir os direitos de “O Jogo é Hoje” para utilizá-la em outras campanhas da marca, mas a empresa nega. A Nike “adoraria”, nas palavras de um executivo, ter relações com Mano Brown, “assim como com Gisele Bundchen” e outros formadores de opinião deste quilate.
Em 2007, durante entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, Mano Brown travou um curioso diálogo com Ricardo Cruz, o editor da revista “Rolling Stone”, na qual reconhece que, para ele mesmo e para seus fãs, soa estranho utilizar roupas e tênis do fabricante americano.
Pergunta: Você conseguiu, Brown, fazer uma revolução interna no seu jeito de ser, de pensar? Você conseguiu lutar contra os seus, suas próprias contradições, seus próprios medos? Você consegue isso hoje?
Resposta: Na verdade, as contradições só acabam quando morre, né? Tipo, eu era um cara, hoje eu estou de Nike no pé, mas eu já xinguei a Nike muito por aí. Entendeu? Mas eu descobri também que a Adidas não me dá nada se ficar falando mal da Nike. Eu derrubo um e levanto a outra. A Adidas é dos alemães, não são nada. Estou de Nike, o KL Jay não usa Nike, vai ver o Nike que o Blue tá no pé? Entendeu? É contradição, Racionais é isso, é quatro caras, quatro mentes, quatro idéias, entendeu, meu? Eu sou o mais confuso dos quatro sou eu mesmo.
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