Hoje é dia do espelho negro


Odair Rodrigues *

Entre as várias violências sofridas por nós, afrodescendentes brasileiros, está o apagamento de nossas identidades. É assim mesmo no plural; identidades porque são muitas nossas origens.

Nos olhar como únicos, sem diversidade, é destruir nossas múltiplas sabedorias experiências e lutas, uniformizar um único preconceito com consequências arrasadoras nesse mais de quinhentos anos de história desse, também, nosso país.

Apesar de algum avanço na mídia, ainda muito restrita a exposição diversificada de uma etnia que é quase metade de um país de proporções continentais. A imagem dos negros continua sendo majoritariamente associada à marginalidade, futebol e samba.

Padrões da elite branca

Mesmo com o aumento da presença de afrodescendentes na teledramaturgia da emissora mais vista por brasileiros, nossa exposição se dá de forma distorcida. As personagens, quando elevadas socialmente, repetem padrões de uma elite branca, quando de classe baixa, repetem estereótipos depreciativos.

É o caso da personagem de Taís Araújo, a Helena, e seu oposto, a irmã Sandra, interpretada por Aparecida Petrowky; a primeira, bem sucedida é aceita nos círculos do “núcleo rico” sem restrições em uma sociedade que sabemos, inventada. A irmã pobre é a desajustada, constantemente relacionada a crimes e criminosos.

Um espelho negro

Afirmar que nada mudou, no entanto, seria um equívoco. Mas fica evidente a tentativa de criar um novo mito da democracia racial, desta vez pasteurizando uma imagem de negritude moldável ao gosto de uma mídia assumidamente direitista e refratária à experiências populares.

Desde a criminalização da escravatura que se tenta desaparecer com toda história dos negros no país. Falamos aqui das contribuições intelectual e econômica, essas fundamentais em todas as fases da construção da nossa unidade quanto povo.

As atrocidades cometidas contra os afrodescendentes, no passado, são sempre lembradas, porém quase não há citação das grandes personalidades negras na mídia, e mais importante, na escola.

Com a lei nº10.639 / 03 o esforço de educadores abnegados e alguns governos progressistas, as escolas começam a ajudar na construção da imagem de uma negritude diferente da editada pela ex-grande mídia.

Hoje, 20 de novembro, é dia do espelho negro. Somos Zumbi, João Cândido, Luiza Mahin, Osvaldão do Araguaia, Zezé Mota, Grande Otelo, Irmãos Rebouças, Machado de Assis...


* É professor de língua e literatura no Estado do Paraná, web cronista, poeta, e militante da Unegro e do PCdoB. Autor do blog Ruminemos: http://ruminemos.blogspot.com

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