As mulheres do hip-hop

Por Priscilla Vierros 

As mulheres não estão fora deste cenário de luta e conscientização que é o hip-hop. Há MC’s, DJ’s, B’girls e grafiteiras discutindo assuntos que vão além de questões sociais e refletiam o papel da mulher na sociedade.


Quando Sharyline Sil, 42, começou, em 1986, o hip-hop ainda era algo novo aqui no Brasil. Seu primeiro contato foi através da Gang Nação Zulu, uma das primeiras a surgir em São Paulo.
Sharyline Sil, Malu Vianna e Edd Weller, fundadoras da Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop
“Eu e minha prima resolvemos cantar a música de um amigo meu, o Marrom. Subíamos no palco, mas não era confortável, porque ele escrevia como homem, tinha muitas coisas nas letras que nos deixava incomodadas, foi quando decidi compor falando como mulher”, lembra.
Rubia Fraga, 42, integrante do grupo RPW, diz que o início das mulheres no hip-hop foi difícil. “Comecei em 1989, tínhamos toda aquela questão machista do homem ter mais liberdade, fazer tudo o que quisesse e a mulher ser mais presa dentro de casa. Então, mulher cantando rap era uma afronta”, comenta.
Hoje, ainda é difícil que mulheres consigam se manter no hip-hop. Depois de passar por todos os obstáculos "normais", muitas vezes elas encontram um mercado fechado, que as vê como uma peça dentro de um contexto grande, diferente do que acontece com os homens.

Rubia Fraga, integrante do grupo RPW
“Se fizermos uma conta e existir 15 bandas femininas que gravaram seus discos solos é muito, enquanto os grupos de homens existem às centenas. Por isso a gente sente uma necessidade de fortalecimento entre nós mulheres, para conseguirmos produzir e por na rua. Para que sejamos inseridas no cenário e isso seja algo contínuo”, afirma Sharyline.
Muitas vezes as mulheres são inseridas apenas como backing vocal, um pano de fundo da banda e elas não querem só isso. Querem rimar com igualdade.
O grupo Minas da Rima surgiu para responder a essa realidade. Por meio de seus encontros para trocar ideias e experiência, suas integrantes conseguem fazer a publicidade da produção de cada uma, fortalecendo umas às outras.
O FNMH - Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop também nasceu com o mesmo objetivo. Para a vice-presidente da FNMH, Malu Vianna, é a união feminina que vai garantir seu espaço no hip-hop.“È muito importante as pessoas verem a proposta e acreditarem que este é o caminho. Um hip-hop politizado, cultural, social, porque essa é a base do nosso trabalho”, diz.
Ser mãe, mulher e MC
Fora produção e divulgação também existe outro ponto que não pode ser esquecido, como comenta Sharyline. “Enquanto o homem vai para o estúdio fazer a gravação, tem uma mulher trabalhando por ele, alguém tornando possível que ele siga seus objetivos. Com a mulher acontece o contrário porque ela é mãe, filha, companheira e precisa separar um tempo de tudo isto, para poder correr atrás de um sonho”, diz.
Jaqueline Pereira de Oliveira, integrante do grupo de rap Tarja Preta

“Fui mãe solteira aos 19 anos e é difícil ser mãe e MC, porque moro sozinha e muitas vezes não tenho com quem deixar meu filho para ir aos encontros e fazer shows, e eu também preciso trabalhar para sustentá-lo”, relata Jaqueline Pereira de Oliveira, 25, integrante do grupo Tarja Preta.
O que todas estas mulheres têm em comum é o amor pelo rap e a fé que o mundo pode se tornar melhor por meio da educação e cultura que conseguem disseminar com ele. E trabalhar com o que se acredita é fundamental para que o movimento tenha cada vez mais representantes femininas, como Vivian Miwa Kozuma, 25, B.Girl desde os 13 anos .
“Quem está começando não pode desistir de seu sonho, não é só pensar no financeiro, é pensar no coração também. Hoje, consigo trabalhar e viver só do hip-hop, viajo o mundo para dar workshops e fazer eventos de dança. Mas é a experiência que me trouxe isso, tudo é o fruto do meu trabalho.”
Vivian Miwa Kozuma, B.Girl desde os 13 anos
Priscilla Vierros, 27, é correspondente comunitária de Guaianazes.@privierros
priscillavierros.mural@gmail.com

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