Óxi: ameaça oculta


Polícia no Estado pode ter apreendido a droga, mas ainda não tem condições de identificar


A Gazeta


foto: Arquivo
Dependente químico consumindo droga
Risco extremo. Além de ter uma quantidade bem maior de cocaína, o óxi é formado por substâncias extremamente tóxicas, responsáveis por aproximar ainda mais o usuário da morte


Frederico Goulart

fgoulart@redegazeta.com.br

À pasta base de cocaína soma-se certa quantidade de querosene e algum punhado de cal. Com ingredientes baratos e acessíveis, essa mistura destruidora é responsável pelo surgimento do óxi, droga que neste ano deixou os limites da Região Norte do país - onde está sua porta de entrada no Brasil - para fazer vítimas em outros Estados, inclusive no Espírito Santo.

Crack x Óxi

Embora não haja apreensão confirmada no Estado, sua presença por aqui é certa entre especialistas. No entanto, a dificuldade de diferenciá-la do crack, com o qual a similaridade termina na aparência, já que os efeitos são ainda mais destruidores, ainda fazem com que sua ação permaneça oculta.

O exemplo vem do distrito de Pequiá, em Iúna, na Região do Caparaó. Lá, há menos de uma semana, a Polícia Militar encontrou 200 gramas de uma substância semelhante à nova droga, mas que ainda segue à espera de confirmação.

Diferenciação

Custo

R$ 0,50 o trago
- Esse é o valor estimado do preço do trago em um cigarro feito com óxi na Cracolândia, em São Paulo, onde o primeiro registro da presença da droga aconteceu no início deste ano. O Rio de Janeiro ainda aguarda resultado de perícia técnica para confirmar a presença da droga.

Um dos que confirmam a possibilidade de o Estado ter virado palco para a disseminação do óxi é o responsável pela Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (Deten), Diego Yamashita. "É possível que já tenhamos feito apreensões. O problema é que o exame pericial só esclarece seu princípio ativo, a cocaína, e não os demais componentes", diz. Assim, a única forma de diferenciação acabam sendo as características físicas. Tarefa difícil, pois são drogas semelhantes.

O problema, prossegue Yamashita, faz com que o óxi que já pode ter sido apreendido aqui, tenha sido qualificado como crack de baixa qualidade. "O foco não é o que é acrescentado à mistura, mas sim a cocaína. Por isso, não é preciso reforço para acompanhar esse avanço. O traficante é o mesmo do crack, e o efeito é tão devastador quanto", minimiza.

Pesquisa

30% de mortes -
Esse foi o número de mortes registradas durante o período de um ano em que cem usuários de óxi do Acre - porta de entrada da droga - foram acompanhados. Os dados são do Departamento Estadual de Investigações Sobre Narcóticos (Denarc) de São Paulo.

Efeito devastador

Especialistas, no entanto, discordam. Além de ter uma quantidade bem maior de cocaína, a nova droga é formada por substâncias extremamente tóxicas, responsáveis por aproximar ainda mais o usuário da morte.

O médico psiquiatra e especialista em dependência química, João Chequer Bou-Habib, lembra que nas últimas duas semanas deram início a tratamento em seu consultório três pacientes com características claras de dependência de óxi. "Diferente dos outros, eles apresentam sintomas como tosse, náuseas, vômitos, irritação nos olhos, engasgo".

Essas características são fruto da combinação da querosene com o cal. No crack, as substâncias misturadas - bicarbonato de sódio e amoníaco - são menos agressivas.

"A queima dessas substâncias pode provocar irritação nos olhos, cegueira, fibrose pulmonar grave, insuficiência respiratória e hepática e câncer no fígado", lembra.

O psicanalista e também especialista em dependência química Francisco Veloso é outro que também começou a lidar com esse tipo de usuário em seu trabalho diário. "São dois pacientes. O relato é muito comum entre eles: o pavor que o calor - causado pela queima do querosene - emite", diz.

Veloso alerta que em menos de um ano a droga pode levar o dependente à morte, pois suas substâncias contribuem para a falência renal e deixam o pulmão comprometido.





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