O Brasil que se vê nas telas


100511_TropaDeElite08RNW - 'Cidade de Deus', 'Carandiru', 'Ônibus 174' e 'Tropa de Elite' 1 e 2. Cinco filmes que foram produzidos a partir de 2002, e que ganharam reconhecimento internacional em diferentes proporções. Em comum, as cinco produções têm o tema: a violência e a vida nas favelas brasileiras.


'Tropa de Elite' 1 e 2, os mais recentes sucessos do gênero, serão exibidos na próxima semana em Utrecht, na Holanda, como parte da programação do LAFF, o Festival de Cinema Latino Americano. Além dos filmes de José Padilha, o festival ainda apresenta os brasileiros 'As melhores coisas do mundo', 'Sonhos roubados', 'Tempo de criança' e 'Estômago'. Os interessados por cinema brasileiro terão também a oportunidade de participar de duas masterclasses que irão discutir temas do Brasil contemporâneo.

O holandês Kees Koonings, professor das Universidades de Utrecht e Amsterdã, vai apresentar em uma destas masterclasses as mudanças políticas brasileiras, da ditadura militar à restauração da democracia, focando principalmente nos anos do governo Lula. O professor, especialista em América Latina, afirma que há um interesse cada vez maior pelo país. Antes exótico e distante, o Brasil é hoje visto como pólo econômico, político e diplomático.

Mudanças sociais e políticas

O maior interesse no Brasil também significa um maior interesse no cinema brasileiro. Segundo Kees Koonings, a produção nacional tem chamado atenção não pelo exotismo, mas por tratar criticamente a realidade brasileira e refletir as mudanças sociais e políticas que aconteceram nas últimas décadas.

"O cinema brasileiro tem produzido filmes muito importantes e interessantes não só dos pontos de vista artístico e estético, mas também por colocar temas sociais, econômicos e políticos na mesa. Um dos gêneros que conheço um pouco mais e que está sendo muito popular no mundo é a violência. Nos últimos dez anos houve uma sucessão de filmes sobre favela, polícia e crime que são muito realistas. Eles chamam a atenção por terem uma capacidade forte de autocrítica e de autoinspeção, e por não hesitarem em tratar de temas problemáticos que existem", afirma Koonings.

Preconceito

Questionado sobre qual imagem do Brasil é construída no exterior através destas produções, o professor afirma que apesar de ajudar a fortalecer preconceitos, estes filmes são realistas e retratam uma situação existente. No entanto, o que será produzido após a era Lula e depois da implementação das UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora, poderá ser bem diferente do que foi o cinema brasileiro da última década.

"No caso de 'Tropa de Elite 1', o preconceito que pode ser fortalecido é de que a polícia é totalmente corrupta e violenta, que na favela só tem quadrilha, e que as únicas pessoas que defendem os favelados são os estudantes da classe média alta que de forma ingênua cuidam dos direitos humanos e, ao mesmo tempo, traficam a cocaína nas faculdades. Em geral, eu acho que esses filmes passam uma ideia razoavelmente realista. Agora falta ver o tipo de cinema que será feito nos próximos anos, depois dos esforços de transformar a situação da violência nas favelas, se no futuro um elemento mais equilibrado entraria nos filmes sobre o tema", provoca.

A masterclass 'Políticas de esquerda de Lula e a democracia no Brasil', ministrada por Kees Koonings, acontece no dia 11 de maio e será seguida imediatamente pelo filme 'Tropa de Elite'. A programação completa do LAFF pode ser encontrada na página www.laff.nl


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