Saiba mais sobre a ‘Oxi’, a droga mais poderosa que o crack

FALANDO A VERDADE

As marcas deixadas pelo oxi nos corpos dos usuários são visíveis. Assim como as reações no comportamento — os dependentes permanecem sempre nervosos e agitados durante e após o consumo da droga —, os efeitos em órgãos vitais como rim, pulmão e fígado são considerados devastadores, revela reportagem de Carolina Benevides e Marcelo Remígio, publicada neste domingo pelo GLOBO. Os usuários de oxi, logo nos primeiros dias de consumo, apresentam problemas no aparelho digestivo e complicações renais. As dores de cabeça e as náuseas passam a ser constantes, diárias, e há crises crônicas de vômito e diarreia, um quadro comum enfrentado por quem faz uso da droga.


Grupo de usuários de oxi fazem uso da droga em Rio Branco, no Acre - Crédito: Regiclay Alves Saady / O GLOBO Os usuários também apresentam dificuldade para respirar, e a pele passa a ter uma cor amarelada. Em poucas semanas, o dependente perde muito peso e tem início um rápido processo de envelhecimento. A morte por complicações de saúde pode chegar em prazos inferiores a dois anos. As reações do oxi nos usuários são semelhantes às do crack. No entanto, em função de o efeito da droga passar mais rapidamente, a vontade de consumir novamente é imediata.

— O efeito do oxi é muito rápido, a droga chega ao cérebro em poucos segundos. Seu efeito também passa mais rápido, por isso a necessidade de consumir cada vez mais e mais. É uma reação avassaladora. Diferentemente do crack, o usuário ainda sente a necessidade forte de mesclar o oxi com outras drogas, principalmente a própria cocaína em pó e o álcool — explica a psicóloga Maria Stella Cordovil Casotti, que trabalha há 14 anos com a recuperação de usuários de drogas e atua hoje no estado do Acre.

Perito criminal da Polícia Federal em Rio Branco, Ronaldo Carneiro da Silva Júnior explica que a característica do oxi de viciar mais rápido que o crack e as demais drogas está em sua composição. Enquanto a cocaína em pó, que é inalada, possui cerca de 10% de substância cocaína, o crack possui 40%. Já o oxi supera ambas as drogas. A substância cocaína chega a 80%, apesar de a pureza da droga ser baixa, decorrente da mistura de derivados de petróleo, cal, permanganato de potássio e solução líquida usada em bateria de carro.

RIO BRANCO – As ruas de Rio Branco são hoje um retrato da degradação provocada por uma nova droga, mais letal do que o crack, que está se espalhando pelo Brasil: o oxi, um subproduto da cocaína. A droga chegou ao país pelo Acre. Na capital, ao redor do Rio Acre, perto de prédios públicos, no Centro da cidade, nas periferias e em bairros de classe média alta, viciados em oxi perambulam pelas ruas e afirmam: "Não tem bairro onde não se encontre a pedra".

O oxi, abreviação de oxidado, é uma mistura de base livre de cocaína, querosene – ou gasolina, diesel e até solução de bateria -, cal e permanganato de potássio. Como o crack, o oxi é uma pedra, só que branca, e é fumado num cachimbo. A diferença é que é mais barato e mata mais rápido.


A pedra tem 80% de cocaína, enquanto o crack não passa de 40%. O oxi veio da Bolívia e do Peru e entrou no país pelo Acre, a partir dos municípios de Brasiléia e Epitaciolândia. Hoje está em todos os estados da Região Norte, em Goiânia e em Mato Grosso do Sul, no Distrito Federal, em alguns estados do Nordeste e acaba de chegar a São Paulo. No Rio, os primeiros relatos de que a pedra pode ser encontrada na capital também já começaram a aparecer. Mas a polícia ainda não registrou apreensões.

Estado que faz fronteira com o Peru e a Bolívia – os maiores produtores de cocaína do mundo – e ainda próximo à Colômbia, o Acre há tempos virou rota do tráfico internacional. De uns anos para cá, a facilidade com que a base livre de cocaína cruza as fronteiras fez com que o oxi tomasse conta da capital e de pequenos municípios. A pedra age rápido: viciados dizem que não leva 20 segundos para sentir um "barato" e que em cinco minutos a pessoa já está com vontade de usar de novo. Fumado, geralmente em latas de bebida ou em cachimbos como os que servem para o crack, o oxi tem potencial para viciar logo na primeira vez e é uma droga barata: é vendida em média por R$ 5 e até R$ 2.

- Quando a Bolívia se tornou produtora, o preço caiu e a cocaína se difundiu no Acre. A realidade é que o oxi é barato, está espalhado por Rio Branco e tem potencial para se espalhar por todo o Brasil, já que a base livre de cocaína está em todos os estados do país e já foi apreendida em todos os lugares. O oxi não precisa de laboratório para ser produzido, e isso facilita a expansão – diz Maurício Moscardi, delegado da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Federal no Acre, que em 2010 apreendeu no estado quase 300 quilos de base livre de cocaína.

X., de 14 anos, encosta num poste para se segurar em pé. Tem um cachimbo preso ao elástico da bermuda, está descalço, sujo e mal consegue balbuciar algumas palavras. Duas horas depois, um pouco mais composto, aborda um casal de senhores e pede dinheiro. Ganha um pacote de biscoito, mas não o abre. Usa o produto como escambo para ter direito a um trago do que ele nem sabe mais o que é. X. já ouviu falar do oxi, mas acredita que está viciado em crack. Ele não sabe a diferença, assim como os mais de 400 viciados que perambulam dia e noite pelas ruas quase abandonadas da cracolândia de São Paulo, na região central da cidade, uma das áreas onde a nova e devastadora droga pode estar sendo consumida sem que os usuários tenham a menor consciência disso.


O maior indício de que a droga já está circulando em São Paulo é o preço com que as supostas pedras de crack estão sendo vendidas ali. Aos berros, os traficantes oferecem o "crack" por R$ 2. No mercado do tráfico, porém, sabe-se que o preço dessa pedra é "tabelado" em R$ 10. Em dias de promoção, numa estratégia para arregimentar novos viciados, o valor pode cair um pouco, e chega a R$ 8. Abaixo desse valor, o que está chegando nas mãos do viciado muito provavelmente é o oxi.

- Essa pedra que eles vendem por R$ 2 não é crack. Já estamos ouvindo sobre esse oxi há muito tempo. Como é mais barato, provavelmente é o que já está circulando por aqui. Só que essas pessoas estão num estágio em que não têm condições psicológicas de diferenciar nada – diz um comerciante que $na região há 11 anos.

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