Exclusiva com Emicida: da Cachoeira para a Califórnia


Por Indira Nascimento

“Os repórteres dizem que eu sou um fenômeno, eu amo! Mas as ruas sabem que sou só mais um mano...”

Fotos: JR Furlan

Leandro Roque Oliveira, 25, nasceu na Vila Zilda, zona norte de São Paulo, mas foi criado no bairro da Cachoeira. Ganhou fama nas disputadas batalhas de MCs São Paulo, onde permaneceu imbatível durante muito tempo. EMICIDA (que são as iniciais de “Enquanto Minha Imaginação Compor Insanidades Domino a Arte”), como ficou popularmente conhecido, já tem duas mixtapes gravadas e mais de 10 mil cópias vendidas.

O ano de 2010 foi sem dúvida um ano especial para o rapper. Além de ter lançado o segundo trabalho, fez shows por quase todo país, participou dos programas de entrevistas na TV, foi indicado a prêmios, gravou com NX Zero e se tornou pai da pequena Estela. O que já estava bom, parece que vai ficar ainda melhor.

Neste ano, Emicida foi convidado para participar do Coachella Festival programado para acontecer em abril na Califórnia. E é também presença garantida na próxima edição do Rock in Rio, em setembro, em Jacarepaguá.

Seu ar de “bom moço” conquista ainda mais os fãs, que lotam os shows cantando fielmente todas as músicas, verso a verso. Sua popularidade nas redes sociais também é espantosa. Seu primeiro vídeo clip, “Triunfo”, já tem mais de novecentas e cinqüenta mil visualizações no Youtube.

Emicida também ataca de repórter do programa “Manos e Minas”, da TV Cultura, e administra com seus parceiros sua própria empresa, a Laboratório Fantasma, de onde comandam toda sua “operação musical”.

Abaixo, trechos da entrevista com Emicida.

Leandro, você é um grande contador de histórias. Tanto na primeira como na segunda mixtape a gente consegue perceber isso. Quando você tomou consciência da sua missão, ou da sua responsabilidade em ser um contador de histórias?

Desde a escola eu tinha o hábito de desenhar, fazia histórias em quadrinhos fanzines, e comecei aprender a fazer roteiros. Acho que vem daí essa parada de contar histórias, de sempre ter um começo, meio e fim... Mas é sempre do meu jeito. Às vezes não é tão linear, às vezes não é tão didática, às vezes é confuso pra caramba. Gosto de encher de referências e tentar passar alguma sensação para as pessoas _as sensações são muito mais importantes que as informações. Acredito que é isso que mexe com as pessoas.

Os convites para participar do Coachella e do Rock in Rio foram uma surpresa?

Uma das coisas que deixam a gente mais feliz é isso mesmo, a reação de surpresa das pessoas, do tipo, “caramba, os caras tão nas paradas”...

Quem são as mentes pensantes do Laboratório Fantasma?

Então, agora trabalham aqui eu, Fióti, Mundico, Alex, Tiagão e Dj Niack. São seis cabeças aqui dentro todo dia. Isso aqui é nosso trampo! Eu acho até “da hora” poder falar disso por que as pessoas ficam escondidas atrás de “as coisas não dão certo, as coisas não são possíveis”... Mas não existe esse bagulho de sorte. Existe você trampar até fazer a coisa andar. Eu lembro quando eu falei para vários caras do rap: vou lançar a primeira mixtape, vou fazer na mão, 25 músicas pra vender a 2 reais... Ninguém acreditou. Fiz, lancei, passaram seis meses e eu nunca tinha visto tanto dinheiro na minha vida (risos)...

E hoje, a renda de vocês já vem toda da música?

É, a gente fez o CD, vendeu à beça, conseguimos abrir nossa empresa. A gente trabalha nela diariamente, a gente viaja, a gente toca, a gente gerencia tudo isso. Fióti vai comprar até um carro... (risos) O Tiagão fica aqui exclusivamente pra cuidar das questões contratuais, Mundiko e Alex também ajudam muito.

E essas são as pessoas que estão com você desde o começo?

Sim. Eu não preciso aqui dos melhores do marketing ou das vendas. Esses caras vão vir com uma cabeça que não se encaixa à minha realidade. Tudo que a gente tem feito aqui é para um mercado muito novo. Essas pessoas não conseguiriam compreender como é trabalhar na venda de CD de rap, diretamente para o público e potencializar isso de uma forma que traga as pessoas de fora para consumir também. Então, minha filosofia é pegar as pessoas pelo amor que elas têm por isso, e pela disposição que elas têm em trabalhar...

E a sua família, o que pensam de tudo isso?

Minha mãe vai aos lugares e as pessoas falam com ela, ela acha ótimo. No inicio ela até acreditava, mas não botava muita fé, por que meu pai era DJ e teve muitos problemas com bebida, ele morreu disso. Ela tinha medo de a gente seguir no mesmo caminho. E ela fala na maior simplicidade “ agora vocês vão pra Califórnia, né?”... Como se fosse pra Praia Grande...

Como está a expectativa de tocar no Coachella?

Tocar num festival grande lá fora é demais! Vários nomes grandes e a gente indo tocar com os caras. Tocar fora do Brasil é começar do zero, né? E ainda tem o adicional que eles não entendem uma palavra do que a gente canta, então...

E quais os planos pro resto do ano?

Filmar mais vídeos, o clip da rua Augusta foi uma experiência inacreditável! A gente gosta muito de fazer clip, embora seja muito caro e dê muito trabalho. Quero gravar também mais dois discos, um com Macaco Bong, que já está confirmado, e outro sozinho. Quero estudar mais também esse ano, fazer conservatório.


Mais informações:

www.laboratoriofantasma.com

Twitter @Emicida

Indira Nascimento, 22, é correspondente comunitária da Casa Verde.
@SantosIndira
indira.mural@gmail.com

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