Eles
encenaram o cativeiro e a libertação dos escravos com celebrações e
manifestações folclóricas-religiosas
Descalços
e sem camisa, os homens manejam enxadas, foices e facões. As mulheres carregam
na cabeça cestos com frutas. Mais tarde, deitados no chão da senzala, os
escravos ouvem a novidade que um deles canta: “‘Tava dormindo, sinhainha me
chamou: ‘Acorda, negro! Cativeiro já acabou’”. É quando todos se levantam,
jogam para o alto os grãos de milho e feijão, batem os tambores e gritam:
“Viva!”
A encenação ocorreu na manhã de ontem na Festa da Abolição realizada pela tradicional Comunidade Negra dos Arturos, em Contagem, na Grande BH. Iniciada sábado, a festa marcou o 124° aniversário da Lei Áurea, que declarou extinta a escravidão no Brasil e foi assinada pela princesa Izabel em 13 de maio de 1888.
“A libertação do escravo não foi um favor, foi uma conquista penosa. Queremos lembrar a luta e a resistência do negro no país”, explicou Marcos Eustáquio dos Santos, de 39 anos, técnico em manutenção de eletrodomésticos e presidente da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Contagem. Essa é a denominação oficial da Comunidade dos Arturos, que ocupa 11,5 hectares do Bairro Jardim Vera Cruz. Todos parentes, os 429 moradores se chamam arturos em homenagem ao antepassado Arthur Camilo Silvério, herdeiro do terreno dos pais, ex-escravos.
A encenação ocorreu na manhã de ontem na Festa da Abolição realizada pela tradicional Comunidade Negra dos Arturos, em Contagem, na Grande BH. Iniciada sábado, a festa marcou o 124° aniversário da Lei Áurea, que declarou extinta a escravidão no Brasil e foi assinada pela princesa Izabel em 13 de maio de 1888.
“A libertação do escravo não foi um favor, foi uma conquista penosa. Queremos lembrar a luta e a resistência do negro no país”, explicou Marcos Eustáquio dos Santos, de 39 anos, técnico em manutenção de eletrodomésticos e presidente da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Contagem. Essa é a denominação oficial da Comunidade dos Arturos, que ocupa 11,5 hectares do Bairro Jardim Vera Cruz. Todos parentes, os 429 moradores se chamam arturos em homenagem ao antepassado Arthur Camilo Silvério, herdeiro do terreno dos pais, ex-escravos.
Na Festa
da Abolição, a comunidade exibe algumas das tradições que vem sendo preservadas
há gerações. Na noite de sábado, a programação começou com um cortejo de
guardas até a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Na congada, folguedo
que mistura elementos da religião católica a alguns de matriz africana, a
guarda é um reinado fictício, formado por reis, rainhas e suas cortes.
LIBERDADE
Por volta das 9h de ontem, as duas guardas dos Arturos voltaram a andar até a matriz. O trajeto foi animado por danças e cantos, acompanhados por tambores e chocalhos. Por outro caminho, também chegavam à igreja as guardas convidadas, algumas de Contagem e outras vindas de cidades como Brumadinho, Ouro Preto e Prudente de Moraes.
Na entrada do pátio da Matriz, os grupos reverenciavam dois mastros. No topo de um deles, a bandeira tinha a inscrição “Liberdade — 13 de maio” em um lado e, no outro, a imagem da princesa Izabel. Em seguida, surgiu um grupo de escravos. “No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia, eu gritava para Nossa Senhora — ai, meu Deus! As pancada em mim não doía”, cantou uma das escravas, a voz chorosa. Depois de outros cantos de lamento, uma princesa Izabel de mentirinha leu a Lei Imperial 3.353, a Lei Áurea.
Após festejar a boa nova, os escravos pararam diante da porta fechada da Matriz. “No tempo do cativeiro, era branco que mandava. Quando branco ia à missa, negro cá fora ficava”, canta um dos integrantes das guardas. Outro pede, também cantando: “Senhor padre, abra a porta, porque negro quer entrar. Quero ouvir a santa missa que o santo padre vai celebrar”.
MISSA CONGA
As portas se abriram e a igreja ficou lotada durante a Missa Conga. “Essa celebração é um grande grito de liberdade. Somos descendentes dessa cultura e precisamos acolhê-la”, disse o padre Antônio Gouveia. Concluída a cerimônia, todas as guardas seguiram para os Arturos. A programação prosseguiu até a noite, com celebrações e outra procissão.
No público que acompanhavam a festa, havia uma turma de graduandos de pedagogia da Universidade Federal Fluminense, do Rio de Janeiro. “Ouvimos muito falar nessa festa e viemos conhecer. Para compreender o que somos hoje, precisamos estudar a influência da cultura negra em nosso país”, contou o estudante Carlos de Aguiar, de 29 anos.
LIBERDADE
Por volta das 9h de ontem, as duas guardas dos Arturos voltaram a andar até a matriz. O trajeto foi animado por danças e cantos, acompanhados por tambores e chocalhos. Por outro caminho, também chegavam à igreja as guardas convidadas, algumas de Contagem e outras vindas de cidades como Brumadinho, Ouro Preto e Prudente de Moraes.
Na entrada do pátio da Matriz, os grupos reverenciavam dois mastros. No topo de um deles, a bandeira tinha a inscrição “Liberdade — 13 de maio” em um lado e, no outro, a imagem da princesa Izabel. Em seguida, surgiu um grupo de escravos. “No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia, eu gritava para Nossa Senhora — ai, meu Deus! As pancada em mim não doía”, cantou uma das escravas, a voz chorosa. Depois de outros cantos de lamento, uma princesa Izabel de mentirinha leu a Lei Imperial 3.353, a Lei Áurea.
Após festejar a boa nova, os escravos pararam diante da porta fechada da Matriz. “No tempo do cativeiro, era branco que mandava. Quando branco ia à missa, negro cá fora ficava”, canta um dos integrantes das guardas. Outro pede, também cantando: “Senhor padre, abra a porta, porque negro quer entrar. Quero ouvir a santa missa que o santo padre vai celebrar”.
MISSA CONGA
As portas se abriram e a igreja ficou lotada durante a Missa Conga. “Essa celebração é um grande grito de liberdade. Somos descendentes dessa cultura e precisamos acolhê-la”, disse o padre Antônio Gouveia. Concluída a cerimônia, todas as guardas seguiram para os Arturos. A programação prosseguiu até a noite, com celebrações e outra procissão.
No público que acompanhavam a festa, havia uma turma de graduandos de pedagogia da Universidade Federal Fluminense, do Rio de Janeiro. “Ouvimos muito falar nessa festa e viemos conhecer. Para compreender o que somos hoje, precisamos estudar a influência da cultura negra em nosso país”, contou o estudante Carlos de Aguiar, de 29 anos.
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