Alguma vez você já ficou irritado
com a carroça de um catador de material reciclável parada à sua frente no
trânsito? Ficou nervoso, buzinou e fez xingamentos ao cidadão que empurrava o
veículo sob sol forte ou chuva? Se você já agiu assim alguma vez, já passou da
hora de rever seus conceitos. Na pressa do trânsito, as pessoas não param para
observar e constatar que os catadores são verdadeiros agentes ambientais, que
executam trabalho pesado diariamente em troca da subsistência. Eles são
responsáveis pela coleta de 90% dos resíduos destinados à reciclagem, de acordo
com dados do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).
O grafiteiro Thiago Mundano teve essa visão há cinco anos, quando começou a
conviver com a dura realidade desses destemidos trabalhadores.
CONTATO
Mundano presenteia a cidade de
São Paulo com seu grafite há alguns anos, mas foi em 2007 que ele acordou para
o problema dos catadores de material reciclável. Para fazer sua arte nas
colunas de viadutos e pontes da capital paulista, ele percebeu que em vez de
solicitar autorização para a prefeitura precisava na verdade pedir licença aos
catadores, muitos deles moradores de rua, que faziam daqueles espaços seus
locais de trabalho ou as próprias moradias. Na base da camaradagem, Mundano
conseguiu se aproximar dos trabalhadores, ofereceu para pintar as carroças
deles, inserindo nos desenhos frases de cunho político-social ou de humor. Com
isso, ele ouvia diferentes histórias e percebeu que aquelas pessoas tinham uma
visão totalmente diferenciada da cidade, apesar de serem invisíveis à
sociedade.
PIT STOP
O grafiteiro percebeu que os
catadores são agentes ambientais, porém não são reconhecidos por isso. Depois
de pintar 159 carroças desses profissionais pelo mundo, Mundano resolveu fazer
um chamado coletivo e criou o Pimp My Carroça, que em inglês quer dizer
“envenenar” ou “tunar” o veículo. Uma alusão ao programa Pimp My Ride da MTV.
Trata-se de uma ação social, que vai começar por São Paulo, em 3 de junho, e
posteriormente será levada a outras capitais brasileiras. O objetivo é atender
50 catadores de material reciclável de cada cidade, sendo que num pit stop a
carroça passará por uma reforma estrutural e será “pimpada”, sendo pintada por
reconhecidos artistas do mundo do grafite.
TRATO
Além da pintura estilizada, as
carroças vão receber equipamentos de segurança, como retrovisores, faixas
refletivas, cordas para a sustentação do material nas laterais e luvas para os
catadores. Enquanto os veículos recebem um trato, os catadores ganham uma
camiseta do projeto, são examinados por médicos e em seguida repõem as energias
com uma refeição reforçada, garantindo o combustível para mais uma jornada de
trabalho. Depois, os catadores sairão em uma “carroceata” pela cidade, levando
muitas cores e alegria pelas ruas. Durante o evento haverá shows de 50
artistas.
DOAÇÃO
Para garantir fundos para o
projeto. Mundano associou-se ao site Catarse
(catarse.me/pt/projects/582-pimp-my-carroca) e durante alguns dias recebeu
doações de 790 apoiadores, que até quinta-feira (último dia) totalizaram R$
56.930 mil. O dinheiro será todo investido em prol dos catadores, mas, por meio
do site, interessados podem se oferecer como voluntários, doar materiais ou
enviar frases que serão escritas nas carroças “pimpadas”. Mundano pretende
ainda conseguir capas de chuva, agasalhos e atendimento gratuito para os cães
que normalmente acompanham os catadores.
VALE TUDO
Mundano
quer que o Pimp My Carroça seja um marco histórico que mudará o descaso da
sociedade em relação aos catadores de material reciclável. Como as doações em
dinheiro já foram encerradas, o projeto continua aceitando lanternas de energia
|
solar,
retrovisores, buzinas, faixas refletivas, pneus, pregos, tinta spray, latex,
cordas, luvas, tecidos, alimentos, bebidas, óculos de grau, geradores de
energia, banheiros químicos e infraestrutura de palco para shows, além do apoio
dos voluntários. O grafiteiro esteve recentemente em Poços de Caldas, registrou
sua arte e garantiu que em breve o Pimp My Carroça chegará a Minas Gerais. É a
arte aliada a ação social, visando o benefício de pessoas menos privilegiadas.
Uma atitude que merece respeito e atenção.
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