Embaixadores da paz no território do conflito


Conheça a vida das pessoas que vão aonde o poder público não chega
“Somos craques e não há pedra em nosso caminho”

Jefferson da Fonseca Coutinho
O maior clássico do futebol
Há uma farra no mundo da bola que não está nos estádios, nas emissoras de rádio e TV ou nos jornais e sites de notícias. Nesse universo não há tampouco salários milionários, embora eles estejam sempre como um sonho mais ou menos subentendido. Nos campinhos dos aglomerados e dos bairros pobres da Região Metropolitana de BH, agentes de transformação social fazem das tripas coração para tirar crianças de ruas, becos e vielas com atividades mais dignas do que os favores prestados à criminalidade. Em diversos pontos visitados em Belo Horizonte e Ribeirão das Neves, quando os menores não estão na escola, estão batendo bola ou fazendo arte, orientados por voluntários de responsabilidade, respeitados até pelo mundo do crime. “Bandido não quer que o filho seja bandido”, diz o moço em área barra pesada, vizinho de ponto de venda de drogas.

Um dos lugares onde se montam esses times do futuro é o Campinho do Lula, no Bairro Sevilha B, em Ribeirão das Neves. Bastaram dois minutos para que, em tarde de dia de semana, 10 garotos se juntassem para treino extra do Força, Fé e União (FFU) Futebol Clube, que aos domingos reúne cerca de 60 crianças pelo projeto Futebol Periférico, comandado por Marcilene Conceição Correia da Silva, de 35, embaixadora da paz na região. “Nossas crianças são os adultos de amanhã. Não consigo ver futuro que não passe pelo cuidado cada vez maior com as crianças”, considera a idealizadora do trabalho batizado “Somos craques e não há pedra em nosso caminho”. Os aliados, segundo a agente, são a principal chave para o sucesso da proposta. Parceiros como Hilário Lourenço, de 21, abraçado à causa pelo futuro da comunidade. É ele o monitor da meninada, no comando da atividade do dia.

“O Hilário é referência na comunidade, porque cresceu em área de grande exposição a problemas sociais e não perdeu o rumo. É trabalhador e muito bom moço”, elogia Marcilene. A agente entende que trabalho social não é fazer uma quadra e deixar as crianças soltas, por conta própria. “É preciso de acompanhamento, com todos os cuidados de que as crianças precisam”, ressalta. A voluntária diz não ter a pretensão de mudar o mundo, mas acredita, por meio do respeito ao outro, estar no caminho para a construção de uma nova realidade. “As crianças de outras comunidades já começam a se frequentar, sem fronteiras, com boas amizades construídas. O futebol é um pretexto, uma estratégia pela causa. Todos ganham com isso”, considera. Nas quatro linhas de terra, garotos entre 9 e 13 anos, sob o comando do técnico Hilário, já demonstram entender algo mais sobre as regras da boa convivência.

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