Jovens sem futuro


Entre 2008 e 2012, número de detentos entre 18 e 25 anos nos presídios de Minas Gerais registrou crescimento de 162%.

Por:Guilherme Paranaiba
A auxiliar de serviços gerais Paula*, de 36 anos, nunca imaginou que o tráfico de drogas, crime cujo crescimento explodiu no país nos últimos anos, interferiria no futuro de sua família. Mas há seis meses veio o golpe. Aos 18 anos, o mais velho de seus quatro filhos foi preso em flagrante vendendo pedras de crack em um aglomerado da Região Oeste de BH e desde então está detido à espera de julgamento. O caso do rapaz é o retrato do aumento expressivo do número de presos entre 18 e 25 anos nas unidades prisionais de Minas Gerais nos últimos quatro anos.
No fim de 2008, quando pouco mais de 30 mil pessoas estavam detidas sob a tutela do estado, 6,2 mil tinham entre 18 e 25 anos. Hoje, entre os 43 mil homens e mulheres privados de liberdade, 16,3 mil têm entre 18 e 25 anos, o que representa um aumento de 162% no número de presos desta faixa etária. Se em 2008 o percentual de detentos até 25 anos representava 20,4% do total, levantamento concluído em 5 de junho mostra que esse índice subiu para 37,7%. A única coisa que não mudou entre 2008 e 2012, de acordo com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), é a razão pela qual as pessoas são presas: o tráfico de drogas continua sendo o crime que mais leva à cadeia, seja de forma provisória ou definitiva.

O filho de Paula foi preso em flagrante ao tentar vender 30 pedras de crack. Na época, no início deste ano, ele tinha 18 anos. Hoje, com 19 e, de acordo com a mãe, está arrependido de ter se envolvido com o tráfico de drogas. “Ele saiu de casa por conta de um relacionamento amoroso e as amizades acabaram o levando para esse mundo do crime,” garante a mãe, que acredita na reabilitação do filho.
Ainda segundo a auxiliar de serviços gerais, seu filho estava empregado, mas acabou seduzido pela possibilidade de ganhar dinheiro fácil. “É triste, porque ele tinha um trabalho no almoxarifado de uma empresa. Foi um golpe muito duro, pois é uma coisa que a gente nunca imagina que vai acontecer, uma dor grande. Fugiu completamente do meu controle. Pelo menos serve de lição para eu prestar mais atenção nos meus filhos e não deixar acontecer a mesma coisa”, acrescenta Paula. O futuro do seu filho será definido mês que vem, quando ele terá uma audiência na Justiça. Hoje, ele integra o contingente de 22,2 mil presos provisórios à disposição do Judiciário.
SEM AMPARO O aumento do número de presos jovens no sistema carcerário de Minas Gerais verificado nos últimos quatro anos (veja quadro) é um fenômeno que atrai a atenção de especialistas e que, segundo esses estudiosos, resulta de uma série de fatores, entre os quais está a ausência do poder público. Para o professor da Puc/Minas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Robson Sávio Reis Souza, o fato pode ser explicado principalmente pela falta de amparo do estado em uma determinada faixa etária.
“Começa aos 12 anos, no fim da infância, e passa pela adolescência. É nesse período que faltam as políticas públicas. Não temos no Brasil escolas em tempo integral, faltam programas de primeiro emprego que funcionem e, além de tudo, muitas famílias são desestruturadas”, afirma o especialista. Ele também cita a ineficiência do sistema socioeducativo, de onde os jovens saem pior do que entraram, o incremento do tráfico e a facilidade de acesso a armas, o que aumenta a letalidade dos crimes. “A grande oferta de armas faz com que hoje as pessoas matem e morram muito cedo”, completa Robson Sávio.
Outro dado que se observa nos levantamentos repassados pela Seds é o aumento da população carcerária com idade superior a 26 anos, mas em índice mais discreto em comparação com os presos mais jovens. Em 2008, pouco mais de 24 mil detentos tinham 26 anos ou mais. Neste ano, são quase 27 mil na mesma faixa, o que significa um aumento 10,9%, bem abaixo dos 162% observados entre 18 e 25 anos.
* Nome fictício
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