ESCRAVIDÃO, ALCOOLISMO E DESTRUIÇÃO DO POVO PRETO

Por Aidan Foluke, Membro da COPATZION, Tesoureira do CNNC e Acadêmica de Enfermagem.
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"Estarás perdido, tornando-te o ludíbrio e escárnio de todos os povos onde YAH te houver levado" Dt 28:37
Na história da escravidão as conseqüências do contato dos europeus invasores com os africanos foram devastadoras no âmbito da espiritualidade, do psicológico e da morfofisiologia. As patologias oriundas desse contato forçado suscitaram distúrbios homeostáticos que ainda hoje afetam os africanos na África e Afro-América. O desequilíbrio ecológico da destruição do habitat natural dos povos africanos, a mudança dietética, a negação da farmacopéia oral africana, os traumas da escravidão, o trabalho forçado e insalubre, habitações desprovidas do mínimo saneamento, a demonização cultural e a introdução do álcool da cana-de-açúcar e de outros elementos na dieta foram causas de proliferação de endemias nos escravizados e atualmente afetam os afro-diásporicos.
O uso da fermentação de cereais e frutas existe no histórico das populações africanas e muitos deles usados em rituais religiosos que sofreram transformações profundas com a introdução da fermentação da cana-de-açúcar no Brasil. Aliás, em muitos rituais afro-americanos são veneradas entidades que se embebedam com cachaça. Neste artigo vou discorrer sobre o vício do alcoolismo proveniente da escravidão e sua conseqüência na formação de patologias entre os descendentes de africanos, como um fato inteiramente novo de dominação e perda da identidade ancestral.
O alcoolismo afeta a espiritualidade e a psicomorfofisiologia do dependente. A mudança dietética foi fundamental para quebrar a resistência do organismo do escravizado proporcionando-lhe as adaptações desejadas do agressor-escravizador.
É lastimável o uso das bebidas fermentadas de cana-de-açúcar, a conhecida cachaça, pela maioria da população preta brasileira e se torna ainda mais estranho, quando após reuniões da juventude preta com propósitos libertários uma grande parcela continua coabitando com os vícios impostos pelos dominadores. Na escravidão a cachaça fazia parte da dieta para deixar o escravizado lerdo, abestalhado e de fácil dominação no aceitamento de trabalhos desumanos. Nos engenhos do nordeste era costume dar cachaça aos escravizados na primeira refeição do dia, a fim de que pudessem suportar melhor o trabalho árduo dos canaviais, prática de todo o escravismo no Brasil, que obrigava os escravizados a usarem a cachaça diversas vezes ao dia.
Na musicalidade brasileira inúmeras são as músicas relacionadas ao povo preto e a cachaça, entre estas umas das que mais chama a atenção no intuito discriminatório em todos os sentidos relacionados ao homem preto.


O grupo pernambucano “Quinta Ladeira” reforça o estigma da mulher preta como cachaceira:


Uma parte do álcool é absorvida pelo organismo através da parede do estômago. Outra parte é metabolizada pelas enzimas do fígado. Quando a pessoa bebe muito, o fígado começa a acumular gordura, tornando-se um "fígado gorduroso", cujo tecido se deteriora, levando à hepatite alcoólica ou cirrose, ascite (barriga d'água) e, até, à morte. Entre os homens pretos, a ocorrência de morte devido ao alcoolismo acontece duas vezes mais do que na população branca.
Uma das mais nefastas saídas dos traumas impostos na escravidão na população preta tem sido o refugio ao vício maléfico da aguardente, tornando o Brasil o maior consumidor de cachaça do mundo e levando dessa forma ao consumo recorde pelo povo preto. Baseado nisto, observa-se patologias que são facilmente encontradas em nossa população como: alterações no sangue - hepatite; ossos e articulações - degeneração dos ossos; lesão cerebral - síndrome de Wernicke-Korsakoff; câncer - na boca, esôfago, estômago, fígado; pulmão - pneumonia, tuberculose; epilepsia; síndrome fetal; coração - arritmias, cardiopatia, hipertensão e doença coronariana; fígado - cirrose hepática; transtornos sexuais - disfunção testicular e impotência; esôfago e estômago – corrosões que levam a gastrite, úlcera péptica, esofagite. E os mais diversos sintomas - dificuldade na fala e distúrbios da sensação; apatia e inércia geral; vômitos; incontinência urinária e fezes; inconsciência e anestesia. Além de todas essas patologias e sintomas podem-se citar os transtornos na personalidade dos seus consumidores, os quais são visíveis bem, como: a perda de eficiência, diminuição da atenção, julgamento e controle, instabilidade das emoções, menor inibição.
Fígado com cirrose hepática
As relações interpessoais de uma pessoa que bebe são modificadas, o caráter agressivo é predominante, principalmente nos homens pretos. Segundo especialistas, filhos de pais que consomem álcool em grandes quantidades desenvolvem a chamada síndrome do alcoolismo fetal, que se manifesta em atrasos no crescimento, tendência a ataques epilépticos, anormalidades faciais e problemas de aprendizagem e comportamento, retardamento mental.
Dois graves problemas do vício de álcool na mulher preta são a predisposição da Síndrome de Down - atraso mental em seus bebês e os grandes índices de aborto. Os danos são produzidos, porque a gestante elimina duas vezes mais rápido o álcool do seu sangue que o bebê, forçando-o a realizar uma tarefa para quais seus órgãos não estão preparados.
As mulheres pretas quando grávidas e são viciadas os seus fetos adquirirem defeitos que varia de leve a grave, os quais poderão ser evitados se elas aprenderem a se amar e ao seu povo preto.

É necessário que a mulher preta ame a si própria e ao seu povo preto

O uso do álcool tem aumentado o número de agressões na família, principalmente nas companheiras e nos filhos e filhas. Há inúmeros casos de mulheres pretas dominadas pelo vício da bebida abandonar e até mesmo mutilar as suas crianças. Nas nossas famílias temos históricos de familiares dependentes e sabemos quão mal faz ao equilíbrio familiar e da comunidade preta.
Muito dos delitos cometidos está na violência no transito. A quantidade de presos pretos que cometeram delitos após o uso do álcool, isto é, furtos, agressões, homicídios o fizeram depois de ingerirem bebidas. É necessário que os homens pretos se livrem da maldição da branquinha e da lourinha, as quais trazem males irremediáveis à família afro-diasporica e as mulheres pretas não concordem com a bebedeira de seus companheiros.

Há uma predisposição genética dos descendentes de escravizados a usarem a cachaça, isto explica o projeto do escravizador em longo prazo de dominar uma população através da bebida. Este é um fato que merece melhores discussões em reuniões da juventude preta. Imaginemos uma reunião da juventude com o tema: A dominação racial através da cachaça. Você participaria? Qual seria a sua opinião de acordo com os fatos e observando a sua árvore genealógica?

Quem sabe um dia iremos cantar:
Na minha casa todo mundo é bamba
Ninguém bebe
E todo mundo samba.

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