Vítimas e algozes em todas as classe sociais

Cozinheira é assassinada pelo marido em frente de juiz de direito. Despachante executa comerciante por ciúmes na Região Central de Belo Horizonte
Amaury Ribeiro Jr. - Correio Braziliense
Euler Júnior/EM/D.A Press/Reprodução
O padrasto da balconista Daniela Bertoza Pereira lhe tirou a vida em Ribeirão das Neves
Os levantamentos do Estado de Minas nas delegacias do estado mostram que as vítimas e os autores de crimes passionais estão distribuídos nas mais variadas classe sociais. Os dados estatísticos revelam ainda que os criminosos não escolhem o horário e o local para eliminar a mulher ou ex-companheira. O assassinato da cozinheira Silvana Evangelista de Mattos, às 18h do dia 22 fevereiro, em frente ao prédio da Associação Mineira de Magistrados (Amagis), exemplifica a estatística macabra. A cozinheira, que trabalhava na cantina da Amagis, foi morta com várias facadas pelo ex-marido Antônio Mattos na Rua Albita, no Bairro Cruzeiro, um dos mais nobres de Belo Horizonte. O crime foi presenciado pelo juiz da comarca de Brasópolis, Mário Paulo de Moura Campos Montoro, que saía do prédio da associação com seu carro na companhia da mulher e dos filhos. “Ao ver um homem esfaqueando a mulher, subi a rua na contramão, buzinei bastante e joguei o carro na direção do autor na tentativa de que se assustasse e interrompesse o ato, mas, quando cheguei, ele já estava se esfaqueando”, disse o juiz nos autos do processo.

A cozinheira, que ao tentar se defender teve a mão esquerda decapitada, morreu com vários cortes espalhados pelo corpo. Depois de eliminar a ex-mulher, que se recusava a reatar o relacionamento, Antônio de Matos, que está desempregado, passou a desferir golpes contra o próprio corpo. Encaminhado ao Pronto-Socorro João XXIII, ele contou à polícia, depois de se recuperar dos ferimentos, que decidiu assassinar a ex-mulher após tê-la visitado na Amagis. Diante da nova recusa da mulher em reatar o relacionamento, Montoro não hesitou em se apoderar da faca da cozinha em que a mulher trabalhava para praticar o crime.

“Esse é o caso típico que exemplifica o egoísmo do homem que resolve matar a mulher simplesmente por não aceitar que ela tenha uma vida própria. A cozinheira deixou o marido ao descobrir que ele tinha uma amante. Mesmo assim, ele resolveu se vingar porque queria que a mulher aceitasse que ele ficasse com as duas”, afirmou a delegada especializada em homicídios Helenice Cristine Batista Ferreira, que investigou o caso.

A tentativa de desvincular-se do marido também acabou sendo fatal para a comerciante Edinara Dinis de Faria Oliveira, de 36. Ela foi assassinada em 7 de janeiro com um tiro no peito pelo ex-marido, o despachante de trânsito Cláudio José de Oliveira, de 45, quando trabalhava no caixa do açougue da família, localizado na Praça 15 de Junho, no Centro de Belo Horizonte. Segundo um funcionário do açougue, Cláudio chegou por volta das 15h, indo direto ao caixa falar com a ex-mulher, que há oito meses havia se mudado para casa dos pais na companhia do filho de 14 anos. Depois de tentar convencer, em vão, a ex-mulher a retornar para casa, em companhia do filho, o despachante começou a pôr em prática o plano para assassiná-la. Depois de pedir um quilo de carne para despistar, ele se dirigiu ao caixa para acertar um tiro a queima roupa no peito de Edinara. Ele gritava que de forma alguma aceitaria que ela ficasse com outra pessoa. Depois atirou contra ele mesmo”, contou o funcionário.

A irmã da vítima, Ziléia Leite Faria, conta que o despachante não aceitava o fato de que a mulher, que pouca horas antes de ser morta havia se mudado com a família para uma casa nova, estava conseguindo reconstruir a vida depois da separação. Segundo Ziléia, o despachante vivia ameaçando a mulher de morte. “O assassino dizia que não podia nem pensar que outro homem pudesse tocar no corpo dela. Ele não podia suportar o fato de minha irmã estar feliz da vida e trabalhando. Ao tirar a vida dela, ele arrasou com toda a família, que não tem mais vontade de viver”, desabafou Ziléia. Segundo ela, a dor dos familiares aumentou ainda mais depois que o despachante, por decisão da Justiça, foi posto em liberdade. Ziléia disse que, ao ser ouvido, ele não mostrou nenhum arrependimento. “Ele tentou justificar o crime na frente do juiz, dizendo que não podia suportar o fato de minha irmã ter arrumado um namorado”.

O sentimento de inferioridade por ser sustentado por uma mulher foi a justificativa que o gari desempregado Cleude Ramos Rodrigues, de 34, encontrou para justificar o assassinato da enteada Daniela Bertoza Pereira, de 18. O crime ocorreu em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Daniela, que trabalhava como balconista, foi morta a facadas pelo padastro, enquanto dormia. “Desempregado há quatro anos, ele não suportava o fato de minha filha, que tinha arrumado emprego, sustentar a família. Ele dizia que a Daniela havia acabado com a vida dele”, disse a mãe da vítima, Silvana Bertoza. Depois de praticar o crime, o gari subiu na laje de casa, onde passou a se ferir com uma faca. Ele ameaçava se matar, mas acabou imobilizado por soldados do Corpo de Bombeiros.

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