Kuca 3000: Paz, justiça e sabedoria


Saudações! Vivemos um momento muito intenso aqui em Porto Alegre e em todas as regiões do nosso Estado. Ainda no final de 2008 o movimento daqui já se orgulhavam em ter incluído a palavra “Hip-Hop” dentro da legislação tanto da capital quanto estadualmente.


Grandes nomes do hip-hop do Rio Grande do Sul

Como no caso da lei 10.378, que garante no mês de Maio a Semana Municipal, que já está no 2º ano de atividades. De imediato, após a lei municipal de Porto Alegre, começaram as movimentações em torno de uma lei estadual, foi quando a Nação Hip-Hop Brasil apresentou ao Dep. Raul Carrion a proposta da criação dessa lei, e por ele levada a votação e aprovada de forma unânime pelos Deputados, ficando como referência o número 13.043, uma grande vitoria.


No dia 13 de junho por consequência dessa lei, aconteceu o 1º Encontro Estadual do Hip-Hop do RS, apresentando o espetaculo da cultura de rua. Mais de 700 manos e minas ocuparam o Auditório Dante Barone da Assembleia Legislativa com rap, break, graffiti e discotecagens . Teve até direito a interpretação dos hinos, nacional e rio-grandense, bem representado pelos reapper’s e DJs.

Foram entregues ainda homenagens a alguns veículos de comunicação pioneiros do hip-hop daqui do sul. Tivemos a participação dos MC’s pela PAZ, projeto que dentro do sistema carcérario, estimula uma nova metodologia de socialização de inclusão dos manos do lado de lá da muralha.

Ainda aconteceu mais um fato inédito por aqui, estou falando da 1ª Conferência Livre de Segurança Pública do Hip-Hop. Graças a esse importante passo do Governo Federal junto à população, abriu espaço amplo e democrático para debater segurança pública entre o movimento, tendo acontecido em um sábado durante todo o dia, inclusive com um almoço coletivo, foram tirados muitos encaminhamentos que serão levados para a Conferencia Nacional de Segurança fazendo a nossa voz ser ouvida.

Vem sendo frequente a presença do Hip-Hop em museus e casas de cultura, como a Usina do gazometro no centro da capital, onde acontecem exposições de graffiti, bem como eventos como o Lança de Ouro, premio concedido para as melhores iniciativas em diversas áreas da nossa cultura. A Art do Risco crew, grupo que faço parte, foi um dos vencedores recebendo o troféu “Lanceiros Negros” como destaque do graffiti.

Muitos olhares estão atentos ao hip-hop gaúcho e percebo uma acentuação positiva no hip-hop tanto na parte artística, mas principalmente nas questões sociais. Nós continuamos nas oficinas em escolas, os universitários ainda escrevem teses de mestrado sobre hip-hop, estamos nas vitrines, nas rádios, nos videoclipe’s, na internet, nas ruas, nas ong’s e associações sempre atuantes e independentes.

Contudo, vivemos em um cenário que conta com um governo neoliberal que não investe em educação, cultura, lazer e mantêm medidas repressivas de segurança pública, sem investir em prevenção para diminuir o grave índice de violência no estado. As filas em frente aos hospitais e postos de saúde, que começam a se formar em plena madrugada na luta por uma ficha de atendimento, sem saber quando será atendido. Não escondem a falta de atendimento público com o mínimo de dignidade aos idosos e crianças que recorrem ao SUS.

Os camelôs que antes ocupavam a praça XV de Novembro, foram forçados a ocupar cubiculos no novo centro popular de compras o que deixou muitos que ali ganhavam a vida sem onde vender suas mercadorias, iniciativa do prefeito deles, no processo de “embelezamento” do centro de Porto Alegre, abrindo espaço para um “belo” estacionamento.

Outra medida de “embelezamento” se deu ainda ano passado, ao apagarem os graffitis dos viadutos, onde antes se via obras de grandes artistas plásticos da nossa cidade,com tinta anti-pichação e hoje em dia com a colocação de “belos” azulejos azuis nesses mesmos viadutos.

Passeatas, greves e protestos contra o governo de Yeda Crusius fazem parte da nossa rotina tanto quanto as consequências do aquecimento global como a estiagem, que aumenta os preços do nosso arroz com feijão. A crise financeira mundial, as demissões em massa, são assuntos que dividem as manchetes com outro caso grave de saúde publica, o crack.

Hoje essa “pedra maldita” atinge todas as classes sociais, tendo sido protagonista de casos em que pais acorrentam seus filhos, chegando ao extremo de cometerem assassinatos, casos que despertaram a atenção da midia após um caso em um bairro nobre da capital. Nas ruas jovens matam e morrem fazendo muitas famílias infelizes.


Nas salas de aula, a desordem acontece e é bem visível, pois professores espancam estudantes, estudantes espancam professores e o nosso sistema de ensino continua ultrapassado para o século em que vivemos.

Volto a salientar a importância do hip-hop como cultura de paz, metodologia de ensino e resgate da alto estima de jovens em situação de risco.

Hoje, temos uma rede que ficou mais visível graças à reuniões semanais na Comissão de Educação, na Assembleia Legislativa que que por nós tem sido bastante frequentada, e tem sido palco de inúmeros debates e troca de informações afim de contribuir para nosso próprio avanço, alem de servir como ponto de referencia para os militantes e ativistas do nosso meio.

A unidade de ação deve ser pilar central para o hip-hop e suas demandas, despindo-nos do ego dos holofotes e encarando, de forma protagonista, os palcos onde acontecem as grandes lutas sociais, por nós, pelos nossos amigos, nossos amores e nossas famílias em busca de ''igualdade, liberdade e fraternidade'' palavras que fazem parte da bandeira do Rio Grande do Sul, e hoje não fazem parte desse solo.

Passo a passo estamos avançando e já podemos pensar inclusive em consolidar um conselho do hip-hop do Rio Grande do Sul. O que aperfeiçoaria muito, desde nossa comunicação até elaboração e execução de projetos conjuntos com governos e com a iniciativa privada.

Somos muitos e queremos mudança, e ela começa por nós mesmos, procurando pelo conhecimento, dominando questões como a luta de classe, tão importante pra que nos reconheçam como movimento social, entrando em campo munidos de informação para o debate de ideias, sabendo reconhecer quem é o inimigo e quem somos nós mesmos.

Que a bandeira do hip-hop gaúcho e brasileiro tremule levando por onde passar ''paz, justiça e sabedoria''.



Kuca 3000 é Lucas da Veiga Costa, graffiteiro da Art do Risco Crew, PNQ crew, coordenador da Nação Hip-Hop Brasil POA-RS.
kuca3mil@hotmail.com

É Tudo Nosso! O Hip-Hop Fazendo História. Parte 7 - Amazonas






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