As Causas da Criminalidade


Pedro Mundim
http://www.pedromundim.net

As causas do fenômeno da criminalidade são variadas e complexas - não podem ser, sequer, apontadas com exatidão, muito menos eliminadas.

A desigualdade social pode favorecer alguns tipos de crime, mas mesmo se eliminada, ainda sobrariam mil outros motivos para se cometer crimes. Embora a associação entre miséria e banditismo, no Brasil, seja notória, eu jamais ouvi falar de um chefão de tráfico da favela que tenha começado sua vida como criança de rua. Crianças de rua se tornam, no máximo, trombadinhas. O perfil do criminoso profissional é outro: em geral é pobre, mas não miserável, e soube adaptar-se bem ao meio marginal onde se criou, explorando as oportunidades de ganho. Não se trata de um chefe de família desempregado que torna-se bandido para matar a fome da família - esse criminoso ocasional até existe, mas nunca é de alta periculosidade, é alguém que vai, no máximo, assaltar um botequim ou padaria, e quase sempre se dar mal na empreitada, já que não tem experiência. O verdadeiro criminoso profissional entra para o crime simplesmente porque compensa, uma vez que são altos tanto os ganhos quanto as chances de impunidade - ainda que ele vá preso, ele sabe que ficará pouco tempo atrás das grades.

Penso que a relação entre pobreza e crime é indireta: comunidades pobres tendem a ser desorganizadas e abandonadas pela polícia, daí que indivíduos neste meio que decidam se tornar criminosos encontrem pouca resistência, ao contrário do que acontece nos bairros da classe média, onde um garoto que furta para comprar drogas tem a desaprovação de seus pais e de seus colegas, e se um vizinho o vir furtando o rádio de um carro, não terá receio de chamar a polícia.

O fenômeno do crime não tem uma solução cartesiana, tipo eliminada a causa, desaparece a conseqüência. O crime não pode ser nunca eliminado, pode no máximo ser mantido a níveis toleráveis. A mudança do regime político do capitalismo para o socialismo apenas muda o perfil do criminoso: de fato, em um país como Cuba de nada adianta roubar um vizinho que não tem nada de valor em casa, muito menos seqüestrá-lo se ninguém de sua família tem dinheiro para pagar o resgate. O crime nos países socialista é de outro tipo: uma vez que, por definição, só se pode roubar quem possui algo, e sob o comunismo apenas o Estado é proprietário, então todos roubam o Estado: operários desviam das fábricas, funcionários das lojas desviam dos estoques, médicos desviam dos hospitais e tudo vai parar no mercado negro, onde é vendido por dólares. Quando o comunismo acaba, toda essa podriqueira vem à luz e explode como um tumor espalhando pus para todos os lados: é por isso que todo ex-país comunista torna-se paraíso das máfias (vide a ex-URSS). Vocês acreditam que todas essas quadrilhas surgiram da noite para o dia em que o capitalismo voltou? Ora, existe leite em pó instantâneo, mas não existe máfia instantânea. Essa quadrilhas com certeza existiam desde muito antes, comandadas pelos burocratas do regime. Não me admira isso. Os socialistas começam dizendo que é lícito roubar, pois se trata de "expropriação". O que se pode esperar de um regime que justifica o roubo, senão, a gestação de um país de bandidos?

Penso que a legitimidade da propriedade privada é o ponto fundamental do combate ao crime, e não apenas dos crimes contra o patrimônio.

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