Chaga social: 767 mulheres são agredidas por dia no Brasil


Embora se possa comemorar, com razão, o largo conhecimento alcançado pela Lei Maria da Penha, que pune a violência contra a mulher, há ainda muito a fazer neste campo onde a situação continua calamitosa, como mostram dados do PNAD divulgados hoje pelo IBGE.

A pesquisa relata que cerca de 2,5 milhões de pessoas com mais de 10 anos de idade sofreram algum tipo de agressão em 2009. Destas, 40% eram mulheres (cerca de 1.081.000). O que chama a atenção é que um terço delas foram agredidas por parentes, companheiros ou ex, que foram responsáveis por mais de um quarto do total de agressões (25,9% ou cerca de 280 mil).

Isso significa que a cada dois minutos ocorre uma agressão contra a mulher no Brasil (são, em média, 767 por dia, 32 por hora ou uma a cada 30 segundos). Outro dado reforça a natureza doméstica da agressão contra a mulher: mais de um quarto delas (25,4%) ocorrem dentro da própria residência.

Mais da metade dos agredidos não procurou ajuda policial para se defender e certamente a maioria destes, pode-se imaginar, são mulheres. Um em cada cinco porque não considerou importante; um número maior (um em cada três) por temer represálias ou não querer envolver a polícia.

O dado a comemorar foi revelado por outro estudo, divulgado pelo IPEA na semana passada. Ele mostra um avanço na consciência sobre os direitos da mulher e, principalmente, acentua que este não é um problema de natureza privada, mas social. A imensa maioria (80%) das pessoas entrevistadas pelo estudo “Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre igualdade de gênero 2010” considerou que a violência contra a mulher é de responsabilidade da sociedade como um todo, contra apenas 14% para os quais o problema é isolado. Mais: um número superior a 90% dos entrevistados considera que essas agressões “devem ser investigadas pelo Estado mesmo que a mulher não queira”, destacou a técnica Maria Aparecida Abreu, no lançamento do estudo.

Além de ser uma questão pública, social, ela é também um problema civilizatório. O grau do avanço de uma sociedade, já disseram alguns pensadores avançados desde o início do século 19, é indicado pela igualdade entre homens e mulheres. E a violência contra a mulher, cujos protagonistas são principalmente homens que julgam ter direitos especiais, e definitivos, sobre elas, é o principal fator de atraso neste ponto. Parceiros que tratam suas companheiras como objetos de consumo, satisfação pessoal, como bens arroláveis entre as demais propriedades que controlam, e usam a força física ou a violência verbal para impor privilégios. Acionam o medo, a intimidação, a humilhação, para manter formas de relacionamento desigual, e submeter o outro (a outra, no caso) a seus caprichos, vontade, idiossincrasias e fantasias.

Os dados do PNAD mostram que ainda há muito a fazer na conquista da igualdade e no combate contra a opressão da mulher, e o estudo do IPEA mostra que há disposição para isso. É preciso unir estas duas pontas –necessidade e disposição – para avançar na luta contra esta verdadeira chaga social que é a opressão da mulher.

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