Pesquisa mostra que consumo de droga é maior em escola privada



Agência Estado


O consumo de drogas é maior em escolas privadas que em públicas, aponta levantamento da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad) divulgado nesta quinta-feira. Mapeamento feito com 50.890 estudantes de todas as capitais brasileiras constatou que, na rede privada, de cada 100 alunos, 30 já consumiram psicotrópicos como maconha, cocaína e crack, contra 24 na rede pública.

Na faixa etária de 16 a 18 anos, a proporção de estudantes de escolas particulares que já usou essas drogas pelo menos uma vez na vida é ainda maior: 54,9%. Na pública, essa porcentagem é de 40,3%.

A relação de consumo entre os dois tipos de escolas se inverte quando se analisa o uso frequente (declaração de consumo de seis ou mais vezes no mês anterior à pesquisa): nessa faixa, a rede pública ultrapassa a privada por uma pequena margem - 0,9% contra 0,8%. Quanto ao uso pesado (vinte ou mais vezes), os alunos da rede pública "superam" os da privada por 1,2% a 0,8%. Ou seja: embora sejam consumidas mais drogas pelos alunos da rede privada, na pública a frequência de uso é maior entre os dependentes.

O estudo do governo federal, feito em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), trouxe números da rede privada pela primeira vez. Estudantes do ensino fundamental e médio foram submetidos a um questionário aplicado em 789 escolas. Segundo a Senad, cerca de 94% das públicas convidadas aceitaram participar, contra 70% das privadas.

"Não entendemos como grave a recusa (das privadas). Pode ter, sim, a ver com o fato de ser a primeira vez que se faz uma pesquisa sobre esse tema (com elas), enquanto a rede pública já tem uma tradição", disse a secretária-adjunta da Senad, Paulina Duarte.

Públicas

Os dados da pesquisa anterior, de 2004, permitem uma comparação do cenário das drogas nas escolas públicas. O consumo de maconha - pelo menos uma vez ao ano - caiu de 4,6% para 3,7%; de solventes/inalantes (como lança-perfume), desceu de 14,1% para 4 9%; de anfetaminas, de 3,2% para 1,6%; quanto ao crack, a redução foi de 0,7% para 0,4%. O uso de cocaína, no entanto, subiu de 1,7% para 1,9%.

"O aumento em relação à cocaína foi relativamente pequeno e vai merecer do governo uma análise mais acurada. Não temos uma explicação neste momento", disse Duarte. "A redução do consumo de drogas é um fenômeno que não está ocorrendo apenas no Brasil, há no mundo uma tendência de estabilização do consumo e até mesmo de diminuição. O Brasil vem acompanhando essa tendência mundial, há maior percepção da população sobre os riscos de consumo".

Para a secretária-adjunta, os números mostram um consumo pequeno de crack entre os estudantes - na rede privada, o índice foi de 0,2%. Uma possibilidade para o resultado é o fato de os usuários da droga na faixa etária estudada (de 10 a 19 anos) não estarem em sala de aula. "Isso poderia estar vinculado ao fato de o crack ser uma droga potencialmente muito mais danosa que devasta com muito mais rapidez a vida das pessoas, o que poderia fazer com que (essas pessoas) estivessem fora da escola", observou Duarte.

Quanto à prevalência de uso no ano de tabaco e álcool, entre estudantes de ensino fundamental, a pesquisa apontou redução no consumo entre 2004 e 2010. No primeiro caso, de 15,7% para 9,8%; no segundo, de 63,3% para 41,1%. Na opinião da secretária-adjunta, as escolas estão hoje mais preparadas para lidar com a questão. "A escola brasileira hoje vem discutindo a questão de drogas de uma forma bastante pragmática, saindo daquela questão polarizada, do fundamentalismo ou da banalização do consumo", avaliou.

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