Esquema novo - Retrospectiva do ano que vem



Rodrigo James - Estado de Minas
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Fernando Laszlo/Divulgação
Arnaldo Antunes profetizou a revolução da arte no nosso cotidiano com a canção Música para ouvir
Se o ano musical de 2011 pudesse ser definido em uma palavra, ela seria “mobilidade”. E não estou falando da proliferação dos smartphones conectados à internet que acabaram com os downloads legais e ilegais, abrindo espaço para que a música finalmente pudesse ser ouvida em real time usando apenas as lentas conexões 4G. Me refiro ao ano em que todos perceberam que é muito fácil compor, gravar e disponibilizar música usando estes aparelhos. Quem diria que há apenas um ano estaríamos todos exaltando o feito de Damon Albarn que gravou um disco inteiro de seu projeto Gorillaz usando um Ipad…

“Música para ouvir no trabalho/ Música para jogar baralho/ Música para arrastar corrente/ Música para subir serpente”. Seguramente, quando compôs Música para ouvir, Arnaldo Antunes não imaginava que sua letra passaria de crítica à presença da música em todos os momentos de nossas vidas a profecia. Se por um lado uma infinidade de novos artistas surgiram no cada vez mais pulverizado mercado fotográfico, o ano não foi bom para quem já estava estabelecido. Bandas como Strokes, R.E.M, Radiohead e Rolling Stones lançaram novos trabalhos, mas não atingiram nem um quinto da repercussão de outrora. Nomes obscuros como The Shift Shakers, Rattleband a Chris Stone-Pamper tomaram os lugares dos já veteranos Tame Impala, Sleigh Bells e Avi Buffalo na preferência da crítica. A efemeridade da música nunca foi tão evidente.

Foi o ano em que os grandes festivais do mundo pararam para repensar. Na Europa e nos Estados Unidos, o número de ingressos vendidos para estes eventos caiu assustadoramente, mostrando que a curva decrescente detectada em 2009 não era fogo de palha. Do quase cancelamento do maior de todos, Glastonbury, à mundialização de marcas como Lollapalooza, Bonnaroo, Coachella e Roskilde (a edição argentina deste último foi considerada pela crítica como o grande festival de 2011), a máxima miltonnascimentiana “todo artista deve ir aonde o povo está” foi lida ao pé da letra pelos organizadores. Os destinos foram os emergentes do showbiz mundial: Brasil, Argentina e Chile. Se os maiores cachês do mundo já eram pagos ali, porque não radicalizar e capitalizar mais ainda em cima destas praças?

NOVOS RUMOS

Também a cena independente brasileira viveu um ano de mudança de paradigmas. Sai o dinheiro público e entra o capital privado. Apostando na diversidade cultural brasileira e se aproveitando do fato de a música estar cada vez mais presente na vida do brasileiro, mais empresas associaram suas marcas com os novos e velhos eventos voltados para a música autoral. As leis de mercado regeram as curadorias e o público, exigente como sempre, deixou de fora artistas engajados que se preocupam apenas com o discurso para demandar por nomes com uma conexão direta com a música, sintonizados nesta nova realidade. Houve espaço para tudo e para todos e a única condição exigida foi a não invenção de artistas.

Para finalizar, aquela que foi considerada por muitos a grande mudança de 2011. Depois de mais de uma década sob o domínio da cultura hip-hop norte-americana, as rádios brasileiras parecem ter acordado e ofereceram aos ouvintes um leque mais amplo de opções. Do afrobeat ao pop psicodélico, houve espaço para tudo no dial brasileiro e os ouvintes, antes culpados por todos como os grandes responsáveis pela baixa qualidade, provaram que suas opiniões são soberanas. As audiências aumentaram, anunciantes ficaram felizes e o veículo, que então patinava, ganhou fôlego extra.


P.S.: Este é um texto de ficção. Mas pode não ser. Vários factóides aqui apresentados podem se transformar em realidades. Outros não. Para o bem ou para o mal. De qualquer maneira, feliz 2011.

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