Professora da UFBA e Mestra de Capoeira levará experiência feminina brasileira ao evento Incentivar a participação das mulheres nos mais variados espaços sociais é um desafio presente nas agendas políticas de gestores e gestoras que debatem os rumos do desenvolvimento com equidade, mas debater o protagonismo feminino em organizações culturais é algo que necessita de algum deslocamento, sobretudo se levarmos em conta a abrangência destas mudanças nas redefinições de traçados territoriais, ou até mesmo comerciais.
É com esta reflexão que professora da Faculdade de Educação (UFBA) Rosangela Costa Araújo, a Mestra Janja participará, no período de 2 a 4 de dezembro, do Encontro Capulana Capoeira: experiências femininas em liderança cultural, que acontecerá em Maputo, Moçambique. O Encontro, que é organizado pelo Governo da Cidade de Maputo, através da Direção da Educação e Cultura/ casa da Cultura do Alto-Maé, em parceria com núcleo moçambicano do Instituto Nzinga de Capoeira Angola (Brasil-África) e a Balaio Cultura & Arte (Moçambique), reunirá capoeiristas e mulheres que desenvolvem papéis de destaque em organizações culturais, moçambicanas e de outros países africanos, promovendo intercâmbio entre as convidadas e debate sobre o acesso da mulher à posições de liderança.
Enquanto veículo de transformação da condição social, a capoeira traçou seu caminho pelos valores do respeito, da liberdade, da justiça, da inclusão e da igualdade. Ao praticá-la num ambiente de igualdade, mulheres e homens podem participar de processos formativos que envolvem transformações sociais mais efetivas. E é num contexto mais atual que a capoeira deixou de ser praticada especificamente por homens, por pobres, por pessoas negras, imprimindo um cenário muito mais diversificados de praticantes, fruto das bases democráticas das expressões da diáspora africana. “Hoje há organizações de Capoeira fundadas e lideradas por mulheres, ou mesmo grupos, em que as mulheres constituem a maioria dos praticantes. Entretanto, ainda lidamos com um grande desequilíbrio de representatividade quando pensamos no reduzido número de mulheres que são promovidas ao lugar de mestra”, afirma Mestra Janja.
O Encontro Capulana Capoeira, em Moçambique será além de um momento de troca de experiências de lideranças culturais protagonizadas por mulheres, um marco no fortalecimento dos referenciais epistemológicos Sul-Sul, e para além dos contornos acadêmicos. A presença feminina nestas manifestações culturais e sua interlocução com as lutas mais amplas de mulheres nas sociedades também será tema dos debates: “Nesse sentido, temos que entender a Capoeira em permanente diálogo com a sociedade a seu redor, como sendo a “pequena roda” inserida na “grande roda”, e que as lutas das mulheres na sociedade como um todo também são refeitas na capoeiragem”.
Reconhecimento – Historiadora, formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Rosângela Costa Araújo, Mestra Janja, é uma das personagens mais conhecidas no mundo da capoeiragem, tendo dedicado quase 30 anos de sua vida à Capoeira. O Instituto Nzinga de Capoeira Angola, criado por ela, é a primeira organização da Capoeira Angola fundada por uma mulher, “em situação de autonomia plena”, ressalta.
Juntamente com a mestra Paulinha (Paula Barreto) e mestre Poloca (Paulo Barreto) esta organização hoje conta com núcleos nas cidades de Salvador, São Paulo e Brasília, no Brasil, além de Maputo (Moçambique), Cidade do México (México), Londres (Inglaterra) e Marburg (Alemanha), realizando atividades conjuntas à exemplo do site, da Orquestra Nzinga de Berimbaus, do projeto ginga Mulleke e da Revista Toques D’Angola. Como marcos destas atuações, além das lutas anti-racistas e anti-sexistas, a formação integral do e da capoieirista que supere a do jogador de capoeira.
Este Encontro marca a segunda parceria desta organização com o governo de Maputo. Em dezembro de 2009 foi realizando o chonga Mandinga, evento centrado no encontro entre os mestres do Xitende (espécie de ancestral do berimbau) e os mestres da capoeira, arte na qual o berimbau é o símbolo mais marcante. Nesta edição, além da presença da consagrada escritora Paulina Chiziani, conta com o apoio da UNIFEM – Fundo das Nações Unidas para as Mulheres – ; Fórum Mulher – coordenação para a mulher no desenvolvimento; Ibis Moçambique, Ong dinamarquesa com foco no desenvolvimento.
A Capulana Capulana é um termo Changana/Ronga (idiomas locais do sul de Moçambique) que designa uma peça de roupa/pano usada pelas mulheres em quase toda a África.
De tal modo que a Capulana é uma peça muito prestigiada tradicionalmente,chegando-se a dizer pelos mais idosos que “a mulher que não tem Capulana não é mulher!”. A Capulana é um símbolo local feminino por excelência, imbuído de muita força.
Instituto Nzinga de Capoeira Angola
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