Tudo começou quando uma das filhas encontrou quatro crianças passando fome na rua e as levou para casa. A boa ação se multiplicou, assim como o alimento que ela fornece aos mais necessitados todas as quartas-feiras
Texto: Fernando Torres | Fotos: Victor Schwaner
MARIA DO SOPÃO: “Não importa quantas pessoas cheguem. A gente faz comida e dá”
Fazer filantropia não é mais nenhuma novidade. Qualquer empresa hoje dedica parte de seus rendimentos à área social e muitos cidadãos de classe média apadrinham crianças distantes ou fazem doações por meio de telefones anunciados na TV. Envolver-se de fato com obras sociais é outra história, principalmente quando o próprio voluntário tem poucos recursos. Esse é o desafio da costureira Maria da Conceição Reis, 57, mais conhecida como Maria do Sopão. Todas as quartas-feiras, faça chuva ou sol, ela abre sua casa em Sabará e oferece sopa a crianças e adultos carentes. Isso há nove anos. Sem recursos próprios – ela e o marido vivem de três salários mínimos em casa de aluguel –, Maria também não recebe verba governamental. Para fazer o milagre da multiplicação e manter a panela do Sopão Solidário sempre cheia, ela conta com o patrocínio de empresas privadas, como a rede de restaurantes Assacabrasa, e doações de voluntários, a exemplo dos funcionários dos Correios. Além disso, lidera um grupo de bordadeiras de patchwork, cujas peças são vendidas para angariar fundos.
Natural de Ladainha, no vale do Mucuri, Maria chegou a Sabará em 2000, instalando-se no bairro Nossa Senhora de Fátima. Na época, estava com depressão, provocada pelo envolvimento do filho com drogas. Certo dia, uma das filhas encontrou quatro crianças com fome na rua e as levou para comer alguma coisa em casa. No cardápio, sopa. “Uma delas me perguntou quando podia voltar de novo. Eu respondi que as portas estariam sempre abertas e que ela poderia trazer quem quisesse. No outro dia, chegaram seis meninos e, a partir daí, só foi aumentando”, relembra Maria. Hoje, a média semanal é de 50 pessoas atendidas por semana, com picos de 150.
Uma delas é a dona de casa Amélia Mônica Braz, 45, que frequenta o Sopão Solidário com seus quatro filhos há oito anos. “Em tempos mais difíceis, quando os meninos ainda eram bem pequenos, a sopa foi a única refeição do dia”, conta. Quem também tem muito a agradecer é a faxineira Aparecida Simões, 44. No seu caso, a ajuda foi muito além da alimentação. Graças à Maria do Sopão, ela conseguiu trocar as telhas de sua casa de dois cômodos e erguer a parede, que era muito baixa. “Hoje não chove mais dentro de casa e os meninos que dormem nos beliches não batem mais a cabeça no teto”, diz. Maria não parou por ali. Percebendo que estava diante de uma família muito carente, batalhou para conseguir geladeira, cama, colchão, TV, cesta básica... “É tanta coisa que nem consigo mais me lembrar”, emociona-se Aparecida. A reportagem de Viver Brasil foi até a casa de Maria conferir de perto a famosa sopa. O prato do dia tinha macarrão, carne, batata, cará, tomate, espinafre, cebola e pimentão. “O sopão é bastante nutritivo. Muitas crianças já chegaram aqui com anemia e acabaram melhorando”, diz Maria. O preparo começa por volta das 15h. Para isso, Maria conta com a ajuda das três filhas, Rute, Raquel e Ronilda, e das voluntárias Marlene Teixeira, Gislaine Oliveira e Maria Helena Leal. É muita carne para cozinhar, verdura para lavar, descascar, cortar, picar... Todas as mulheres se dividem nas tarefas e Rute assume o fogão, no comando da panela.Por volta de 17h, as pessoas começam a chegar e se assentam na varanda da casa. Em seguida, Maria faz uma oração, agradecendo a Deus pelo alimento e pedindo para que ele nunca falte. Por fim, a tão esperada sopa é servida. É lógico que a a Viver provou algumas colheradas. Huuuum, no ponto! E pode repetir? “Pode sim”, consente Rute. “Fica todo mundo satisfeito, até não querer mais. E, se sobrar, dá para levar para casa.” |
Além do compromisso semanal com as famílias carentes, Maria e sua equipe organizam dois grandes eventos por ano: a festa do Dia das Crianças e o almoço de Natal. Por ter bastante espaço, ela também abre a casa três vezes por semana para aulas de música e de artes marciais para crianças e adolescentes. “Esse tipo de trabalho previne a criminalidade e a delinquência”, analisa o instrutor musical voluntário Sérgio Andrade, 44, que há três anos dá aulas de teoria musical, técnica vocal, flauta, violão e instrumentos de percussão na casa de Maria. O espaço abriga ainda uma minibiblioteca. Todos em Sabará conhecem a fama de Maria do Sopão e sabem indicar o caminho até sua casa. Por conta de tanta notoriedade, sempre aparece alguém pedindo um prato de comida, mesmo nos dias em que a sopa não é servida. E é claro que ela nunca nega. “Não importa a que horas ou quantas pessoas chegarem. A gente faz comida e dá.” A recompensa é imediata: as pessoas agradecem, reconhecem ou, simplesmente, sorriem. “Esse é meu maior prazer. Por mais simples que eu seja, ainda tenho o poder de fazer algo pelos outros”, conclui Maria. |
PARA AJUDAR
Qualquer doação faz a diferença
Há alguns anos, a Rede Globo Minas fez uma reportagem com Maria do Sopão. “Foram tantas doações que fiquei com a casa cheia”, recorda ela. Mas as pessoas foram se esquecendo e, hoje, isso diminuiu muito. É preciso reportagens como esta para nos lembrar de que a fome nunca acaba definitivamente.
Para ajudar, ligue: (31) 3673-1429, (31) 8561-2250. Rua Ibiá, 58, Nossa Senhora de Fátima, Sabará (MG)
2 comentários:
Já visitei dona Maria, e vi de perto o sentimento nobre desta quase minha conterrãnea de Ladainha-MG vale do mucuri
Abraços,
OLDAIRCOSTA.com você de POTÉ-MG
tambem conheço dona maria do sopao e posso dizer conheço muito bem,e a melhor atriz do mundo consegue convecer a todos mais nao a vida inteira.ela e podre tenho pena dos doadores que acredtem nela.infelismente;c
Postar um comentário