Na Praça da Estação, Região Central de BH, há ocupação em vários pontos |
Um rápido passeio por Belo Horizonte mostra, até mesmo aos olhares mais desatentos, um problema social escancarado da cidade: os moradores de rua. A prefeitura não sabe exatamente quantas pessoas vivem nesta situação – os dados disponíveis, referentes a 2005, apontavam um contingente de 1.164. Mas a convicção de um crescimento deste número é latente. Há, por todos os lados, emblemas da miséria humana. A Pastoral de Rua também acredita num agravamento deste quadro e estima um aumento de pelo menos 30% nos últimos cinco anos, o que elevaria para mais de 1,5 mil o número de pessoas vivendo nesta condição. A PBH, por sua vez, aposta na diminuição. E alega que há vagas nos abrigos, mas sustenta não ter o poder de obrigar qualquer cidadão a se transferir para eles.
Revitalizada e apresentada como um dos orgulhos do município, a Praça da Estação, no Hipercentro de BH, é um exemplo da extensão do problema. Seus quatro cantos são ocupados por moradores de rua. À tarde, eles aproveitam a água das fontes para tomar banho, se refrescar e escovar os dentes. A poucos metros dali, na Avenida do Contorno, na entrada do prédio da antiga Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as escadarias foram tomadas por um grupo de homens e mulheres, acompanhados de cães e de garrafas de bebida alcoólica. A Praça da Assembleia, no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul, também se tornou “a casa” de muitos deles.
Tormento
No Bairro Aeroporto, na Pampulha, moradores vivem um verdadeiro pesadelo, com a ocupação da Praça Santo Antônio, em frente à igreja. O problema será discutido numa audiência pública na Câmara Municipal, amanhã. Foram convocados o secretário municipal de Políticas Sociais, Jorge Raimundo Nahas, a secretária-adjunta de Assistência Social, Elizabeth Engert de Almeida, e o secretário da Regional Pampulha, Osmando Pereira, além de representantes comunitários.
Segundo moradores, pelo menos 18 homens e cinco mulheres vivem na praça. Cerca de cinco deles são velhos conhecidos da comunidade e ficavam no local sem causar transtornos. As dificuldades se iniciaram há cerca de dois anos, quando outras praças da região começaram a ser fechadas para reformas e os sem-teto se mudaram para a Santo Antônio. Entre eles, ainda de acordo com vizinhos, estão alguns marginais, que frequentemente promoveriam roubos e furtos. Por causa disto, as missas, os batizados e os casamentos na igreja são agora um tormento e, todos os fins de semana, carros estacionados na porta seriam alvo de arrombamentos. E alguns deles, por inúmeras vezes, teriam interrompido as celebrações para gritar e pedir dinheiro.
Os relatos foram feitos por várias pessoas, que não querem ser identificadas com medo de represálias. A igreja agora mantém os portões fechados para impedir a entrada destes moradores de rua. Principalmente quando chove, o hall do templo se torna abrigo para o grupo, que se espalha com sacolas, um fogão a lenha improvisado, animais e colchões. O bebedouro também precisou ser retirado e trancado numa sala, pois estava sendo usado até mesmo para banho. Nas casas do entorno, crianças são recomendadas a não chegar às janelas por causa das cenas de sexo explícito. “Já enviamos vários ofícios e requerimentos à prefeitura, mas ninguém faz nada. Os grupos de abordagem de rua alegam que não é crime ficar em via pública. Tentam convencê-los a ir para abrigos, mas eles não querem. Além de tudo isso, a praça agora é um ponto de bebida e de consumo de drogas”, reclama um morador, que pediu anonimato.
Alcoolismo
Morando nas ruas há 15 anos, Herbert Cleiton dos Santos, de 42 anos, conta que entrou nessa situação depois de ser expulso de casa pela família, cansada de seus problemas com o álcool. Ao lado dos amigos Marília Aparecida Carvalho de Oliveira, de 40, a moradora mais antiga, e Júnio Fábio de Souza, de 17, ele mesmo reconhece que os novos ocupantes da praça trazem problemas e incomodam, além dos casos de furto e roubo. “Não somos delinquentes. Ninguém pode viver nessa situação, isso não é vida para nós. Queria uma casa, mas minha casa é aqui na praça”, diz. Sobre os abrigos, ele afirma: “Já fiquei em alguns abrigos, mas a gente não se acostuma a viver com horários para tudo. Além disso, bebo, e lá não pode”.
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