A autoridade é um dom. É um dom porque é um instrumento de serviço. Não é um modo de auto-afirmação. É um serviço ao bem comum. Exige respeito à consciência e inclui o desafio de curar a humanidade. A autoridade é, pois, um instrumento indispensável para que a humanidade encontre o caminho de sua cura. Quando a sociedade ou instituições perdem o sentido da autoridade, descambam para o fosso da delinqüência. O serviço da autoridade como dom tem força para não permitir que pessoas, grupos, instituições e sociedades resvalem na direção desta atitude, que explica a violência crescente, a indiferença com a dor dos outros, a falta de compaixão, a mesquinhez dos interesses, bem como a tendência quase congênita à desonestidade e corrupção, aos absurdos da relativização de princípios morais gerando a cultura da permissividade e da imoralidade. O dom da autoridade é um instrumento terapêutico importante nesta cura da humanidade. O abandono ou desvalorização deste é um risco com conseqüências muito prejudiciais. A recomposição de cenários no contexto cultural, religioso e sociopolítico da contemporaneidade tem no dom da autoridade um indispensável instrumento. Com ele, o dom da autoridade recompõe, na compreensão e no sentimento de cada pessoa e de sua comunidade, o sentido do limite, do respeito, da dignidade, do sentido e do compromisso.
Também, a autoridade tem a propriedade de gerar no coração de quem a exerce configurações que mantêm e sustentam o sentido do serviço. No coração daqueles que são servidos pela autoridade, exercida como dom, deve estar a capacidade de percepção profunda que faz viver a vida com alegria e liberdade. É incontestável que o caos delinqüente que se acompanha no seio da sociedade contemporânea nasce da falta de autoridade, autoridade vivida como dom, instrumento de serviço e de cura. Este desafio tem nuanças diversificadas que revelam e comprovam o esvaziamento da autoridade no seu significado e a superficialidade no seu exercício. É necessário redobrar a atenção para este fenômeno, verificando suas conseqüências no tecido social. Este lamentável esvaziamento da autoridade, obviamente, tem tudo a ver com a incapacidade dos que a exercem.
O exercício da autoridade se configura numa perspectiva moral insubstituível. A moralidade é o alicerce de sustentação de toda autoridade no exercício do seu serviço. É verdade, por isso, que a autoridade moral é ouro. Um ouro que, lamentavelmente, tem sido de pouco apreço por parte dos que exercem, nas diferentes esferas e, com as mais variadas responsabilidades, a sua autoridade. De modo geral, confunde-se a autoridade com o desejo de poder. A conseqüência é esta terrível tendência a autoritarismos e manipulações interesseiras, envolvendo espuriamente a ganância pelo dinheiro e o desejo desmedido de auto-afirmação. Instituições e grupos estão se liqüefazendo porque os pares estão numa disputa canina na busca de autoridade como exercício de poder e de garantias, menos como serviço ao bem, à justiça e à verdade. Nenhuma autoridade tem o sentido de verdadeiro serviço ao bem comum quando sua sustentação não é a integridade moral. Isso significa dizer que não basta ocupar um cargo, ter sido eleito ou ter conquistado um lugar em razão da medição de desempenho ou mesmo de competência acadêmica. Não considerar esta dimensão é continuar a esvaziar o sentido autêntico da autoridade. Ora, uma autoridade exercida sem consistência moral da conduta pessoal e profissional de quem a exerce é um exercício da autoridade sem espinha dorsal de sustentação e com força indispensável de convencimento.
Não é raro constatar que muitos querem cargos e se propõem ao exercício de responsabilidades que, antes de tudo, supõem a competência para o exercício da autoridade. Este exercício tem sua alavanca mais importante de sustentação na moralidade do sujeito, de suas propostas, de suas alianças e dos seus compromissos com o bem comum. Outro aspecto lamentável desta liquefação da autoridade na sociedade contemporânea é a incompetência dos indivíduos para o reconhecimento da autoridade, renunciando a uma referência relacional indispensável para manter o seu equilíbrio e articulação social. Está-se perdendo o sentido da autoridade. Este fenômeno se revela na iconoclastia das atitudes de desrespeito ao exercício da autoridade, desde a maledicência gratuita e maldosa até o exagero da consideração de si mesmo como métrica e parâmetro de tudo. No respeito e exercício da autoridade, está, pois, uma indicação para que a sociedade contemporânea reencontre o seu caminho de equilíbrio. Vale lembrar o que foi dito de Jesus, quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum: “Ele ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas”. (Mc 1,22) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário