Os serviços de saúde mental no Brasil precisam melhorar muito. Precisamos de um número maior de centros de atendimento psicossociais (CAPs), de um investimento mais acentuado nas políticas de humanização dos atendimentos, também, de avançar e garantir a permanência dos serviços substitutivos ao modelo hospitalocêntrico – que perdurou por décadas –, no qual se “tratavam” os indivíduos portadores de sofrimento mental como inimigos do sistema, legitimando a exclusão, a tortura e a utilização dos “pacientes” enquanto cobaias dos “avanços tecnológicos”. Se avançar é preciso, não devemos, entretanto, admitir retrocessos que nos coloquem a serviço de ganhos financeiros garantidos pela manutenção dos serviços de internação que se baseiam no velho princípio do “poder de uns sobre os outros” – mesmo que, agora, esses serviços estejam revestidos de uma aparência clean, mas que, não obstante, atingem diretamente a integridade afetiva das pessoas.
Nossa aposta encontra na inclusão social o seu lugar privilegiado. Trabalhamos, junto à luta antimanicomial e à reforma psiquiátrica, para a construção de uma sociedade que respeite a diversidade humana, na qual o esforço de pertencimento não seja somente do indivíduo, mas, acima de tudo, da coletividade na qual ele vive. Nesse sentido, a inclusão social de um grupo de pessoas com sofrimento mental deve, obrigatoriamente, ocorrer pelo esforço de todos. Devemos admiti-los enquanto sujeitos dos seus direitos, não condicionando, em nenhuma hipótese, esse vir a pertencer a uma visão de grupos sociais, camadas sociais, profissões ou qualquer pessoa detentora de qualquer poder – mesmo que esse poder seja o conhecimento. Nessa ótica, o sujeito livre – cidadão –, ao confiar na ética profissional de quem quer que seja e confiar em um conjunto de métodos que se colocam a serviço do seu sofrimento, o faz acreditando que a profissão, seja ela qual for, autorizada pela sociedade para atendê-lo, não atuará em causa própria. Em momento algum acusamos ou acusaremos qualquer profissão por algo que a sociedade permite ou permitiu, mas levantaremos sempre a nossa voz para enfrentar “atos” segregadores, excludentes ou inibidores da autonomia humana – independentemente de serem religiosos, políticos, sociais ou científicos.
O dia 18 passado é dedicado à luta antimanicomial, data na qual convidamos a sociedade a refletir sobre a inclusão social dos portadores de sofrimento mental. Buscamos uma sociedade na qual não teremos mais manicômios, mesmo que isso resulte na angústia profissional da perda de poder sobre os pacientes. Queremos uma sociedade sem atos discriminatórios, portanto, inclusiva. E se estamos a caminho dessa construção, nada mais justo do que comemorarmos juntos nossas conquistas. |
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