Na psiquiatria, a questão envolvimento versus comprometimento é crucial. Qual a posição da família face ao paciente? E da sociedade? Quais as conseqüências desta postura? A Associação Brasileira de Psiquiatria/Regional Sudeste realiza em Belo Horizonte, de 1º a 14 de junho, sua 6ª Jornada Sudeste e 12º Congresso Mineiro de Psiquiatria, com o tema “Diretrizes para a assistência psiquiátrica: a formação do psiquiatra, a reforma e seus impasses, psiquiatria e cidadania”.Quando a psiquiatria se propõe isoladamente a responder pelo tratamento do doente mental, sem considerar a extensão do seu universo como referência para sua intenção de cuidá-lo, estará fazendo uma proposta destinada ao fracasso.
A reforma da assistência psiquiátrica no Brasil, como vários outros movimentos históricos, teve início em Minas, em 1978, nos preparativos do 3º Congresso Mineiro de Psiquiatria, que, abrindo as portas dos hospitais aos familiares e à imprensa, permitiu a construção de projetos que vêm mudando radicalmente o tratamento. Comemoramos, portanto, 30 anos do início do movimento da reforma psiquiátrica e nosso encontro se propõe a avaliar os avanços e impasses encontrados. Daí para cá, muito trabalho e muitas conseqüências: a princípio, a revolta dos familiares com as condições de atendimento dos pacientes; posteriormente, a implicação da família e da comunidade com a doença mental, a criação dos novos dispositivos assistenciais, como os núcleos de atenção psicossocial, os hospitais-dia, os centros de convivência, a modernização dos hospitais e seus projetos terapêuticos, o reforço dos ambulatórios. Sempre com a presença da família, pois não se concebe mais tratamento psiquiátrico sem esse envolvimento.
Junto ao importante desenvolvimento da farmacologia, que permitiu, sem dúvida, um grande avanço nos tratamentos dos transtornos psiquiátricos, inclusive evitando-se, muitas vezes, as internações, a psiquiatria vem avançando graças principalmente a três mudanças de posição: do psiquiatra – que, mesmo dirigindo o tratamento, reconhece não poder trabalhar isolado; dos familiares – que têm fundamental participação em relação à responsabilidade do tratamento; e do próprio paciente – que percebe ter que sair da posição passiva de vítima e conquistar seu lugar de sujeito e cidadão, com as responsabilidades implícitas. Essas mudanças de posições trazem, ao psiquiatra e ao paciente, novas possibilidades, permitindo passarmos da doença mental à saúde mental. A psiquiatria é, portanto, uma especialidade médica que não se desenvolve isoladamente, na assepsia dos hospitais, laboratórios ou consultórios. Ela tem conexões claras com a ciência, cultura, com a política e o social. Por isso, mais que qualquer outra especialidade médica, um congresso psiquiátrico deve trazer conseqüências que se articulem com esses campos, para se justificar. |
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