BOLSA FAMÍLIA E TERRORISMO ELEITORAL Por Reinaldo Azevedo Lula esteve ontem em Pernambuco e concedeu uma entrevista a um programa popular de rádio. E mandou ver: “Tem gente que fala mal do Bolsa Família. São R$ 80, R$ 90, R$ 95, R$ 65, e tem gente que acha ruim. Tem gente que fala que é esmola. Eu acho que, para o cidadão que pode entrar em um hotel cinco estrelas e pode dar de gorjeta, depois de tomar os seus uísques, R$ 100 não é nada. Mas dê R$ 100 na mão de uma mãe para você ver a multiplicação dos pães que ela faz". Estava se referindo, mais imediatamente, ao senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que, na já histórica entrevista à VEJA, apontou a exploração eleitoreira do Bolsa Família. Destaco: Vasconcelos não atacou nenhum programa emergencial de combate à pobreza. Disse o óbvio: na forma como se faz a coisa, tem-se a maior máquina eleitoreira do mundo. A prova estava anteontem nos jornais. O programa destinado a criar portas de saída do Bolsa Família não conta com um miserável tostão. Saída para quê? Lula sabe muito bem que a entrada no programa corresponde à entrada de voto na urna. O PMDB não teve a coragem de atacar Jarbas frontalmente. Nem precisava. Lula, como se vê, foi a Pernambuco e fez o serviço, agindo, nesse caso, como um bom subordinado de Renan Calheiros. Mas é claro que sua fala tem alcance maior, né? Já começou a fase de reciclagem do mito do “Lula social” com vistas à eleição de 2010. E o motivo é claro. Dilma, se for mesmo a candidata do PT, não conseguirá opor um “PT da fazeção” a um “PSDB da retórica”. Tal confronto é falso. Há o que mostrar. E os petistas têm motivos, claro, para estar convencidos de que não se ganha uma eleição só com a verdade... Terei sido muito sutil? Tática Pipoca O governo se prepara para usar a “Tática Pipoca do Desafio”. Pipoca, sabem, é a vira-latinha aqui da casa, mixuruca toda vida. A gente dá pra ela uns pedacinhos de couro de boi, especialmente preparados para limpar os dentes e cuidar do hálito, uma recomendação do veterinário — alguns humanos deveriam mascá-lo, se é que me entendem... É batata: é ganhar um pedacinho daquele troço, ela pega a sua jóia entre os dentes e corre para o seu cafofinho e fica lá por uns dois ou três minutos. Depois volta com ele na boca, larga em algum lugar mais ou menos ao alcance dos adversários da hora (os moradores da casa) e se mantém na vigilância, a uma distância prudente. É supor que alguém se move em direção a seu precioso bem, ela corre, chega antes, pega o troço nos dentes e sai no que os cronistas de antigamente chamariam “desabalada carreira”. E a coisa se repete algumas vezes. Digo a Dona Reinalda que a bichinha detesta o tal courinho. Ela gosta mesmo é de ganhar na corrida. Ninguém ameaça, em suma, o courinho da Pipoca ou o Bolsa Família de Lula. Mas Pipoca nos desafia: “Venham pegar o meu courinho, venham... Vocês não vão conseguir, não vão...” Ou então: “Ah, eles querem acabar com o Bolsa Família; olhem aqui o Bolsa Família; eles não gostam do Bolsa Família!!!”. E, bem, ninguém vai acabar com o Bolsa Família. Nem quer isso. Esse troço vai continuar com Dilma Serra, Aécio ou o J. Pinto Fernandes, que, até agora ao menos, não entrou na história. As bobagens de Pipoca são sinceras e irrelevantes, como supõem. As do PT, nem tanto. É bom a oposição se preparar. Para a ponta da pirâmide, Dilma (ou alguém em seu lugar) vai se apresentar como a solução conservadora — haverá o "Cuidado com Serra; ele é meio esquerdista..." Para a base, assistiremos à volta do discurso do “social”. O terrorismo de 2006 foi a acusação de que o PSDB, se vitorioso, privatizaria as estatais. NOTA: ontem, no Roda Viva, Eliane Cantanhede, acreditem, teve a coragem de perguntar a FHC se isso não havia uma ponta de verdade nisso, já que Geraldo Alckmin, o candidato de então, estaria “mais à direita...” Era terrorismo eleitoral, como até as pedras sabem. Em 2010, o medo tentará vencer a esperança também com o fantasma do fim do Bolsa Família. A cascata já começou. |
Por Reinaldo Azevedo |
Um blog para discussão de temas pertinentes a Cena do Hip Hop em toda a sua abrangência como forma de Cultura e instrumento de luta e afirmação.
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