Há 11 anos, em viagem à China, encontrei mulheres ativistas que me relataram seus esforços para melhorar a situação da mulher no país. Elas me apresentaram um vívido retrato dos desafios enfrentados pelas mulheres: discriminação no emprego, assistência médica inadequada, violência doméstica, leis antiquadas que impediam o avanço das mulheres. Reencontrei algumas delas há poucas semanas, durante minha primeira viagem à Ásia, como secretária de Estado. Desta vez, ouvi progressos obtidos na década passada. Porém, mesmo após alguns avanços importantes, essas mulheres chinesas não deixaram dúvidas de que ainda existem obstáculos e injustiças, como ocorre em muitas partes do mundo.
Tenho ouvido histórias como as delas em todos os continentes, à medida que mulheres buscam oportunidades para participar de forma integral da vida política, econômica e cultural de seus países. E, hoje, ao comemorar o Dia Internacional da Mulher, temos a chance de avaliar tanto os avanços conquistados quanto os desafios remanescentes – e de pensar sobre o papel vital que as mulheres devem desempenhar na ajuda à solução dos complexos desafios globais deste século. Os problemas que enfrentamos hoje são demasiadamente grandes e complexos para serem resolvidos sem a plena participação das mulheres. Fortalecer os direitos das mulheres não é somente obrigação moral constante: é também uma necessidade, no momento em que enfrentamos uma crise econômica global, disseminação do terrorismo e das armas nucleares, conflitos regionais que ameaçam famílias e comunidades e mudanças climáticas com seus respectivos perigos para a saúde e a segurança mundiais.
Esses desafios exigem tudo o que temos. Não os resolveremos com meias medidas. No entanto, com demasiada frequência metade do mundo é deixada de fora destas questões e de muitas outras. Atualmente, mais mulheres chefiam governos, empresas e organizações não-governamentais (ONGs) do que nas gerações anteriores. Mas essa boa notícia tem outro lado. As mulheres ainda constituem a maioria dos pobres, desnutridos e não escolarizados do mundo. Ainda estão sujeitas a estupro como tática de guerra e ainda são exploradas em âmbito mundial por traficantes, em atividades criminosas que rendem bilhões de dólares.
Crimes em nome da honra, incapacitação e mutilação genital feminina, além de outras práticas violentas e degradantes cujo alvo são mulheres, continuam a ser tolerados atualmente em muitos lugares do mundo. Há apenas alguns meses, uma jovem do Afeganistão estava a caminho da escola quando um grupo de homens lhe jogou ácido no rosto, causando-lhe danos permanentes à visão, só porque se opunham à sua busca por instrução. A tentativa de aterrorizar a moça e sua família fracassou. Ela afirmou: “Meus pais me disseram para continuar a ir à escola, ainda que possa ser morta”.
Especialmente em meio a esta crise financeira, devemos lembrar o que um conjunto crescente de pesquisas nos diz: o apoio a mulheres é um investimento de alto retorno, que resulta em economias mais fortes, sociedades civis mais vigorosas, comunidades mais saudáveis e mais paz e estabilidade. E investir em mulheres é um modo de apoiar futuras gerações: as mulheres gastam a maior parte de sua renda em alimentos, remédios e escolas para os filhos. Mesmo em países desenvolvidos, o pleno poder econômico das mulheres está longe de ser alcançado. Mulheres de muitos países continuam a ganhar muito menos que os homens para fazer os mesmos serviços – uma lacuna contra a qual o presidente Barack Obama deu um passo adiante nos Estados Unidos este ano, ao assinar a Lei Lilly Ledbetter de Pagamento Justo, que fortalece a capacidade das mulheres de contestar salários desiguais.
É necessário dar às mulheres a oportunidade de trabalhar com salários justos, ter acesso a crédito e abrir negócios. Elas merecem igualdade na esfera política, com acesso igual à urna eleitoral, liberdade para apresentar reivindicações ao governo e candidatar-se a cargos públicos. Elas têm direito à assistência médica para si e suas famílias e o direito de enviar os filhos à escola - tanto filhos quanto filhas. E desempenham um papel vital no estabelecimento da paz e da estabilidade no mundo inteiro. Em regiões arrasadas pela guerra, são frequentemente mulheres que dão um jeito de superar diferenças e descobrir interesses comuns.
Ao viajar pelo mundo em minha nova função, não me esquecerei das mulheres que já encontrei em todos os continentes, mulheres que lutaram contra adversidades extraordinárias para mudar leis de modo a poder possuir bens, ter direitos no casamento, frequentar escola, apoiar a família e até atuar – trabalhando com meus pares de outras nações, assim como com ONGs, empresas e indivíduos – para continuar a promover o avanço dessas questões. Reconhecer o pleno potencial e o comprometimento de mulheres e meninas não é apenas questão de justiça. Trata-se de fortalecer a prosperidade, o progresso e a paz global para as próximas gerações. |
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