OLHAR CRIATIVO


Câmera e ação em Cataguases

Ricardo Beghini

O cineasta Glauber Rocha, maior representante do Cinema Novo, dizia que bastava “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Em Cataguases, na Zona da Mata, a 311 quilômetros de BH, uma nova geração de operários põe em prática a famosa frase. Eles são funcionários da Fábrica do Futuro, onde câmeras, microfones e criatividade são as principais ferramentas de trabalho. Parcerias com empresas privadas formam a matéria-prima da ONG, que produz vídeos, filmes, sites, áudios e fotografias com o trabalho de jovens da região.

Desde que foi criada, em 2003, pelo Instituto Cidade de Cataguases, a Fábrica do Futuro se envolveu em cerca de 50 projetos, oficinas e encontros, visando à produção de conteúdos audiovisuais. As iniciativas, que atualmente proporcionam trabalho para 12 pessoas, pretendem convergir para o estabelecimento de um polo audiovisual no município, focado em novas tecnologias de comunicação. “Será o maior produto da Fábrica do Futuro”, ressalta o coordenador de comunicação e de projetos da ONG, Gustavo Baldez. Viabilizado por uma parceria com o Sebrae, a previsão é de que o prédio do polo fique pronto até 2011.

Além de um passado cinematográfico fértil, os projetos que culminarão no polo contam com apoio de grandes empresas de atuação regional, entre elas a Energisa, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), Vivo e Companhia Industrial Cataguases, que, por meio do Instituto Francisca de Souza Peixoto, acolheu a sede da ONG entre 2005 e 2007. As empresas parceiras aproveitam os benefícios fiscais dos projetos geridos pela organização, geralmente enquadrados em leis de incentivo à cultura. “A credibilidade conquistada pela Fábrica do Futuro também pesa na decisão das corporações”, assinala Bárbara Piva, produtora cultural da entidade. De acordo com ela, a ONG cataguasense foi a primeira de Minas Gerais e a quarta do país a ganhar o status de ponto de cultura, título concedido pelo Ministério da Cultura, em 2005.

“Logo nos primeiros contatos, percebemos que a conexão seria especial, que iria muito além da relação patrocinador-patrocinado. Hoje, a Fábrica do Futuro é um dos parceiros com quem a Vivo compartilha o planejamento e as discussões mais estratégicas sobre a política cultural que a empresa realiza”, destaca Marcos Barreto, gerente de Desenvolvimento Cultural da Vivo. A operadora, por meio do Instituto Telemig Celular, se tornou uma das principais parceiras. Patrocina os projetos Rede Geração Digitaligada de Webvisão, Identificart, Conexão Digital e Cidades Digitais.

MERCADO Neste último trabalho em conjunto, foram produzidos fotos, vídeos e áudios com conteúdos culturais sobre Cataguases, Ouro Preto, Diamantina, Tiradentes, Itabira e Belo Horizonte. Em fase de finalização, o material poderá ser reproduzido em celulares de clientes da Vivo que moram ou estão de passagem por essas cidades. Berço do modernismo mineiro, Cataguases abrigou o cineasta atualmente considerado o pai do cinema brasileiro. Entre 1925 e 1930, Humberto Mauro iniciou a carreira na cidade, onde gravou Valadião, O cratera, Os três irmãos, Na primavera da vida, entre outros longas históricos.

Nenhum comentário: