Ao mesmo tempo em que as mulheres têm sofrido com a violência de maneira específica – o que muitas vezes não é reconhecido pelas instituições -, elas têm se tornado fortes lideranças na defesa dos direitos humanos.
A avaliação é do pesquisador da Anistia Internacional para temas relacionados ao Brasil, Tim Cahill. “Elas buscam sair da condição de vítimas e passam a protagonizar soluções. Têm a coragem, dedicação e, digamos, a paciência para estar a frente da luta” afirmou em entrevista à Agência Brasil.
A coordenadora organização não-governamental de mulheres negras Criola , sediada na capital fluminense, a médica Jurema Wernek, aponta o protagonismo das mulheres na resolução de problemas das comunidades.
Para Jurema, embora as mulheres ainda sejam ameaçadas, humilhadas pelas diversas instâncias de poder, abusadas e até mesmo mortas na defesa dos direitos de todos, como mostram pesquisas, “não desistem porque têm um compromisso com a vida”.
“As mulheres não recuam diante dos problemas. Vão ao tribunal do tráfico, acompanham a Polícia - para impedir que agrida os detidos - e vão aos tribunais de justiça. Apesar do medo, em nome do compromisso com a vida, fazem tudo”, afirmou.
Na região metropolitana do Rio de Janeiro, a Associação de Familiares e Amigos das Vítimas de Violência na Baixada Fluminense é um exemplo da mobilização de mulheres a partir de situações de violência.
Há quatro anos, movidas pelo desejo de justiça, mães, irmãs e esposas de 29 mortos durante uma chacina criaram a associação que hoje tornou-se um movimento em defesa dos direitos humanos.
A coordenadora da associação, a doméstica Cátia Patrícia da Silva, 34, destaca a participação feminina na organização. Segundo ela, as mulheres, “foram mais corajosas” e não se intimidaram com ameaças. Cátia conta que, no primeiro momento, elas se reuniram para cobrar indenizações, mas hoje auxiliam outras famílias que passam por situações semelhantes a superarem o medo e o trauma da violência e a procurarem a Justiça.
Mãe Beata de Yemanjá, 78, de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, é outro exemplo de liderança feminina na luta contra a violência. Há décadas, ela trabalha orientando mulheres vitimizadas e falando sobre cidadania. Os temas vão desde a importância da gravidez assistida, o acesso à creches até o problema da homofobia.
“Faz parte da minha tarefa como mulher negra, do Candomblé - onde nasci e me criei - , da minha identidade”, disse Mãe Beata.
Promovendo seminários em parceria com governos e organizações não-governamentais e orientando pessoas nas suas casas ela acabou se tornou referência para uma rede informal de terreiros, que, desde a década de 1980, busca promover a cidadania nas localidades onde estão inseridos divulgando informações sobre violência, preconceito, saúde e outros direitos.
Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
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