Custo não é único ponto de avaliação

Juarez Rodrigues/EM - 4/12/06
Programas mostram que investimento social é a melhor arma da paz
A pesquisa do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) analisou programas que não têm como foco principal o combate à violência, mas que acabam interferindo nessa realidade. É o caso do Bolsa-Família, iniciativa focada na transferência de renda. A cada R$ 1 milhão investidos no programa, 88 crimes futuros são evitados. As pesquisadoras Betânia Peixoto e Mônica Viegas adaptaram para o Brasil uma metodologia de avaliação econômica de programas desenvolvida pelo Washington Institut of Public Policy, em 1998. Na época, a análise comparou projetos desenvolvidos em regiões da Califórnia, nos Estados Unidos. São locais em que a violência gerava uma perda de bem-estar para a sociedade, o que se refletia em menos qualidade de vida e no aumento dos recursos financeiros alocados para prevenção e combate.

Como não há no Brasil informações sobre a efetividade dos programas sociais desenvolvidos, as pesquisadoras usaram taxas de projetos similares no exterior. “Reconhecemos a fragilidade dessa escolha, em função das possíveis particularidades existentes nos programas desenvolvidos no Brasil”, disseram as autoras. Elas explicam que as taxas sofreram correções para que essa fragilidade fosse contornada. No estudo, os crimes evitados são calculados considerando como cada intervenção impactaria ao longo da suposta carreira criminal de um indivíduo.

Doutoranda em economia e pesquisadora do Crisp, Betânia Peixoto lembra que programas mais caros com menores taxas de redução de criminalidade não devem ser extintos. “Cada um atua em determinado momento e é responsável por uma fração do atendimento”, afirma ela, citando a experiência da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac). A iniciativa apresenta o custo mais alto entre os programas analisados (R$ 4,8 mil/pessoa). Mas é metade do custo do sistema carcerário tradicional (R$ 14,4 mil/pessoa, em média).

Betânia, contudo, defende a idéia de que o Fica Vivo tenha um prazo de duração, ainda que a longo prazo, até que a população procure formas de perpetuar a iniciativa por conta própria. Por isso, o envolvimento da comunidade é fundamental. (TH)

Reflexão

Eu gosto da oficina do Fica Vivo da qual faço parte. Acho que o programa tem um lado bom, porque traz uma opção de entretenimento e formação. Na atividade, aprendemos muito sobre vídeo, comunicação e ética. Já assisti documentários que ampliaram minha visão e a dos meus colegas de oficina sobre o papel da comunicação e audiovisual. Para os jovens da comunidade, é ótimo ter mais uma opção.

O programa ainda tem alguns problemas. Acho que falta incentivo financeiro e profissional para os jovens se manterem longe da criminalidade. Para mais pessoas participarem, também seria importante fazer mais propaganda na comunidade. Mesmo assim, as pessoas começaram a ver a gente usando a camisa do programa, segurando a câmera, e algumas ficam interessadas. Elas perguntam “o que significa o Fica Vivo?”. Depois, percebem que é a idéia do tipo “fique esperto”, “não fique morto”.

Daqui para a frente, pretendo me especializar em vídeo, acho que gosto mesmo é de trabalhar com direção.


Nilo Augusto Paiva, 16 anos, estudante do 1º ano do ensino médio, há um ano participa de oficina de comunicação do Fica Vivo no Morro das Pedras, na Região Oeste de BH.

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