BH tem mais um espaço para o Hip Hop


As diversas linguagens que formam o Hip Hop — rap, graffite, break, DJs — têm um encontro marcado no projeto Hip Hop Aciona, que acontecerá duas vezes por mês, até o final do ano, sempre a partir das 15h, na (Rua Timbiras, 2330). As entradas custam R$ 5 (masculino) e R$ 3 (feminino).

A estréia será no domingo (10/05), com as presenças dos grupos “Sem Meia Verdade” e “Apologia X”, além do DJ Tavim. Na segunda edição (24/05) participam os grupos Ideologia Feminina e Retrato Radical e DJ Tavim. O evento é organizado pelo D-vEr.CidaDe CuLturaL.

Atrações

Sem Meia Verdade – Formado em 2003 por THL e RUD, seu primeiro trabalho “Pregando no Inferno” foi lançado em 2005. Em 2008, lançaram, o CD “Ao Vivo e aos Corres” cujas letras procuram sempre relatar o cotidiano da periferia e falara de sua fé em Deus. O grupo tem três possui três clips na Internet que fazemm muito sucesso: “Pra Maloca Pirar”, “Invadido os Barracos” e “Trem Cabuloso”. Sem Meia Verdade integra a organização “Nós Pega e Faz”.

Apologia X - No ano de 1998 surgiu na região Nordeste de Belo Horizonte, o grupo Apologia X que após várias formações é integrado hoje por Brunão (vocal), Satiro (vocal), Alexandre Gordo (vocal) e Bruno (baixo) Suas letras misturam uma poesia para perturbar mentes acomodadas com batidas sonoras de rap, ragga, reggae, congado, new metal, rard core e mangue biat. O grupo já participou de diversas coletanias, ente elas “Estrada Real Rap” (2007), “Isso é só o começo” (2006), “Rap Total” (2008) e no DVD do rapper Russo, com a música SK8. No momento, o Apologia X finaliza seu primeiro CD “Nem Tudo é Perfeito” que será lançado pelo o selo Xeque Mate Produções.

Ideologia Feminina – Criado em 2006 por Maria Alice (que realizava trabalhos solo no Hip Hop), Aline Cecilia de Paula (militante estudantil), Zaika dos Santos (participações com o rapper Vulgo Elemento e no grupo Projeto Feminil) e o DJ Edivânio, o Ideologia Feminina fala de respeito e de igualdade na sociedade, incentivando a força de vontade para alcançar os objetivos da juventude. O som é dançante e as letras positivas propõem a união.

Retrato Radical – Criado há 14 anos na Região Oeste de BH, o Retrato Radical apresenta letras politizadas sem perder, no entanto, a essência do Hip Hop. Contam sempre com a performance inconfundível do DJ Pooh e dos vocais de Canela Fina, Radical T e de Jaqueline. O grupo já lançou três trabalhos: o primeiro em vinil, “Não Seja Mais Um” (1995) e os CDs “O Barril Explodiu” (2005) e “Homem Bomba, do final de 2008. O clip recém lançado “Sete-oito” ficou entre os quatro melhores na premiação do Hutuz 2008, realizada pela a Cufa/RJ.

Organizador do evento

O grupo D-vEr.CidaDe CuLturaL é uma rede de agentes culturais juvenis surgida no projeto “Formação de Agentes Culturais Juvenis”, desenvolvido pelo Observatório da Juventude da Faculdade de Educação da UFMG. O projeto, voltado para 15 comunidades da Região Metropolitana, se iniciou em 2002 com o objetivo de potencializar as ações já desenvolvidas por jovens de vilas e favelas ligados a várias atividades socioculturais. Esses jovens participavam de grupos de diferentes linguagens artísticas e o papel do projeto foi, ao longo de dois anos, capacitá-los com subsídios teóricos e práticos para o melhor desenvolvimento de suas habilidades.

Em 2003, com a finalização da formação, os jovens continuaram se encontrando para desenvolver ações coletivas, como o 1º e o 2º Seminário de Políticas Públicas de Belo Horizonte (2003 e 2005), o Encontro Estadual de Redes de Juventude (2004), além de uma diversidade de ações e de eventos culturais.

Para a realização dessas atividades, em muitas ocasiões, o grupo dependia de outras entidades parceiras para receber recursos. Por isso, em 2005, o grupo se constituiu em pessoa jurídica — a Associação D-vEr.CidaDe CuLturaL. Ao longo desses anos, a associação vem construindo, junto a entidades e movimentos que atuam na promoção da cultura, cidadania e dos direitos humanos, uma rede de formação política e cultural que fomenta a articulação entre grupos juvenis, principalmente em vilas e favelas da Grande BH.

A entidade tem como missão a inserção da juventude em atividades de transformação social, afirmação de culturas populares, incentivar a formação e atuação juvenil, criando condições de emancipação política e econômica por meio do desenvolvimento de projetos de geração de renda e trabalho em economia solidária.

Mais informações:

D-vEr.CidaDe CuLturaL – Roberto Raimundo (8891-6386) e Russo (8855-8395)

http://d-vercidadecultural.blogspot.com

Grupo Sem Meia Verdade – THL (9184-0959) ww.myspace.com/semmeiaverdade

Grupo Apologia X Brunão (9221-4794) www.myspace.com/apologiaxmg

Grupo Ideologia Feminina – Zaika (8563-4952) ww.myspace.com/ideologiafeminina

Grupo Retrato Radical – Gem (8717-5765). www.myspace.com/retratoradical

CUFA BH Abre inscrições para o RPB


CUFA Bh abre inscrições para o RPB etapa de Belo Horizonte.

Para realizar sua inscrição faça o download dos abaixo e os reenvie em anexados nos e-mails: cufabh@cufabh.org e comunicacao.cufabh@cufabh.org.

Instrumento de autorização para utilização de imagem e som de voz e obra musical

Ficha de inscrição

Regulamento

Informações : (31) 9212-8829 (MT Ton) ou (31)9339-1852 (Elias).

ÚLTIMOS DIAS PARA INSCRIÇÕES NO
PROGRAMA VOZES DO MORRO


Artistas da periferia de BH, Ibirité, Ribeirão das Neves e Santa
Luzia têm até quinta-feira, dia 30/04, para inscrever seus trabalhos


Músicos da periferia de Belo Horizonte, Ribeirão das Neves, Ibirité e Santa Luzia, quinta-feira, dia 30/04, encerram-se as inscrições para o Programa Vozes do Morro. Os artistas interessados devem inscrever até duas músicas, de qualquer gênero e com duração máxima de três minutos cada, na Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais ou por Correio.

Os dez finalistas selecionados gravarão uma faixa musical e um videoclipe, veiculados durante o ano nas emissoras de TV e rádio que apóiam a iniciativa. Na web, o site e do canal no Youtube do Programa Vozes do Morro trazem atualizações constantes sobre o trabalho de cada artista e um grande show, realizado no final do ano, marcará o encerramento da Edição 2009.

Com o objetivo de divulgar e valorizar a produção musical das vilas, favelas e aglomerados da região, o Programa Vozes do Morro é uma iniciativa do Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura, Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) e Sindicato das Empresas de Rádio de Televisão de Minas Gerais (SERT – MG), com o apoio do Sebrae MG.

Em 2008, foram quase 500 inscritos, sendo 14 novos talentos revelados: Blast Girls; Cirandeiros; Instinto Coletivo; Ivo do Pandeiro; Kayajhama; Maria Pretinha; Rafael Dias; Solene Martins; Tom Nascimento; Verdade Seja Dita; Anjos de Metal; Domingos do Cavaco; Mente Fria e Brother Soul; Pastora Cleide.

Segundo Andréa Neves, presidente do Servas, “O Vozes do Morro é um programa de democratização, de inclusão cultural e social, que cria oportunidades e rompe barreiras. A música, com seu poder aglutinador, dá o tom de uma ação que mobiliza centenas de pessoas, abrindo janelas por onde podemos nos enxergar melhor, e portas por onde podemos nos aproximar mais uns dos outros”


O formulário e o edital estão disponíveis no site Vozes do Morro, que também divulgará o resultado, no dia 17 de junho. Para mais informações, acesse: www.vozesdomorro.mg.gov.br

Colaboração : Lívia Ascava

Movimentos que brotam da vida

Dia Internacional da Dança em ruas e praças da cidade

Walter Sebastião

Jair Amaral/EM/D. A Press - 18/9/07
Esquiz, da Cia. SeráQuê?: diálogo com a cultura popular

Dança na rua para chamar atenção de arte que quer mais apoio, incentivo e profissionalização da atividade. Vão ser assim as comemorações do Dia Internacional da Dança, em Belo Horizonte. A Mimulus Cia. de Dança faz intervenção urbana, a partir das 14h, na estação do metrô Carlos Prates; a SeráQuê? apresenta, às 19h, no Centro Cultural UFMG, o espetáculo Esquiz: alma e raízes de um povo revisitadas. E as performers e produtoras Paola Parentoni e Marcelle Louzada convocam bailarinos e pessoas interessadas em dança para encontro e improvisos, a partir das 18h, na Praça da Estação. Tudo com entrada franca.

“Ser um trabalhador da cultura ainda soa insólito para a população e a sociedade”, afirma Rui Moreira, diretor da SeraQuê?. O Dia Internacional da Dança, para ele, é oportunidade para defender a profissionalização da atividade e dos que atuam no setor, cadeia produtiva extensa, que abarca criadores, técnicos etc. Como conta, ainda persiste a ideia de que arte é sinônimo de paixão e exercida de forma amadora. Até aumentou o número dos que vivem da atividade, observa, mas a grande maioria ainda não atingiu esse patamar, com toda a repercussão jurídica que ele representa, o que também atrapalha reconhecimento diferente dos agentes e protagonistas. Reivindica mais: “Gostaria que a dança fosse vista como área de conhecimento e não só como entretenimento”.

Esquiz, da Cia SeraQuê?, traz montagem apresentada somente uma vez em Belo Horizonte, primeira peça de trilogia voltada para investigação da cultura popular, cuja terceira obra ainda está em produção. “É trabalho com foco específico no movimento devocional das festas afro-mineiras, operando com signos que mostram todo o sincretismo dos festejos populares”, explica o bailarino e coreógrafo.
Recursos

“A cultura brasileira precisa de mais apoio”, afirma Jomar Mesquita, de 38 anos, diretor da Mimulus Cia. de Dança. Se todos sofrem com a falta de recursos no setor de artes cênicas, “e talvez mais ainda no da dança”, o problema é crítico. “Trata-se de criar mais oportunidades de oferecer espetáculos ao público, de contribuir para o crescimento da qualidade e dar condições de sobrevivência a grupos e artistas”, explica. “Investir em cultura, não só interessado em renúncia fiscal, traz benefícios para empresas e população”, completa. A intervenção urbana da Mimulus traz recriações, para espaços públicos, de fragmentos de espetáculos do grupo. “É arte nas ruas para surpreender as pessoas”, garante o diretor, recém-chegado de temporada na Espanha.


Improviso para o corpo

Dando encaminhamento a proposta de manifestação da dança, em escala nacional, surgida no Festival de Curitiba, as produtoras e performers Paloma Parentoni e Marcelle Louzada estão convocando bailarinos e todos os interessados em dança para encontro, às 18h, na Praça da Estação. “Vamos ocupar a praça e realizar, como fazem os músicos de jazz, uma jam session”, conta Paloma.

Ela explica que cerca de 20 bailarinos já aderiram à manifestação. “Gostaríamos que as pessoas enxergassem mais a dança contemporânea feita no Brasil”, afirma a produtora. Ela alerta que a situação é de pouco público e muitos espetáculos. “São criações que engrandecem a alma do bailarino e do espectador, que fazem pensar no corpo como centro do mundo, o que traz equilíbrio”, garante Paloma Parentoni. (WS)


Programação
14h – Intervenção urbana da Mimulus Cia. de Dança, na Estação Carlos Prates do metrô de BH, Avenida Nossa Senhora de Fátima, 2.875.
18h – Improvisação e encontro de bailarinos na Praça da Estação.
19h – Esquiz: alma e raízes de um povo revisitadas, com a Cia. SeráQuê, no Centro Cultural da UFMG, Av. Santos Dumont, 174, Praça da Estação, (31)3409-1090.

Hip Hop Com Raiz Mineira

Janaina Cunha Melo

Weber Padua/Divulgação
Malucofonia lança disco amanhã, em Belo Horizonte

O DJ Roger Dee lança o CD Malucofonia, amanhã, no Stúdio Bar. Veterano no hip hop mineiro, ele reuniu artistas de diferentes vertentes do gênero para compor o trabalho. Matéria-Prima, Cubanito, Julgamento, Dokttor Bhu e Shabê, Ruibarbo, NUC, Luciano e Sério Pererê e Maurício PC são os convidados do projeto e participam da festa, que tem ainda os DJs Deivid, Fausto e Kowalsky. Com a intenção de revelar panorama da cena atual, ele comprova a efervescência desta produção na cidade e assegura que tem bala na agulha para outros volumes.

“O que está neste CD é o mínimo do que tem sido feito. Belo Horizonte, em termos de hip hop, tem muito mais vertentes”, comenta o DJ. Para ele, a produção desta coletânea também tem a intenção de promover diálogo entre os grupos e valorizar o trabalho de cada um deles. Mistura com samba, discurso contundente, sátira e underground são algumas das abordagens que constam na leitura dos grupos. “BH é uma feira, com muita variedade e vários sons de qualidade”, reforça.

Para Roger Dee, este é um reflexo positivo de característica apontada como “defeito” dos mineiros. De certo modo fechado para influências de outros estados, os artistas locais conseguiram construir identidade própria nos elementos da cultura hip hop. Rappers e MCs, que investiram na cena nos anos de 1980, perderam fôlego uma década depois, mas demonstram novo momento de impulso criativo, com inspiração inclusive na cultura regional. “Para fazer boa música, é preciso ouvir outros estilos, para alimentar os conhecimentos. Essa é uma lição básica, que os mestres ensinaram”, diz o veterano, que entrou para o movimento como b.boy e 10 anos depois investiu na pesquisa da música popular brasileira como DJ.

MALUCOFONIA
Stúdio Bar, Rua Guajajaras, 842, Centro, (31) 3224-1251. Amanhã, 22h. R$ 10.

Ronaldo e o rapper ex-assaltante

Gilberto Dimenstein

O jogador Ronaldo e o rapper Afro-X têm idades semelhantes, são negros, pobres, viveram em locais infestados pelo crime e cometeram muitos erros por não saber lidar com o sucesso.

O jogador ficou milionário. O cantor ganhou muito dinheiro e perdeu tudo, além de ter passado sete anos na cadeia e mais sete em liberdade condicional. A diferença é que, nesta semana, um deles dá um péssimo exemplo educacional --e o outro um ótimo exemplo.

Afro-X está lançando um livro em que conta suas agruras para tentar mostrar aos jovens o que acontece com quem entra no caminho do crime (trechos do livro estão no www.catracalivre.com.br). Ele viu como se costuma respeitar a delinquência entre crianças e jovens mais pobres. Não vai ganhar quase nada com esse trabalho. "Quero ser um educador", propõe.

Ronaldo, que não precisa de dinheiro, e sabe (ou deveria saber) o que significa o perigo do álcool, especialmente nas comunidades pobres, está usando sua imagem de "guerreiro" e ídolo para convencer as pessoas a beber mais. Justo agora que ele aparece como alguém que sabe dar a volta por cima --a mensagem por trás disso é que os guerreiros, os fortes, podem e devem beber. É, portanto, um deseducador.

Não vi nenhuma gravidade nas trapalhadas sexuais de Ronaldo --afinal, ele faz o que quiser com sua vida e ninguém tem nada com isso. Grave mesmo é ele usar seu prestígio entre as crianças e jovens para estimular o consumo do álcool.

Seria bom que ele aprendesse alguma coisa com os exemplos de Afro-X.

Trabalho e cidadania

A paz duradoura tem que contemplar a justiça social

Maria Amélia Bracks Duarte -Procuradora do Trabalho em Minas Gerais

Avizinha-se o Dia do Trabalho, em 1º de maio. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados no fim de abril, enquanto na Grande BH a taxa de desempregados teve um pequeno recuo de 6,8% de fevereiro para 6,6% em março, nas demais metrópoles pesquisadas (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife e Salvador), a situação do mercado de trabalho se agravou, resultando num aumento de 8,5% para 9% do desemprego na média do país. É a maior proporção de desempregados já registrada desde setembro de 2007: 2,1 milhões de pessoas. Somente o desenvolvimento econômico e social do país pode resgatar a vergonha de enfrentar filas e não ter onde exercer uma atividade.

E não basta o trabalho. A bandeira constitucional garante o trabalho digno: o empregador tem o dever de assegurar ao empregado meio ambiente sadio e equilibrado, sem riscos ou exposição a agentes físicos, químicos e biológicos danosos à sua saúde, e onde o empregado encontre no trabalho a concretização de suas inspirações à melhoria de sua condição social; a jornada de trabalho não deve ser de mais de 8 horas diárias; o salário será compatível com a atividade exercida, garantindo-se um mínimo legal. Todos esses enunciados trazem implícitos os princípios protetores do trabalho humano, visando a construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos e sem qualquer forma de discriminação. Sem a observância desses preceitos, não se pode falar em cidadania, autoestima, valor pessoal e respeito. Homens e mulheres não se bastam com cestas básicas recebidas como esmola do governo. Querem trabalhar, produzir riquezas para o seu país, ser exemplo para a família e para a comunidade. O brasileiro precisa de oportunidade para demonstrar a sua capacidade de trabalho, sua força e criatividade. Um país só é desenvolvido quando se tem educação, saúde, trabalho. A nação é a cara do seu povo: ou boca de sorriso feliz ou boca desdentada. Ou crianças nas escolas ou na rua.

No Dia do Trabalho, que bate à porta, deve-se resgatar a dignidade do brasileiro: oportunidade de emprego, salário justo, bem-estar social. Trabalho degradante ou escravo será apenas ficção do século 21, que começou sob o estigma da crise de decência em todos os poderes da República. No campo das relações do trabalho, o direito já traz em si a humanidade e a ética, porque a paz duradoura tem que contemplar necessariamente a justiça social. Para que não sejamos o Pedro pedreiro da canção do Chico Buarque, que passou a vida “esperando, enfim, nada mais além da esperança aflita, bendita, infinita do apito do trem”.


A pedra da vez: de quem é a culpa pelo sucesso do crack



Todos estão preocupados, tão mexendo em tudo para achar uma determinada solução, não sabem mais o que fazer. A pedra no caminho da sociedade é minúscula, mas gera grandes problemas, deste o social ao criminal. Ela é a pedra da vez.

Por Gelson Weschenfelder, no blog Círculo Vícioso



O problema gerado para conseguir tal pedra incomoda muita gente. Este indivíduo busca meios não muito amigáveis para conseguir bancar o custo desta. Ele recorre ao crime para subsidiar o uso desta pedra, e por esta razão incomoda a sociedade cômoda.

O descaso com os outros nos faz pensar que somos donos de si mesmos, donos de uma razão tão pequena, quanto à pedra na qual o incomoda. Mas daí quando há algo que nos incomoda, saímos às ruas, vamos aos meios de comunicações, exigimos mais vigor dos órgãos que nos protegem, exigimos um maior compromisso do poderes executivos, mostramos que a descaso de entidades sobre este problema. Descaso? Problema?

Quem criou este descaso? Quem criou este problema? Ah, estamos falando da pedra em nosso caminho. Mas quem coloca aquela pedra ali? Nós imaginamos um falso poder que temos, sério falso poder. Pensamos que somos dono de nós mesmos e assim donos do mundo, excluímos quem queremos de nossa volta. É bem assim, quero você, não, você não pode, ah, você pode, já você não pode.

E assim temos a falsa ideia de escolher bem as pessoas que andam ao nosso lado, em nossa sociedade, excluindo os outros, tirando estes do alcance de nossos olhos, empurrando-os para a margem da sociedade. Mas se esquecemos que a margem está cheia, cheia de lixo humano, é isso mesmo, lixo humano que nós da sociedade escolhida empurramos para esta margem.

Mas a margem cria também sua falsa ideia de poder, um poder paralelo talvez, que encontra na pequena pedra, a chave para aliviar todos os seus problemas. A pedra dá este poder, uma falsa ideia de poder, mas necessitam sentir este poder que, muitas vezes o foi reprimido, excluído de ter.

Ai a pedra se torna, a pedra do sapato da sociedade, a pedra do caminho, ou até a pedra da vez. Pois ela tira de você a falsa ideia de poder que tinha, pois você escolhe tanto, tanto que chega uma hora que você está em volto da margem que você cria. Você queria tanto uma sociedade perfeita com seus escolhidos que, a sua sociedade está não mais no plano alto, e sim no mesmo nível de sua margem. A necessidade e o anseio pelo poder nos levam a caminhos, que há pedras no percorrer da caminhada.

Nós da sociedade perfeita colocamos estas pedras em nossos caminhos, colocamos a pequena pedra nos cachimbos. A sociedade por esquecer, fingir não ver ou ainda excluir indivíduos que necessitam de um determinado conforto, seja ele psicológico ou social, empurramos estes para a margem de nossa sociedade, onde lá ele quer ser rei, e encontra na pedra da vez seu conforto.

Bom, é mais fácil prevenir do que remediar, e ah, é mais fácil culpar os outros do que nós mesmos.


Domésticas querem mudança na Contituição por direitos iguais



As empregadas domésticas querem ter direitos trabalhistas iguais a todos os demais brasileiros, diz a presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Creusa Maria e Oliveira. Por isso, a categoria luta por uma mudança na Constituição Federal, que as diferencia em relação aos outros trabalhares.


O Artigo 7º da Constituição tem um parágrafo único estabelecendo a que têm direito. Com isso, ficam fora direitos como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a multa de 40% sobre seu saldo, em caso de demissão sem justa causa, salário família, horas extras, adicional noturno, seguro-desemprego e várias outras conquistas dos trabalhadores.

A mudança desse artigo faz parte de uma proposta que está sendo elaborada pelo governo, envolvendo a secretarias especiais de Políticas para Mulheres e da Igualdade Racial. Mesmo antes de chegar ao Congresso, ela encontra resistência, de acordo com Creusa. A Fenatrad estima que existam no Brasil cerca de 8 milhões de trabalhadoras domésticas — a grande maioria mulheres e negras.

“A resistência vem dos empregadores. Representantes dessa classe defendem que seja aprovado a proposta de autoria da ex-deputada Benedita da Silva, que prevê alguns direitos. Só que, para nós essa proposta, já está ultrapassada”, argumentou Creusa. “Vários direitos previstos nela já nos foram dados por meio de decreto. Queremos a mudança na Constituição, acabando com a discriminação. Só isso nos dará direito a todas as conquistas trabalhistas.”

“Não queremos conquistar nossos direitos a conta-gotas. Queremos direitos de forma ampla”, completou. A proposta que as domésticas rejeitam foi apresentada por Benedita da Silva em 1988. Nesta segunda-feira (27), comemora-se o Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas. Creusa lembrou que a luta organizada das empregadas domésticas já tem mais de 70 anos no Brasil. “Teve início em 1936, com a criação da primeira associação, em Santos [SP] por Laudilena dos Campos Melo."

No entanto, só em 1972 é que elas conquistaram por lei o direito a 20 dias de férias por ano, carteira assinada e o direito à Previdência Social. Depois disso, a Constituição de 1988 garantiu às domésticas direito ao salário mínimo, ao 13º salário, aviso prévio e descanso semanal aos domingos. Em 2006, uma lei deu direito à estabilidade no emprego em caso de gestantes, folgas nos feriados, aumentou de 20 para 30 dias o período de férias e impediu o empregador de descontar despesas com alimentação e moradia do salário das trabalhadoras.

Creusa acredita que não haverá retração do mercado de trabalho em um cenário de direitos iguais "Precisamos trabalhar, e o empregador precisa do nosso trabalho. Todas as vezes que se fala em direitos trabalhistas das empregadas domésticas se levanta essa discussão como entrave. Mas não faz sentido. É um mercado que continuará existindo, porque nosso trabalho é necessário à vida das pessoas.”.

Da Redação, com informações da Agência Brasil

'Pobres no Rio vivem dias de horror’





Escrito por Gabriel Brito e Valéria Nader
18-Abr-2009

Estamos na porta de entrada de tempos (ainda mais) difíceis no país. Com crise, desemprego e muita violência nas grandes cidades, os políticos, sem romper seus pactos, precisam apresentar soluções para combater tal quadro. Dessa forma, é produzida uma série de medidas que mais combatem os pobres do que a pobreza. Pintam as paredes, mas não mexem na estrutura interna do ‘prédio’.

Por conta disso, o Rio de Janeiro vem sendo palco de seguidas políticas de limpeza e segregação social, como mostram os choques de ordem e agora o levantamento de muros no entorno de favelas, levados a cabo por prefeitura e governo do estado, respectivamente.

Para a socióloga Vera Malaguti, do Instituto de Criminologia Carioca, o que vemos é a expressão de um fascismo estatal mancomunado com grandes interesses econômicos. O governo pretende levantar 11 mil metros de muros, com 3m de altura, começando pela zona sul, cuja expansão de favelas não chegou à metade do aferido na zona oeste, de 11,5% - dados do Instituto Pereira Passos.

Malaguti aponta que os pobres no Rio de Janeiro são vítimas de crescente truculência oficial e vistos como ‘lixo humano’ que precisa ser removido da cidade, uma vez que a presença dessa parcela da população é prejudicial aos grandes negócios e à especulação imobiliária.

Correio da Cidadania: Como você vê a idéia do governo local de construir muros no entorno de favelas, sob a alegação de preservar algumas áreas verdes da cidade?

Vera Malaguti: É um absurdo e vem junto do circo de horrores do qual vem sendo palco o Rio de Janeiro, através de extermínios da polícia (a que mais mata no mundo), das remoções dos pobres, demolição de casas em áreas populares ilegais...

Enfim, é todo um festival de truculência, em articulação da prefeitura com o governo do estado, completamente ligados aos grandes negócios privados, como os esportivos, e impondo um cerco fascista sobre os pobres. E, além do muro, que é uma vergonha, as remoções voltaram à pauta.

Todo o processo é capitaneado pelas Organizações Globo, com campanha diária no RJTV, no jornal O Globo, sempre focalizando a pobreza como detrito, como algo que conspurca o ambiente. E tudo em nome dos grandes negócios privados, uma vergonha.

O Rio de Janeiro talvez esteja passando pelo seu pior momento desde Lacerda. Parece uma volta com força total da UDN, terrível.

CC: O que pensa do fato de as favelas escolhidas para receberem os primeiros muros se localizarem em bairros mais nobres ou de classe média, mesmo com a expansão recente de tais favelas estando abaixo de índices considerados preocupantes, inclusive em comparação com outras?

VM: Aí fica clara a parceria do governo com a especulação imobiliária, afinal, são áreas nobres, e ter os pobres ali não lhes interessa.

É tão chocante, tão óbvia, essa mistura de truculência fascista com Parcerias Público-Privadas sinistras! Estou sendo enfática, mas é que chegamos num ponto... Ontem mesmo houve o assassinato pela polícia de um menino da Maré, a população tentava protestar e era reprimida da pior forma possível pela mesma polícia. E tudo sempre sob a desculpa do tráfico.

Acho que o fim do brizolismo no Rio foi muito ruim. Para exemplificar, uma das coisas que O Globo fez para comemorar os 45 anos do golpe militar foram acusações levianas sobre o Brizola, ao mesmo tempo em que o associava ao crescimento das favelas. O vazio criado por sua morte, junto ao estraçalhamento das forças de esquerda, deixou o fascismo ocupar a cidade.

CC: Ao se juntar tal ação com a também recente medida dos choques de ordem, vemos que as políticas de higienização nas grandes cidades têm sido levadas ao paroxismo, não?

VM: Exatamente. O velho projeto fascista, com essa maneira de olhar os pobres como lixo humano na cidade, se consolidou, sendo orquestrada também pela grande imprensa tal proposta de apartheid.

Os pobres no Rio de Janeiro vivem dias de horror. Acho que as forças de esquerda, libertárias, precisam se organizar contra isso. Tudo começou pela questão criminal, o que é um problema, pois até a esquerda embarca no discurso de luta contra o tráfico, sempre localizada nas favelas.

Daí para choques de ordem, remoções, muros, é um passo. É um projeto higienista reciclado, em nome da ordem na cidade, dos grandes negócios de Copa, Olimpíadas, dos grandes capitais que circulam no Rio. Tais negócios são uma obsessão para o governo e a prefeitura, que sempre estão em viagem buscando grandes investimentos.

Enquanto isso, pau nos pobres aqui. É um projeto sinistro.

CC: Essas medidas não podem potencializar o ódio entre classes, na medida em que reforçam uma idéia segregacionista?

VM: Claro, isso não vai dar certo. Durante um tempo, algumas forças progressistas do Rio aceitaram a pauta criminal da direita, e assim o fascismo encontrou sua brecha, sendo que acaba se alastrando para a questão habitacional, ambiental, onde muitas vezes se refugia, como neste caso dos muros, aliás.

Uma vereadora do PT foi uma das que mais defenderam os muros, sempre fala em remoções nas favelas da zona sul, como a dos Tabajaras, uma vez que as áreas verdes na cidade se concentram mais na zona sul e posto 9.

Tais equívocos abrem o caminho para o fascismo mais explícito, que vemos nessa mistura de truculência contra os pobres e grandes negócios (com ilegalidades) particulares.

CC: Você acredita que o levantamento dos muros vai impactar de alguma maneira, ainda que a curto prazo, nos índices de criminalidade?

VM: Acho que vai emparedar os pobres e produzir outros efeitos, intra e extramuros. É mais uma grande violência, portanto, entrará nesse moinho gerador de ódios.

Espero que isso possa ser barrado, apesar de todo o esforço da grande imprensa. Fazem pesquisas dizendo que os favelados são favoráveis à remoção, pesquisas para legitimar tais ações... Não deve faltar sociólogo para fazer esse tipo de trabalho e dizer que os pobres estão doidos para serem emparedados e removidos da cidade.

No Rio de Janeiro, neste momento, essas forças, que envolvem institutos de opinião, empresas de publicidade, grande imprensa, setor imobiliário, estão totalmente articuladas na varredura da pobreza da cidade. E da pobreza rebelde, que é uma marca do Rio de Janeiro há muito tempo, pois foi uma cidade quilombola, depois janguista, brizolista...

Estamos diante de um conjunto de interesses escusos, mais uma ‘blitzkrieg’.

CC: Diante do quadro atual, quais medidas seriam efetivas a seu ver, tanto a curto como a longo prazos?

VM: O inverso disso tudo, uma outra maneira de olhar a cidade. Construir políticas habitacionais democráticas, projetos em que as classes populares sejam protagonistas.

Não bastam bons projetos para os pobres, é preciso que esses setores estejam no centro, que a juventude, ao invés de ser criminalizada, seja participante central dos projetos que a libertem dessa concepção de muros, cadeias, extermínio. Temos de produzir outro projeto brasileiro, que não contenha essas conjugações.

É complicado resolver a violência, ninguém tem a solução. Mas uma cidade democrática é gerida de outra forma, e assim produz soluções também democráticas e libertadoras, capazes de permitir que todos usufruam a cidade, apesar das diferenças.

Em suma, é o oposto de tudo isso.

Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.



Cimento, cocaína e um colunista ensandecido





Escrito por Luiz Antonio Magalhães
16-Abr-2009

Diogo Mainardi adora provocar polêmica. Nem sempre é feliz: algumas vezes consegue criar enorme barulho, em outras passa apenas despercebido. Ironia e sarcasmo são algumas das armas que o colunista da revista Veja sempre utiliza para tentar obter o efeito desejado. Quem acompanha os escritos de Mainardi conhece bem suas
posições políticas, tão explicitamente alardeadas e que podem ser sintetizadas na confissão do próprio colunista, em um texto publicado em agosto de 2005: "Quero derrubar Lula". É simples assim, não tem jeito de não entender.

Na edição corrente de Veja (nº 2108, com data de capa de 15/04/2009), Mainardi volta a citar o presidente da República no título de sua coluna, reproduzida ao final deste artigo. "O Lula shakespeariano" poderia ser apenas um texto cômico, uma piada meio sem graça, dessas que nem todo mundo entende. Talvez a melhor coisa seja não levar a sério o que diz o colunista, como se faz com as brincadeiras às vezes bem agressivas dos palhaços de circo. Em certos casos, porém, vale a pena entrar no jogo de Mainardi - por trás das ironias e das palavras bem escolhidas está uma ideologia consumida pelos milhões de brasileiros que assinam ou compram Veja nas bancas.

No texto em questão, a ironia de Mainardi é dirigida ao corte do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) em alguns produtos, em especial o cimento, que o jornalista considerou pequeno. Tal ironia pode ser compreendida na comparação feita entre a medida tomada por Lula em relação ao IPI e o esforço de Barack Obama para recuperar a economia dos Estados Unidos - segundo Diogo Mainardi, o presidente norte-americano "está aumentando o déficit público, num prazo de dez anos, em cerca de 6 500 000 000 000 de dólares (com todos os zeros)", ao passo que Lula teria conseguido reduzir "o custo do saco de 25 quilos de cimento em cerca de 40 centavos (com todos os zeros)".

Até aqui, nenhum problema, certos analistas econômicos meio chinfrins que se lêem por aí devem até concordar com a mui justa comparação de Mainardi. IPI brasileiro e déficit público americano, tudo a ver. Mas vamos em frente.

O que vem na sequência de tão estapafúrdia comparação é que realmente choca no texto de Mainardi: "No Brasil, ao contrário, o corte do IPI do cimento ajudará, indiretamente, uma indústria próspera: a do comércio de drogas. Em primeiro lugar, estimulando o crescimento das favelas. Encasteladas nos morros, elas correspondem, para os traficantes, às fortalezas medievais: Comando Vermelho e William Shakespeare. Em segundo lugar, subsidiando a cocaína. Algumas semanas atrás, o Globo mostrou que os traficantes da Rocinha (o rei do tráfico - o Henrique IV da Rocinha - é conhecido como Nem) misturam cimento à cocaína. O que fez o governo? Zerou o IPI da cocaína por três meses, garantindo uma economia de 40 centavos a cada 25 quilos. Isso sim é uma medida anticíclica", escreveu o colunista de Veja.

Favelado é traficante

É muito raro ver tanto preconceito junto em um só parágrafo. Na verdade, é realmente incrível que tamanha sandice tenha sido publicada. Sim, trata-se de um texto humorístico e no humor vale qualquer coisa, mas o que vai acima não chega a ter muita graça, lembra as piores e mais infames piadas racistas. Em menos de dez linhas, Mainardi reforça as idéias de que quem mora na favela é traficante, de que é preciso conter o crescimento das favelas e o de que o problema do tráfico de droga está no traficante, e não na sociedade. Tudo isto para não falar da risível acusação ao governo Lula, qual seja a de subsidiar o tráfico por meio da redução de impostos para... cimento. Aí realmente não dá nem para levar a sério, é apenas uma piada nonsense.

Analisando um pouco mais a fundo, estão presentes no texto de Mainardi alguns dos chavões que a classe média brasileira mais gosta, porque jogam no colo do governo problemas sociais bastante complexos e de difícil solução - a questão da droga e da favelização dos grandes centros urbanos. Diogo Mainardi reforça sutilmente a idéia de que a solução é "jogar uma bomba nos morros e acabar com os favelados", tão presente no discurso nem sempre tão envergonhado de certa classe média ultradireitista. Também com a mesma "sutileza" o colunista procura vincular o presidente Lula aos dois pólos negativos de seu texto - drogas e favelas -, apresentando-o como um aliado dos traficantes e dos pobres habitantes dos morros. Assim, fecha-se o círculo: ideal mesmo seria "jogar uma bomba nos morros com o Lula e toda a sua corja lá dentro" - mata-se os traficantes e de quebra devolve-se o país ao governo dos homens bons.

Mainardi gosta de fazer graça e há quem ria das suas brincadeiras, mesmo sem entender direito o que conduz o tipo de humor que o colunista é (bem) pago para fazer. A liberdade de expressão evidentemente comporta este tipo de texto, como suportava, em priscas eras, os editoriais ("Basta!" e "Fora!", no Correio da Manhã) que pediam exatamente o que Diogo Mainardi já pediu em 2005: a derrubada de um governo – constitucionalmente eleito, diga-se de passagem. Se é para rir, melhor pelo menos entender a piada.

***

O Lula shakespeariano

Diogo Mainardi: reproduzido de Veja, 15/04/2009

Lula e Barack Obama confraternizaram no G-20 como Falstaff e o Príncipe de Gales no H-4 – ou Henrique IV.

Ato I, cena II:

Falstaff – Que horas são, rapaz?

Príncipe – Embruteceste de tal modo, à força de beber xerez, de desabotoar-te depois da ceia e de dormir à tarde sobre os bancos, que esqueces de perguntar o que realmente mais importa saberes. Que diabo tens tu que ver com o tempo?

Falstaff – o Falstaff shakespeariano – é obeso, barbado, embriagado, ocioso, medroso, mulherengo, traidor, desonesto. Ele anima as noitadas do Príncipe de Gales com seus planos para roubar as bolsas dos peregrinos. O Príncipe de Gales só se aborrece quando Falstaff é infiel à sua imagem de fanfarronice, como na passagem em que pergunta, distraidamente, as horas.

Lula – isso mesmo, o Lula shakespeariano – animou as noitadas de Barack Obama durante o G-20. Quando perguntou as horas, ninguém respondeu. O Brasil representa o elemento de comicidade nesses encontros internacionais, a taberna suja e barulhenta que contrasta com o rigor puritano do Castelo de Westminster. A trama que "realmente mais importa", na qual se decide o destino da Inglaterra, se desenrola em outras cenas, em outros ambientes, com outros protagonistas.

Concretamente, em números, como as horas no mostrador de um relógio: Barack Obama, para tentar restabelecer a economia dos Estados Unidos, está aumentando o déficit público, num prazo de dez anos, em cerca de 6 500 000 000 000 de dólares (com todos os zeros); Lula, para tentar restabelecer a economia do Brasil, cortou o IPI de alguns produtos por um prazo de três meses, reduzindo o custo do saco de 25 quilos de cimento em cerca de 40 centavos (com todos os zeros).

Os majestosos pacotes fiscais de Barack Obama prometem enterrar os Estados Unidos, financiando uma série de indústrias falidas. No Brasil, ao contrário, o corte do IPI do cimento ajudará, indiretamente, uma indústria próspera: a do comércio de drogas. Em primeiro lugar, estimulando o crescimento das favelas. Encasteladas nos morros, elas correspondem, para os traficantes, às fortalezas medievais: Comando Vermelho e William Shakespeare. Em segundo lugar, subsidiando a cocaína. Algumas semanas atrás, o Globo mostrou que os traficantes da Rocinha (o rei do tráfico – o Henrique IV da Rocinha – é conhecido como Nem) misturam cimento à cocaína. O que fez o governo? Zerou o IPI da cocaína por três meses, garantindo uma economia de 40 centavos a cada 25 quilos. Isso sim é uma medida anticíclica. O Globo mostrou também que, em nossa taberna falstaffiana, suja e barulhenta, adolescentes com pouco mais de 25 quilos de peso se prostituem por 1,99 real. Sem IPI.

Em Henrique IV, o Príncipe de Gales, depois de assumir o trono, repudia Falstaff. Ei, Lula: agora são 11h53.

Luiz Antonio Magalhães é diretor executivo do Observatório da Imprensa, onde este texto foi originalmente publicado.

Blog do autor: http://www.blogentrelinhas.blogspot.com



Vergonha Portuguesa: Querem Esquecer a Escravidão


Racismo LLLTexto : Ana Lúcia Araújo

Portugal abriu uma votação para eleger as sete "maravilhas" portuguesas no mundo. Entre os 27 sítios que estão concorrendo na votação, estão algumas maravilhas como o forte Elmina em Ghana (forte escravagista), Luanda (porto escravagista), Cabo Verde (porto escravagista), etc. alguns deles já mapeados e tombados pela UNESCO como patrimônio do tráfico atlântico de escravos.

Por exemplo, o forte Elmina foi construído em 1482 para fazer ali o comércio de escravos, hoje abriga um museu onde os visitantes são convidados a visitar as celas onde os Africanos ficavam confinados antes de serem enviados para as Américas. No sítio da votação, encontra-se uma longa descrição do forte e nem sequer uma linha, uma palavra mencionando o tráfico de africanos escravizados.

Pior ainda, essa vergonha é patrocinada pelo governo, pelos ministérios da cultura e da des-educação e pela Universidade de Coimbra. Nojo.

É como se Auschwitz participasse em uma eleição das sete maravilhas alemãs no mundo.


Agora, uma carta de Gerhard Seibert, professor do Instituto de Investigação Científica Tropical, de Lisboa, e pesquisador da escravidão, ao Le Monde Diplomatique, edição portuguesa:

Ex.mo Senhor Director,

Há pouco um historiador jamaicano disse-me que acreditava que os portugueses queriam fazer crer que não tinham nada a ver com a escravatura e o tráfico de escravos. Esta opinião parece generalizada, contudo, corroborada pelo concurso mediático as 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo na Internet. O concurso realizado pela New 7 Wonders Portugal e tem como essência dar a conhecer monumentos que são pouco conhecidos.

A lista das 27 Maravilhas, submetidas à votação do publico até Junho, integra também monumentos e sí­tios em África que estão estreitamente ligados à história do tráfico de escravos durante os séculos XV a XIX (Cidade Velha de Santiago, Fortaleza de São Jorge de Mina, Luanda, Ilha de Moçambique).

Contudo, a apresentação destes sí­tios no site do concurso nega completamente esta parte da história, como se estes não tivessem tido nada a ver com o tráfico negreiro. De facto, o contrário da verdade.

Desde a sua construção em 1482 a fortaleza de São Jorge de Mina (Elmina) era um centro de tráfico regional de escravos com o Reino do Benim. Os portugueses mantiveram o tráfico negreiro na Mina directamente com o Reino do Benim até 1519 e a partir desta data através da ilha de São Tomé no Golfo da Guiné.

Apesar destes factos históricos, a apresentação da fortaleza no site apaga esta história afirmando erradamente que o tráfico de escravos tinha começado apenas com os holandeses que ocuparam a fortaleza de São Jorge de Mina, em 1637.

A Cidade Velha (Ribeira Grande), Ilha de Santiago, Cabo Verde, era um entreposto de tráfico de escravos entre os Rios da Guiné e a Europa, e mais tarde as Américas. Cabo Verde era uma sociedade esclavagista em que 80 por cento dos habitantes era de escravos africanos (1582). Toda a economia da Ribeira Grande estava organizada em torno do tráfico de escravos. Por esta razão, o declí­nio económico e a degradação da cidade começou em 1647, quando esta perdeu o monopólio do tráfico de escravos. Também Luanda era um importante porto de embarque de escravos. Perto de Luanda existe desde 1997 um Museu Nacional de Escravatura em memória do tráfico de escravos ocorrido em terras angolanas, dos séculos XV a XIX. A Ilha de Moçambique era um importante centro do tráfico negreiro no Índico.

A importância destes sí­tios para o tráfico de escravos é bem conhecida. Todos aparecem também em lugares de Memória da Escravatura e do Tráfico Negreiro, uma publicação do Comité Português de «A Rota de Escravos»,da UNESCO.

Posto isto, pergunto-me se é possível separar a arquitectura dos monumentos da sua função contemporânea e parte crucial da sua história elegendo-os como Maravilhas que "constituem expressão de forma i­mpar como os Portugueses se inseriram em terras e comunidades muito diversificadas do ponto de vista étnico, cultural, linguí­stico e religioso" (Texto de António Vitorino (PS), o comissário do concurso, no site do concurso).

A omissão, negação e manipulação de episódios indesejáveis da história é uma prática frequente em regimes totalitários. Não se entende que 35 anos depois do 25 de Abril se recorra, em Portugal, a estes métodos de negacionismo apagando de propósito parte da história da expansionista marítima portuguesa. O facto que o concurso tem o patrocí­nio da Presidência da Republica, o apoio do Ministério da Cultura, Ministério da Educação, Instituto Camões e da Universidade de Coimbra e, além disso, conta com media partners como os jornais Diário de Notí­cias e Jornal de Notí­cias, sugere que uma parte da elite intelectual e polí­tica portuguesa partilha uma tal percepção selectiva da história do seu paí­s.

O governo de José Sócrates quer estabelecer em Lisboa um centro cultural africano para reforçar a ideia que Portugal ser uma ponte privilegiada entre Europa e Ãfrica. Internacionalmente, sobretudo no continente africano, esta pretençã teria muito mais credibilidade, se Portugal assumisse toda a sua história em relação a África e aos africanos, sem apagar a sua participação no tráfico de escravos.

Com os meus melhores cumprimentos

Gerhard Seibert

 vergonha de portugal


Construindo o nosso futuro




William Felix Souza e Silva, aluno da Escola Estadual Professora Maria de Magalhães Pinto, em Igarapé – MG

O planeta Terra existe há bilhões de anos. Mas, devido ao crescimento populacional, ficou mais difícil combater a fome. A maioria das pessoas tem o que comer, mas uma grande parcela da humanidade não tem, causando o aumento da população que sofre com a desnutrição. Para conseguirmos combater a fome, precisamos nos preocupar com a preservação ambiental, porque aí teremos mais árvores, bichos, rios e ar puro para respirar. Com mais árvores e mais frutos, teremos menos pessoas com fome. Com a preservação dos bichos, manteremos viva a cadeia alimentar, que deixará em equilíbrio a natureza. Com menos poluição dos rios, poderemos ter mais água doce para consumir, mais ar puro para respirar e evitaremos diversas doenças relativas ao sistema respiratório. Os agricultores estão ficando descontentes por causa do aquecimento global, que está tornando a Terra às vezes muito quente, às vezes muito fria. Isso, consequentemente, atrapalha a previsão do tempo. Eles plantam, vem a seca e tudo seca. Vem a chuva e inunda tudo, fazendo diminuir a produção de alimentos. Se existir harmonia entre o homem e a natureza, , com certeza, conseguiremos também a paz em todos os cantos do mundo. Se as pessoas da cidade e do campo estiverem unidas com o objetivo de preservar o meio ambiente e evitar desperdícios de água e alimentos, certamente, conseguirão salvar o planeta e colocar alimento nos pratos das pessoas.

Adeus ao Pão e Circo

Eventos considerados recentes escapam à consciência com extrema facilidade

Armando Correa de Siqueira Neto - Psicólogo, consultor em gestão de pessoas


O Império Romano, famoso por sua história singular, também mereceu destaque pela astúcia demonstrada no controle da população, utilizando-se da política do pão e circo (panis et circenses) para desviar a atenção popular das questões sociais de suma importância. Considerável número de dias era reservado aos espetáculos de corridas e lutas, além do pão que era distribuído. Assim, a cabeça ficava à mercê da distração em vez de manter-se ocupada com a reflexão, sobretudo a política.

O modelo de entorpecimento da massa resistiu ao tempo – diferentemente de tantas obras filosóficas que se perderam no pó do esquecimento – e chegou às culturas contemporâneas. A propósito, o Brasil mostrou-se bastante afeito ao jeitinho “inebriar para sossegar”, valendo-se especialmente do carnaval e do futebol. Foi assim que muita falcatrua política caiu no esquecimento dos eleitores: escândalo dos Correios (2005); mensalão (2005/2006); dólar na cueca (2005); Operação Dominó (2006); caso Renan Calheiros (2007); escândalo dos cartões corporativos (2008); e Operação Satiagraha (2008/2009). Há inúmeros outros casos (rombo do Banco do Brasil em 1821, quando dom João VI retornou a Portugal com algum no bolso), mas a ideia foi a de mostrar que eventos considerados recentes escapam à consciência com extrema facilidade e que apenas o pão e o circo conseguem turvar a claridade que sempre penetrou por meio de frestas e quase nunca por meio da janela totalmente aberta. Fotofobia moral?

Mas como tudo tem começo, meio e fim, assim também sucedeu ao tal jeitinho entorpecedor brasileiro. O seu encerramento, no entanto, não se deveu à melhora evolutiva na política. Não. Houve piora. Logo, é devido dizer adeus ao pão e o circo, que foram engolidos, sem qualquer esboço de reação, por uma nova e ainda mais eficaz maneira de atordoar os adeptos da autoilusão política. Trata-se da substituição de um escândalo por outro de modo contínuo e incessante. Ou seja, não há intervalo suficiente, nem para piscar os olhos. Em suma, o show tem que continuar. E continua.

As falcatruas vicejam. São safras abundantes. Mal dá para acompanhar as colheitas. Então, a zonzeira finca a estaca e permanece nos campos mentais sem dar o menor sinal de despedida. Porquanto emerge uma questão crucial para completar o cenário aqui descrito: Quem faz o papel de espantalho, cuja serventia há tempos inexiste tanto para os corvos quanto os maliciosos urubus?
Eventos considerados recentes escapam à consciência com extrema facilidade
Armando Correa de Siqueira Neto - Psicólogo, consultor em gestão de pessoas
O Império Romano, famoso por sua história singular, também mereceu destaque pela astúcia demonstrada no controle da população, utilizando-se da política do pão e circo (panis et circenses) para desviar a atenção popular das questões sociais de suma importância. Considerável número de dias era reservado aos espetáculos de corridas e lutas, além do pão que era distribuído. Assim, a cabeça ficava à mercê da distração em vez de manter-se ocupada com a reflexão, sobretudo a política. Com o crescimento urbano vieram também os problemas sociais para Roma. A escravidão gerou muito desemprego na zona rural, pois muitos camponeses perderam seus empregos. Essa massa de desempregados migrou para as cidades romanas em busca de empregos e melhores condições de vida. Receoso de que pudesse ocorrer alguma revolta de desempregados, o imperador criou a política de oferecer aos romanos alimentação e diversão. Quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores nos estádios (o mais famoso foi o Coliseu de Roma), onde eram distribuídos alimentos. A população carente acabava esquecendo os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta.

O modelo de entorpecimento da massa resistiu ao tempo – diferentemente de tantas obras filosóficas que se perderam no pó do esquecimento – e chegou às culturas contemporâneas. A propósito, o Brasil mostrou-se bastante afeito ao jeitinho “inebriar para sossegar”, valendo-se especialmente do carnaval e do futebol. Foi assim que muita falcatrua política caiu no esquecimento dos eleitores: escândalo dos Correios (2005); mensalão (2005/2006); dólar na cueca (2005); Operação Dominó (2006); caso Renan Calheiros (2007); escândalo dos cartões corporativos (2008); e Operação Satiagraha (2008/2009). Há inúmeros outros casos (rombo do Banco do Brasil em 1821, quando dom João VI retornou a Portugal com algum no bolso), mas a ideia foi a de mostrar que eventos considerados recentes escapam à consciência com extrema facilidade e que apenas o pão e o circo conseguem turvar a claridade que sempre penetrou por meio de frestas e quase nunca por meio da janela totalmente aberta. Fotofobia moral?

Mas como tudo tem começo, meio e fim, assim também sucedeu ao tal jeitinho entorpecedor brasileiro. O seu encerramento, no entanto, não se deveu à melhora evolutiva na política. Não. Houve piora. Logo, é devido dizer adeus ao pão e o circo, que foram engolidos, sem qualquer esboço de reação, por uma nova e ainda mais eficaz maneira de atordoar os adeptos da autoilusão política. Trata-se da substituição de um escândalo por outro de modo contínuo e incessante. Ou seja, não há intervalo suficiente, nem para piscar os olhos. Em suma, o show tem que continuar. E continua.

As falcatruas vicejam. São safras abundantes. Mal dá para acompanhar as colheitas. Então, a zonzeira finca a estaca e permanece nos campos mentais sem dar o menor sinal de despedida. Porquanto emerge uma questão crucial para completar o cenário aqui descrito: Quem faz o papel de espantalho, cuja serventia há tempos inexiste tanto para os corvos quanto os maliciosos urubus?

Chek-up 3.0



por Toni C.*

Bateria de exames


Exame do pezinho, sem tropeços.
Taxa de literatura no cérebro acima do desejado.
Óculos grossos, já gastos, mas segue enxergando longe.
Memória funciona com auxílio de aparelhos. Escreve, grava, filma para registrar os momentos.
Índice de coliforme fecais na cabeça excepcional. Aduba as idéias.
Sangue B, com alta taxa de glóbulos vermelhos. Vermelha ideologia.
Descobriu que quem descobriu os glóbulos brancos foi um negro.
Tratamento com remédio tarja preta, obteve efeito temido: melanina na consciência escureceu a pele.
Eletrocardiograma acusa coração bom, grande e duro, recomendado exercícios para deixa-lo mais suave.
Pulsação não se altera mesmo sob altas doses de adrenalina.
Deve intensificar atividades físicas que pratica: jogar basquete, pedalar, caminhar...
Auto-estima funciona no fígado, com capacidade de regeneração.
Oreia seca, canela fina, cabeça nas nuvens, pés no chão, joelhos ralados.
Folgado, ligeiro, marrento.
Nervos de aço, hip-hop na veia, alma lavada.
Testar a febre é besteira. Sempre gelado.
Humor sarcástico, disposição de muleque, rebeldia juvenil.
Extração de líquido da espinha constata, maloqueiro até à medula.
Seus tímpanos funcionam melhor do que a traquéia.
Bom estímulo a reflexos, não apresentou estímulos as coisas fáceis.
Exame em esteira não realizado, paciente se recusa a guarda repouso.
Dorme pouco, sonhador.
Boa cicratização das feridas.
A perversidade são filtradas pelos rins.
Conformismo eliminado na urina.
Esqueleto firme, as costas arcadas com o peso do mundão, postura crítica.


Enfermidades
Nenhuma doença crônica detectada, mas faz crônica sobre as doenças.
Tem alergia a mentira, falsidade e mediocridade.
Estômago sensível a hipocrisia.
Não apresenta indícios de diabete, colesterol nem simpatia.
Mãos Calejada pelo trabalho, é doença hereditária.
Pulmões carregados de poluição paulistana.
Taxa de voluntarismo em queda.
Marcar cirurgia para a retirada de preconceito, tumor malígno.
Saco escrotal cheio, pelo descaso do serviço público de saúde.
Não tem nenhuma hérnia, mas tem muitos discos.

Dieta
Tem mais apetite que vaidade. Recomenda-se continuar comendo bem.
Altamente recomendável engolir menos sapo.


Tratamentos submetidos
Radioterapia.
Teste do dia-a-dia, em andamento...
Ingestão de teoria revolucionária em doses homeopáticas.

Alta probabilidade de morrer atropelado por trem, mania de andar nos trilhos.

Diagnóstico
Paciente.
Contraria as estatísticas.
Cuidado!
Vivão como nunca!




*Toni C., DJ e produtor. Autor do vídeo documentario "É Tudo Nosso! O Hip-Hop Fazendo História", organizador do livro "Hip-Hop a Lápis" e membro da Nação Hip-Hop Brasil e da equipe do Portal Vermelho.


Moral e ética

Sócrates percebeu que o corpo humano difere do homem

João de Freitas -Professor universitário, escritor


Adquire-se moral na família (educação do berço), na escola, quando continua o lar, e, na sociedade, com seus costumes, tradição, leis jurídicas vigentes. Entre as características dos tempos modernos está a turbulência nas fontes da moralidade. Deus louvado, meus professores de medicina eram vultos imorredouros da ciência médica, cânones do profissional honesto e responsável, com o amor no coração e a competência nas substâncias nervosas encefálicas. Certa vez, perguntei a sabedor da filosofia onde encontrar conhecimento sobre o que sou. Resposta imediata: vá à Grécia, Atenas, século 5 a.C., de Sócrates, mestre que fundou a filosofia e a ética, esquecidas ou distorcidas pela posteridade. Falta-nos DNA para identificá-las dentro da balbúrdia da cultura ocidental contemporânea.

Sócrates percebeu que o corpo humano difere do homem. Porventura, alguém admite corpo humano procurando saber por que o céu é azul, o que vai fazer o ar que lhe entra pelo nariz, e o que pretende a raiz ao adentrar no solo? Por acaso alguém aceita que o corpo humano seja capaz de admirar a beleza da flor e, ao mesmo tempo, temer a maldade da morte? É certo que corpo humano significa um e homem (varão e varoa) significa outro. Sócrates avançou: corpo humano, o que o homem tem, não o que o homem é. Consequência saliente desse achado socrático está na verificação de que toda diferença entre homem (varão) e mulher (varoa) está no nível do corpo (soma) que eles têm, não no nível da alma (psyché), que eles são: masculino e feminino são o corpo, não o homem. Portanto, varão e mulher estão na mesmíssima altura de dignidade.

Um flash da genialidade de Sócrates vem logo em seguida, quando funda a filosofia e a ética: vemos o corpo humano quando olhamos para o homem, ao revés de vermos o homem quando olhamos para o corpo humano, porque esse corpo se comporta de acordo com o que ele é, não de acordo com o que é o homem. A ética aparece, qual claridade do amanhecer, para impor ao corpo humano o comportamento segundo o que o homem é. Agora, se olho para meu corpo, vejo-me, sou consciente de mim e feliz comigo. Isso é a vida propriamente dita, que temos em comum com Deus. O que se tem chamado vida é a vida biológica, que temos em comum com os animais (nascer, respirar, nutrir-se, crescer, desenvolver, reproduzir, envelhecer, morrer).

Repare-se, moral, honestidade exprime conduta conforme os costumes, a tradição, as leis jurídicas vigentes. Ética, eticidade, virtude, sabedoria expressam procedimento em conformidade com o que somos. Ao chamar o médico, na prática do aborto de aético, afirmo que ignora a pessoa que ele e seus pacientes (gestante e concepto) são, e que sua atitude tem a singeleza de criança inocente: trata-se de corpo humano feminino, que conheço, cujo problema é um útero grávido, ou seja, útero cheio, que sei como esvaziar.

Realidade urbana

Fernanda Gomes mostra instalação interativa, exposição fotográfica e vídeo criados no cotidiano da cidade

Sérgio Rodrigo Reis


Primeiro, a artista plástica Fernanda Gomes testou sua arte em plena Praça da Estação, no Centro de BH. Durante dois dias, as pessoas entravam em caixa de grandes dimensões e, lá dentro, eram surpreendidos pelos aplausos de uma plateia virtual. Todas as reações eram observadas, em tempo real, na televisão instalada do lado de fora. O resultado da intervenção deu origem ao vídeo que é uma das peças-chave da exposição Não sei ser rótulo, em cartaz no Museu de Artes e Ofícios (MAO).

Além do vídeo e da instalação, a artista apresenta, na galeria do MAO, fotografias realizadas a partir da observação do cotidiano da capital. Durante oito meses, ela usou as ruas como laboratório para série fotográfica. “Vimos uma minoria de pessoas que se preocupa com as tendências da moda, na tentativa de reafirmar a identidade. A grande maioria fica totalmente à margem da situação.” As trinta imagens, selecionadas entre centenas, são reflexo do que a artista encontrou no espaço urbano.

Inicialmente, o público verá fotos de detalhes das roupas e, no verso, a fotografia dos proprietários. “Mostro, por exemplo, uma camisa onde se lê ‘surf fatal’. No verso, vem a surpresa: quem a veste é uma senhora de idade.”

A intenção de Fernanda Gomes é questionar a recepção da arte nas ruas e no espaço da galeria. “Um trabalho interativo, dentro da realidade brasileira, tem pouquíssimo acesso. Essa é a discussão que levanto. O visitante vai à galeria esperando uma experiência. Já nas ruas, quando se instala um trabalho, a reação é a surpresa. De repente, as pessoas se deparam com algo que não faz parte do cotidiano delas.” A experiência acabou gerando situações hilárias. “Alguns se tornaram performáticos ao entrar na instalação, revelando um pouco mais de si.” O resultado da ação e reação virou curioso vídeo, que agora o espectador pode conferir de perto.

Não sei ser rótulo
Instalação interativa, exposição fotográfica e exibição de vídeo no Museu de Artes e Ofícios, Praça da Estação, s/nº, Centro. Aberto às terças, quintas e sextas-feiras, das 12h às 19h; quarta-feira, das 12h às 21h. Sábado, domingo e feriado, das 11h às 17h. Até 3 de maio.




Melhor evento do ano!!Vale a pena conferir!!!!


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