Melodia na cabeça

Carnaval atmosférico foi gravado na primeira semana de março com a participação de Enéias Xavier (teclado e piano), Chico Amaral (saxofone), Paulo Márcio (trompete), Jonathans Marques (baixo) e Matheus Barbosa (violão) – Rai Medrado e Lincoln e Ricardo Cheib tocaram percussão em alguns temas. Das nove faixas, cinco foram criadas previamente por Laércio e quatro foram feitas na hora pelo grupo. Laércio cantava as melodias e dava o ritmo, deixando a harmonia a cargo de Enéias e dividindo com ele os arranjos. “Ele tem a melodia na cabeça e não tem computador. É muito precário o esquema dele, mas sabe escrever e ler a escrita rítmica muito bem”, elogia o pianista.

“Foi bom demais. Senti uma renovação. Parece que ressuscitei em vida. Tinha uns quatro anos que não tinha contato com o pessoal, mas como estou sempre estudando, assimilar foi rápido. Afinal, está tudo aqui dentro, guardado. Bom é quando a gente larga tudo, pendura o convencional e toca o que está dentro da gente. Aí a gente crava a identidade”, comemora Laércio. O baterista se diz surpreso com a performance dos músicos mais jovens que participaram do disco, Matheus (que tem apenas 18 anos) e Jonathans: “Pela juventude deles, estão tocando como gente grande. Uma sabedoria incrível. Como não os conhecia, na hora de gravar fiquei meio no suspense. Mas resolvi não falar nada e ver o que eles sabiam fazer. Não deu outra. Gostaria de tocar mais com eles”.

Ao longo dos pouco mais de 60 minutos de Carnaval atmosférico é possível ouvir os músicos em improvisos memoráveis, que nem sempre podem ser apreciados em seus shows pela cidade. Tocam com vigor e liberdade em faixas de nomes psicodélicos como Vitrine das ilusões, Pétalas de luz, Temporal de estrelas e a própria música que dá nome ao disco. “Poucas vezes registrei músicas dessa forma, que é como toco com os amigos numa noite ou outra. Em show mesmo não rola isso”, diz Chico Amaral. “É uma vanguarda, mas não é jazz. Quer dizer, passa pelo jazz, mas também pelo samba, baião e até pelo lado sinfônico”, tenta definir o baterista.

Cada partitura é colorida por Laércio com um tom diferente – azul, verde, rosa, laranja, tudo misturado –, indicando climas que vão da sutileza à explosão. Num terreno avesso a rótulos como o do free jazz, definir influências é tarefa complicada, mas o músico tenta: “Elvin Jones, Joe Zawinul, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti. É um apanhado de tudo. É Brasil, é planetário”.


Laércio entre colegas

“É um músico único. Se escutar uma faixa que gravou anos atrás, sei que é ele. Ele ouviu os melhores bateristas do mundo e arranjou tudo do jeito dele”
Rai Medrado, baterista

“Ele representa a escola moderna da bateria em Belo Horizonte. Ele trouxe uma abordagem baseada no jazz mais moderno da época, nos anos 1960, baseada no baterista Elvin Jones. A bateria dele canta”
Chico Amaral, saxofonista

“Ele era vanguarda quando começou e, ainda hoje, observo que ele ainda é. Está à frente do tempo. Toca moderno, no nível dos grandes bateristas de jazz. Fora a força física que ainda tem para tocar como um garoto”
Enéias Xavier, baixista e pianista

“É um gênio puro da música. É representante da finesse de tocar bateria, com linguagem única. A inspiração na linguagem dele já me salvou várias vezes”
Lincoln Cheib, baterista

“É um baterista que toca com poesia, originalidade, musicalidade e sofisticação. É um ícone para mim”
André “Limão” Queiroz, baterista

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