Estudo realizado pela Unifesp mostra os danos na saúde física e mental de quem sofre violência indireta ou sobrevive a esses ataques. E acreditem: as mulheres sofrem mais com isso
Glycia Emrich
A Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher feita pela ONU diz que violência contra a mulher é "qualquer ato de violência com base no gênero, sexo, que resulta em ou que é provável resultar em dano físico, sexual, mental ou sofrimento para a mulher, incluindo as ameaças de tais atos, coerção ou privação arbitrária de liberdade, ocorrida em público ou na vida particular”. Claro que não são apenas as mulheres que passam por momentos terríveis de dor e sofrimento como os capazes de se encaixar nas categorias acima. Mas, de acordo com um estudo feito pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), elas saem mais danificadas que os homens.
Além da destruição psíquica, a violência afeta também o organismo das vítimas. De acordo com o médico Marcelo Feijó de Melo, coordenador do estudo, os pacientes com transtorno pós-traumático têm alterações hormonais e diminuição do tamanho do cérebro. Não importa se a violência sofrida foi em um assalto, doméstica, em um sequestro relâmpago ou o assassinato de parente próximo. Com essa perda do hipocampo e da área pré-frontal do cérebro, a vítima pode ter o raciocínio e a memória afetada.
Além disso, a produção do cortisol, o hormônio que responde ao sinal de estresse, diminui absurdamente. Isso reduz a imunidade, atrapalha a concentração e aumenta em até cinco vezes a chance de doenças cardíacas, como infarto ou derrame.
O transtorno pós-traumático atinge de 10 a 15% das vítimas de violência e é duas vezes mais comum em mulheres. “É uma espécie de sofrimento mental relacionado a uma situação traumática de natureza extrema, dirigida diretamente ou indiretamente ao paciente, como sequestro, desaparecimento, homicídio, latrocínio, balas perdidas, violência sexual, agressões e assaltos, nas quais a pessoa possa figurar como vítima direta ou indireta”, explica o psicólogo e professor Matheus Machado, mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP, que atende vítimas de violência.
O sofrimento de quem passa por qualquer forma de violência é inimaginável. E é exatamente por essa falta de compreensão que a vítima geralmente precisa de ajuda para superar o trauma. “O trabalho com vítimas de violência precisa abarcar não só a reconstrução psíquica, como também a reconstrução da imagem corporal. Muitos pacientes desenvolvem transtornos alimentares ou adoecimentos psicossomáticos após traumas de violência”, explica a psicóloga Marina Ramos.
Infelizmente, quando o assunto é violência, as mulheres saem na frente como principais vítimas. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde:
- Os crimes de violência contra a mulher são quase exclusivamente cometidos por homens;
- As mulheres sofrem mais o risco de serem violentadas por homens que elas conhecem;
- Mulheres e crianças são mais frequentemente vítimas de violência dentro da própria família e entre seus parceiros íntimos.
Independente de classificações de gênero, recuperação após situações violentas são extremamente dolorosas. De acordo com o IBOPE, 650 mil paulistanos sofrem algum tipo de transtorno por causa da violência. O absurdo: esse número é tão comum como em zonas de guerra. Como disse o filósofo francês Jean-Paul Sartre: “A violência, sob qualquer forma que se manifeste, é um fracasso”.
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