José Bento Teixeira de Salles
Em meio a tantas e tantas notícias de violências e crimes de toda ordem, é alentador tomar conhecimento, pelo jornal, da iniciativa particular de organização de uma biblioteca comunitária na Vila Paquetá, na região da Pampulha.
E essa iniciativa é ainda mais elogiável e digna de admiração quando se registra que ela foi montada por uma ex-catadora de papel e babá, Vanilda de Jesus Pereira.
Criada e coordenada por ela, a biblioteca tem 22 mil livros e acolhe, durante o dia, crianças carentes, que usam o espaço para ler e aprender. Há também atendimentos médicos e odontológicos, aulas de dança e refeições para os meninos.
A própria coordenadora revela que falta muito para ser feito, a fim de que o projeto alcance seus objetivos finais. “As paredes estão só no tijolo, as salas não têm pisos e faltam cadeiras. É importante melhorar o espaço que temos, de oito cômodos em 200 metros quadrados” – afirma Vanilda.
Na história, o que valoriza mais seu trabalho é o modo elevado e até certo ponto irônico com que ela narra um episódio que lhe valeu de inspiração para o plano de realizações. Ao ser flagrada de madrugada lendo um livro da patroa, ela foi despedida e com o dinheiro do acerto comprou seu primeiro livro, aos 14 anos, A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães. Ela, que já tinha forte atração pela leitura, foi despertada para a possibilidade de transmitir às crianças pobres igual interesse, por meio de uma pequena biblioteca.
Melhor é o seu irônico agradecimento: “Sou muito grata a Deus e a essa mulher que me mandou embora”.
Infelizmente, são muito raros no Brasil os exemplos de uma educação de incentivo privado às realizações de caráter social e cultural.
Mas, que bom seria se alguém se despertasse para o problema e desse sua colaboração para o maior êxito do empreendimento.
A distância, o poder público, penhorado, aplaude e agradece.
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