Quando iremos reconhecer nossas prioridades?


Edson Lopes Cardoso
edsoncardoso@irohin.org.br
Ao Movimento Negro faz falta uma estratégia política? Quais decisões e ações efetivas poderiam lhe assegurar o desempenho de um ator político relevante?

Na conjuntura, o que se coloca como único método de ação política para o movimento negro é a contemporização institucional. Uma comprovada acomodação de baixíssimo rendimento às circunstâncias definidas por diferentes instâncias de governo.

Eventos, mais ou menos sofisticados, continuam a exercer uma especial atração sobre os ativistas. Mais do que moderação política, o que assistimos é o esvaziamento de toda tensão polarizadora.

Quando a militância perceberá que, geralmente, está envolvida em atividades que contrariam sua condição histórica e, no final de tudo, não alcançam nenhum fim prático, verificável, que beneficie a população negra em seu conjunto?

Caso não se submetesse, despojado de toda grandeza, ao ‘diálogo institucional’, quais seriam os instrumentos práticos de ação à disposição do movimento negro? Qual o problema com a formulação dessa questão? Por que tememos mergulhar em nossa própria experiência histórica, rastreando, comparando, pensando?

Quando falamos de movimento negro, falamos de significados e de realidades. A questão me parece ser definir quais as escolhas políticas que não requerem distanciamento de pessoas e situações concretas.

Essa conexão indispensável poderia neutralizar o fenômeno que atua entre nós no sentido de impedir a formação e o reconhecimento de autênticas lideranças. Tendemos a considerá-lo um fenômeno de natureza predominantemente psicológica e sugiro que comecemos a indagar de sua natureza política, uma vez que acaba facilitando o surgimento de personalidades, não digo apenas oportunistas, mas descoladas o suficiente para não estabelecer limites muito nítidos entre interesses individuais e coletivos.

A recusa em construir um programa, com coordenação, compromissos e objetivos bem expressos e definidos aparentemente encontraria justificativa na afirmação de uma individualidade que afirma querer se guiar por sua própria conta, avessa a toda e qualquer centralização. Mas como no sindicato e no partido a conversa é outra, desconfia-se que um conjunto de práticas e procedimentos desagregadores (o que inclui a negação sistemática das poucas lideranças efetivas) tenha origem em concepções mal dissimuladas, que negariam validade e importância à organização política dos negros.

De concreto, o que há são instâncias de governo promovendo reuniões municipais, estaduais, federais e internacionais. Não podemos deixar de ver aqui uma forma de sujeição muito requintada. Seu requinte consiste em acenar com o diálogo no espaço institucional, sempre definido como “espaço estratégico de formulação e implementação de políticas”, mas o único resultado palpável até aqui é uma boa imagem da ‘governança’ para consumo interno e externo (Genebra).

Estamos diante não apenas de um movimento cindido, mas de um movimento sem poder de transformação, levando a sério a retórica governamental que, no fundo, exige do movimento negro a renúncia de sua identidade política. Apenas para que se possa falar não de um mundo melhor, mas de um melhor governo.

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