Rio fará muro em 11 favelas de área nobre



Estado alega que objetivo é evitar expansão de moradias em áreas de vegetação; locais escolhidos, porém, cresceram abaixo da média

Obras irão custar R$ 40 milhões; medida foi criticada por ambientalista, sociólogo e até pelo escritor português José Saramago

ITALO NOGUEIRA
ANDRÉ ZAHAR
DA SUCURSAL DO RIO

Ao custo de R$ 40 milhões, o governo do Rio vai construir muros no entorno de 11 favelas. O objetivo, segundo o Estado, é conter a expansão das moradias irregulares em áreas de vegetação. Todas as áreas escolhidas, no entanto, cresceram abaixo da média em comparação às demais comunidades. O projeto, inicialmente, será implantado apenas na zona sul, área nobre da cidade.
Segundo o Instituto Pereira Passos (IPP), órgão municipal, a área ocupada por favelas na capital subiu 6,88% de 1999 para 2008. As favelas escolhidas para o projeto cresceram, somadas, 1,18% no período. No morro Dona Marta, onde o projeto está em andamento, houve redução do terreno ocupado de 0,99%. O levantamento é feito a partir de fotos aéreas e não faz contagem da população.
A iniciativa do governador Sérgio Cabral (PMDB) recebeu críticas do escritor português José Saramago.
"Cá para baixo, na Cidade Maravilhosa, a do samba e do Carnaval, a situação não está melhor. A ideia, agora, é rodear as favelas com um muro de cimento armado de três metros de altura. Tivemos o muro de Berlim, temos os muros da Palestina, agora os do Rio. Entretanto, o crime organizado campeia por toda parte, as cumplicidades verticais e horizontais penetram nos aparelhos de Estado e na sociedade em geral. A corrupção parece imbatível. Que fazer?", questionou o escritor português em seu blog.
É a mesma opinião de Itamar Silva, coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. "O muro separa, cria guetos. Vai na contramão da nossa luta de defender que favela faz parte da cidade."
O Estado afirma que o objetivo da medida é conter a expansão das favelas. Serão mais de 11 mil metros de muros de três metros de altura, ao custo previsto de R$ 40 milhões. As construções de uma creche, um hospital e dois centros de integração e cidadania na Rocinha (com restaurante e usina de reciclagem), por meio do Programa de Aceleração do Crescimento, custarão R$ 32 milhões.
Duas das favelas beneficiadas pelo PAC serão cercadas: Rocinha e Pavão-Pavãozinho. A primeira, em São Conrado, cresceu em nove anos 1,41%. Já a comunidade de Copacabana foi a que mais ampliou, proporcionalmente, a ocupação na zona sul: 4,76%. Mas, para o IPP, o maior crescimento proporcional foi na zona oeste (11,5%).
O presidente da Federação das Favelas, Rossino de Castro, afirmou ser contra a medida. Disse que líderes comunitários sentem medo de resistir ao projeto e que, com isso, suas comunidades sejam excluídas de projetos sociais do governo. "Ouvimos duas comunidades, a Babilônia e o Vidigal, que são contra. Mas eles têm receio de que, se não permitirem o muro, não levem os projetos para lá."
Para Marcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento da SOS Mata Atlântica, um muro não é a melhor forma de evitar o avanço de construções irregulares sobre a mata. Para ela, a comunidade deve se envolver na proteção das áreas verdes.
O sociólogo Ignácio Cano diz suspeitar que "há um elemento de segurança pública no muro", escondido pelo governo para não aumentar a polêmica.


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