A Justiça e o sistema de cotas

Embora tenham caráter liminar, as recentes decisões do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) e do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região, que suspenderam o regime de cotas para negros, índios e estudantes de escolas públicas em universidades estaduais e federais, são mais um exemplo das tensões e confusões jurídicas que essa demagógica política de "ação afirmativa" e de "justiça compensatória" vem causando em todo o País.

No Rio de Janeiro, o recurso judicial foi impetrado por um deputado estadual, que questionou a constitucionalidade de uma lei, aprovada no ano passado pela Assembleia Legislativa, que estabelece cotas para deficientes físicos e para filhos de bombeiros, policiais civis e militares e inspetores de segurança e administração carcerária mortos em serviço ou incapacitados em razão de serviço. Em 2002, a Assembleia fluminense já havia aprovado uma lei impondo as chamadas "cotas raciais e sociais" nas três universidades públicas estaduais.

Ao fundamentar a concessão da liminar, o desembargador Walmir de Oliveira e Silva criticou a legislação fluminense sobre cotas, alegando que, além de ferir o princípio da igualdade consagrado pela Constituição de 88, ela não prevê critérios objetivos para avaliar o conhecimento dos candidatos cotistas. Não se trata de um fato isolado no Estado. Só a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que reserva 45% de suas vagas a alunos cotistas, responde anualmente a cerca de 400 processos judiciais, em média. Eles são impetrados por estudantes não cotistas que não conseguiram se matricular, apesar de terem obtido pontuação maior que a de cotistas aprovados nos vestibulares da instituição. Em 2006, um vestibulando de medicina obteve 91 pontos e não conseguiu ser aprovado - e um cotista ingressou no curso de relações públicas com apenas 50 pontos.

No TRF da 2ª Região, o recurso foi ajuizado por 15 estudantes que também obtiveram média para passar no vestibular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em 2007, mas não puderam se matricular, preteridos por cotistas. A instituição reserva 40% de suas vagas a alunos oriundos de escolas públicas e que tenham renda familiar mensal de até sete salários mínimos. Em seu voto, a relatora do processo, desembargadora Lúcia Lima, afirmou que as cotas comprometem o princípio do mérito no acesso ao ensino superior público. Para ela, o mais adequado para se promover justiça social seria conceder bolsas de estudo para estudantes carentes ou pobres, em vez de prejudicar "estudantes que, por circunstâncias de vida, tiveram oportunidade de estudar em uma instituição de ensino particular".

Na comunidade acadêmica e nos meios políticos, a reação às duas liminares foi a esperada. A Procuradoria-Geral do Estado do Rio prometeu entrar com embargo de declaração, assim que a decisão dos desembargadores for publicada. A Assembleia Legislativa também prometeu recorrer, alegando que a lei por ela aprovada é constitucional. O ministro da Igualdade Social, Edson Santos, afirmou que o Órgão Especial do TJ-RJ teria agido com inusitada rapidez no caso. "Estranhei a celeridade na votação. Uma questão como essa, com impacto social tão grande, não pode ser decidida por liminar", disse ele. Por sua vez, as três universidades estaduais fluminenses alegam que a decisão do TJ-RJ exigirá alterações no vestibular programado para novembro.

Como também já era esperado, a Ufes e as três universidades estaduais fluminenses agora têm de enfrentar tensões causadas pelo acirramento da discriminação racial. Os alunos cotistas são malvistos pelos não cotistas, enquanto os estudantes beneficiados por liminares são criticados pelos cotistas. Esse é o tipo de problema que, tendo começado pela equivocada tentativa de democratizar o acesso ao ensino superior com base em critérios como etnia, cor da pele e origem socioeconômica - quando o mais sensato era combater o péssimo nível do ensino fundamental e do ensino médio -, pode levar ao segregacionismo e à eclosão do ódio racial num país que, apesar de suas iniquidades, sempre se caracterizou pela miscigenação e pelo convívio harmonioso de pessoas de todas as nacionalidades, cores e religiões.

Google Wave pretende unificar email, IM e todas as formas de comunicação na web




Screenshot do Google Wave / Foto: Reprodução

RIO - O Google apresentou nesta quinta-feira durante a conferência I/O o seu novo email que pretende substituir não só os atuais correios eletrônicos como também quase todas as outras formas de comunicação online. O "Google Wave" combina email, chat, troca de fotos e vídeos, feeds e muitos mais em um mesmo ambiente colaborativo.

Em 2004, quando o Google lançou o Gmail, o velho conceito de webmail foi totalmente modificado. Além de fornecer uma quantidade de espaço inimaginável até então (2 GB contra os parcos 25 MB do Hotmail na época), o correio eletrônico do Google transformava o caos de nossas caixas postais em "conversas" muito mais fáceis de se administrar.

Foi uma revolução, mas para os irmãos Lars e Jens Rasmussen, engenheiros de software do Google, ainda é possível melhorar. Na opinião deles, as principais formas de comunicação na web - email e mensagens instantâneas - ainda simulam conceitos analógicos. As formas de troca de informações na internet, por outro lado, evoluíram drasticamente nos últimos anos, com o surgimento dos blogs, wikis, documentos colaborativos, Twitter, RSS, etc.

- De certo modo, nós pegamos dicas de todas as ferramentas de comunicação existentes - disse Jens ao site Webmonkey.

No novo produto, uma "wave" (onda) inclui lado a lado partes de "conversas" e documentos, permitindo que as pessoas se comuniquem enquanto trocam arquivos como textos, fotos, vídeos, mapas, etc. Tudo no mesmo ambiente.

" Nós pegamos dicas de todas as ferramentas de comunicação existentes "

A ideia por trás do Wave é unificar todos esses modelos em um "continuun" suave, da forma mais simples possível; e tirando proveito das atuais capacidades dos computadores (e da web), ao invés de imitar formas não-eletrônicas.

E como isso funciona? O primeiro passo é criar uma "Wave" e convidar pessoas para participarem dela. Todos que estão na mesma "onda" podem incluir textos, fotos, wikis, links, etc. Cada item da "onda" pode ser comentado ou editado e as modificações são vistas por todos em tempo real. Segundo o Google, a latência é medida em poucos milissegundos. E se você perde alguma parte da conversa, é possível reprisar todo o processo, para entender como ele evoluiu.

Os participantes da conferência Google I/O puderam testar o produto nesta quinta, mas ele só estará disponível para o público em alguns meses. Quem quiser ser avisado sobre o lançamento, basta se inscrever em http://wave.google.com/ . Já existe um grupo de APIs que podem ser utilizadas por desenvolvedores no site http://code.google.com/apis/wave/ .

Polícia Federal apreende material neonazista em Belo Horizonte




BELO HORIZONTE E SÃO PAULO - A Polícia Federal apreendeu material de conteúdo racista e neonazista na manhã desta sexta-feira, na região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo o delegado responsável pelo caso, as denúncias foram encaminhadas por usuários de sites de relacionamento na internet.

Quatro mandados de busca e apreensão foram cumpridos na operação batizada de "Opa", três em Belo Horizonte e um e Contagem. Segundo a polícia, nos locais havia muito material impresso e arquivos de computador. Tudo foi levado para a sede da Polícia Federal em Belo Horizonte.

Quatro pessoas vão responder a processo na Justiça Federal por crime de ódio e preconceito. Se forem condenados, a pena prevista é de dois a cinco anos de prisão, além de multa.

Em abril passado, o jovem Bernardo Dayrell Pedroso, de 24 anos, morador de Minas Gerais, foi morto no Paraná ao lado da namorada, Renata Waechter Ferreira, de 21 anos. Segundo a polícia do Paraná, que investigou o crime, Dayrell foi morto a mando de um economista de São Paulo, Ricardo Barollo. A polícia de São Paulo acusa Barollo de integrar um grupo neonazista armado. Armas compradas pelo grupo foram apreendidas também no Rio Grande do Sul, onde a polícia estima que moram pelo menos 50 integrantes do movimento neonazista. No total seis pessoas foram presas pela morte dos jovens, incluindo Barollo.

Grupos neonazistas são acusados de comprar armas na Argentina e a eles são atribuídas pelo menos 10 mortes em dois meses , que estão sendo investigadas.

Viciados em crack lotam rede pública de saúde

Renata Mariz - Correio Braziliense

Brasília – Uma das maiores pedras no caminho da reforma psiquiátrica brasileira é a mistura de cocaína com substâncias altamente tóxicas. O crack, que leva 15 segundos para chegar ao cérebro e provocar reações pelo corpo todo, transformou-se em um desafio gigantesco para a rede pública de saúde mental. Pipocam, cada vez com mais intensidade, casos de crianças e adolescentes, usuários preferenciais da droga, em unidades de atendimento. A rede que deveria dar conta desse tipo de demanda, entretanto, permanece longe do ideal. Há no país 186 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) especializados em dependência química, enquanto a meta traçada pelo governo federal, já para 2010, é de 350. No caso da infância, a situação é ainda mais crítica.

Os 101 Caps existentes no Brasil destinados a cuidar de pessoas de até 17 anos não têm estrutura para atender essa população, no total, de quase 60 milhões de crianças e adolescentes. Mesmo em clínicas psiquiátricas que, diferentemente dos centros de atenção psicossocial, trabalham com a internação para desintoxicar, os pequenos são ignorados. “Somos a única unidade do SUS que atende, na saúde mental, meninos e meninas de 6 a 12 anos no Rio Grande do Sul” , lamenta Gilberto Brofman, diretor do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre. A incidência de dependentes de crack nos 10 leitos da unidade infantil da instituição é da ordem de 50%. Na ala dos adolescentes, chega a 90% o número de viciados na pedra.

No caso dos adultos, a fragilidade da rede é semelhante. “Os próprios Caps encaminham para nós. Na ala de pacientes agudos, onde deveria ter mais esquizofrênicos, 50% dos internos hoje estão por drogas, principalmente o crack”, afirma Elieuza Bacelar, diretora do Hospital Especializado Lopes Rodrigues, em Feira de Santana (BA). Depois de vencer primeiro a própria resistência, Fernando* precisou batalhar uma vaga entre 30 leitos destinados a dependentes químicos do São Pedro, na capital gaúcha. “Fumei tudo que eu podia, até minhas roupas”, diz o jovem de 28 anos, atualmente em tratamento.

Na Região Sul, 1,1% da população usou crack pelo menos uma vez na vida — percentual maior que a média nacional, de 0,7%. Os dados são do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Secretário estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, Osmar Terra classifica o problema como uma chaga social. “Não tem gripe suína, dengue, malária. Absolutamente nada, nos dias de hoje, é mais grave que a epidemia do crack”, diz. Nos planos de Terra, está o credenciamento de 600 leitos em hospitais gerais no estado específicos para o atendimento aos usuários da droga. Além disso, agentes do programa Saúde da Família já passaram por capacitação para verificar sinais de uso de crack durante as visistas domiciliares.

O desespero

A jornada de Daniel* passou pelo caminho típico do usuário de crack. Depois da primeira pedra, rapidamente veio a dependência, seguida de furto dentro de casa, assalto à mão armada na rua, falta de dinheiro e muita fissura. Tanta que o menino de 17 anos fez o que contraria a gana de viver associada à juventude. Quis morrer. Tentou se matar. “Vi que eu não ia conseguir ficar sem usar. Aí, me cortei com cacos de vidro”, conta.

Com as cicatrizes no braço ossudo ainda recentes, ele recebeu alta, depois de dois meses de desintoxicação. “Mas ninguém veio me buscar. Querem arrumar um abrigo para mim”, lamenta, com voz embolada, efeito dos remédios para combater a ansiedade. O menino deseja voltar para casa, mas a família, de Pelotas (RS), não retorna mais os chamados do hospital em Porto Alegre onde o garoto está. “Sei que minha mãe sofreu muito. Uma vez ela me amarrou e chamou a polícia. Mas eu queria ficar com ela”, afirma Daniel, filho adotivo, quatro irmãos.

A esperança

Uma dose diária de 20 a 30 pedras estava matando Juliana*, que começou a fumar a droga quando tinha 9 anos. Para conseguir dinheiro, assaltava apartamentos e se prostituía. O programa custava a quantia necessária para uma pedra, R$ 5. Há cerca de um mês, a menina, que morava na rua, foi levada por assistentes sociais para um local de tratamento. “Quero me recuperar, ter uma vida diferente”, diz. Além de tomar remédios, Juliana participa de brincadeiras com os colegas de internação como parte do programa de desintoxicação.

Saudade da rua, ela diz que não tem. A pedra era boa, conta Juliana, para “tirar” a fome, o frio. “Podia ficar muitos dias sem comer”, lembra a menina de 12 anos. Apesar de extrovertida, desconversa. Insiste em falar da nova vida na clínica. “Gosto de fazer tudo aqui. Tem comida. Cada dia um coloca a mesa”, explica. De repente, vai até a janela, volta com algo na mão. “Olha o meu pé de feijão, fui eu que plantei”, orgulha-se, exibindo o copo de plástico com o algodão no fundo.

* Os nomes são fictícios, para preservar a identidade dos entrevistados

Estudo indica que mortes por aborto é maior entre negras

Agência Estado

SÃO PAULO - Um novo estudo sobre a mortalidade de mães no Brasil revela que o risco de morrer por aborto é muito maior nas mulheres negras e pardas do que em grávidas brancas, o que leva especialistas a questionar se a criminalização do procedimento estaria punindo apenas alguns grupos raciais. Segundo o trabalho do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio, apresentado durante o seminário Mortalidade Materna e Direitos Humanos no Brasil, o risco de morte de uma grávida negra cuja gestação terminou em aborto é 2,5 vezes maior do que o de brancas.

Nos últimos quatro anos o instituto vem se dedicando a radiografar o aborto no País e, depois de mostrar que sua frequência reflete as desigualdades - ocorrem mais entre mulheres negras e pobres -, foi investigar se havia também diferenças na mortalidade, considerando registros de 2003 a 2005. Os especialistas apontam que é possível que a descriminalização do aborto, se um dia aprovada no Brasil, reduza o índice de complicações e mortes - atualmente é crime, só permitido em caso de estupro ou risco de morte para a mãe. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Café Palhares conquista o título de melhor tira-gosto de BH

Eduardo Tristão Girão - EM Cultura

aumentar fonte diminuir fonte imprimir
Pedro Motta/Esp. EM/D. A PRESS
Os irmãos Luiz Fernando e Joao Lúcio Ferreira, donos do Café Palhares, com o kaol, marca registrada do bar

Em 2003 ele chegou perto, venceu na categoria melhor atendimento. Três anos depois, repetiu o feito, conquistando também o título de terceiro melhor tira-gosto da cidade com um picadinho ao molho de cerveja preta e mandioca batizado de Hilda Furacão. Este ano, o Café Palhares, uma das casas mais tradicionais da cidade (está completando 71 anos de funcionamento), faturou o prêmio máximo do Comida di Buteco com o “karacol de pernil”: fatias de pernil ao molho picante de abacaxi, couve, minipão sírio e palitos de couve e pepino. Os irmãos Luiz Fernando e João Lúcio Ferreira, que comandam o bar, anunciam: o petisco será mantido no cardápio.

Basta olhar o quadro de petiscos afixado sobre o velho balcão de mármore e constatar que nele não está nenhuma das criações com as quais a casa disputou as edições passadas do Comida di Buteco. O karacol (R$ 17,90) será o primeiro. “Esse prato foi criado com a intenção de ser light, sem fritura. É um dos pratos com menos gordura nessa edição do Comida di Buteco”, conta Luiz. O pernil é o mesmo que há décadas é assado e fatiado na casa. O molho foi adaptado a partir de uma receita vista na internet e vem recebendo muitos elogios. “Foi a minha mulher, Verônica, quem criou o petisco”, confessa.

Os legumes, apresentados em palitos, não são apenas um complemento light. Eles emprestam “crocância” ao conjunto e refrescam a boca do freguês, ocupada com carne e pimenta. O pãozinho, é claro, ajuda a “limpar” o prato. “O pessoal gostou de fazer sanduichinhos com esse petisco”, conta Luiz. Ele conta que durante o Comida di Buteco vendeu cerca de 50 karacóis por dia – número que aumentou bastante na semana final do evento. “Só não vendi tanto quando os outros bares porque não tenho mesas na calçada. Outros bares chegaram a vender 200 petiscos concorrentes por dia”, garante.


Pedro Motta/Esp. EM/D. A PRESS
Edson Geraldo Soares vai completar 50 anos de dedicação ao bar
TRADIÇÃO

O maior desafio do karacol será furar a barreira do consumo praticamente automático do kaol (R$ 7,40), um dos mais famosos pratos da cidade. Para se ter uma ideia, o bar vende, em média, um kaol a cada dois minutos, o que significa algo em torno de 500 por dia. “Antes de se tornar kaol, o prato era comida dos funcionários, na época em que a casa funcionava 24 horas por dia”, diz Luiz. O nome foi criado pelo proprietário, seu Neném (pai de Luiz e João), e o compositor Rômulo Paes, juntando as iniciais do que compreendia a refeição: cachaça (o k é por estilo), arroz, ovo e linguiça.

Hoje o kaol é composto por arroz, farinha com grãos de feijão, couve, ovo frito e linguiça – a cachaça é por conta do freguês. A linguiça é um capítulo à parte: produzida diariamente no bar, segue receita de antigo funcionário, o que inclui pernil suíno, alho, sal e pouca gordura. Se quiser, o freguês pode trocar a linguiça por carne cozida, língua ou dobradinha. Se quiser pernil, paga acréscimo de R$ 0,80. “O tempo que leva para servir um kaol é o de fritar o ovo. Enquanto o ovo frita, a gente monta o prato. Na volta, o ovo está pronto”, garante Luiz. Muita gente gosta de ter como acompanhamento do prato um pastel de carne (R$ 0,60, unidade).

DIVERSÃO

Outro “patrimônio” do local é o gerente, Edson Geraldo Soares, de 64 anos. Ano que vem, completará meio século de Café Palhares. Nascido em Belo Horizonte, começou a trabalhar como ajudante de montagem de transformadores de energia elétrica. Na época, a irmã trabalhava num prédio onde moravam funcionários do bar. Indicado por eles, Edson chegou e ficou. “Pelo visto, não vai haver terceiro emprego”, brinca. Aposentado há 15 anos, trabalha de segunda a sábado das 15h às 23h e confessa que praticamente não viu todo esse tempo passar: “Quando se está num lugar que gosta, a gente para de contar os anos e passa a conviver. Não venho aqui trabalhar, venho me divertir”, garante Edson.

CAFÉ PALHARES
Rua Tupinambás, 638, Centro. (31) 3201-1841. Aberto de segunda a sábado, das 7h às 23h.


Entrevista com MV BILL


Nascido e criado em uma das favelas mais conhecidas do mundo, a Cidade de Deus, o rap e escritor Mv Bill pede cara novas e mais musicalidade nos rapers. E diz que o RPB FESTIVAL é uma renovação original.

1- O que você acha de um festival que da oportunidade para os novos talentos?

MV Bill: Acho muito importante por trazer a renovação e esse festival propõe isso de uma forma muito original.

2- Pra você como está a cena do rap no Brasil?
MV Bill: Precisando muito de novos nomes, idéias, novas caras... Precisa de um frescor.

3 - Como você vê a mídia em relação ao hip-hop?
MV Bill: Ainda com muito distanciamento e de forma desrespeitosa as vezes. Ainda há um tratamento marginalizado muitas vezes.

4 - Na sua opnião qual o futuro do hip-hop no Brasil?
MV Bill: Penso num futuro sem os vícios atuais e com mais musicalidade, acompanhado de maturidade.

5 - Qual a dica que você daria para os grupos que estão surgindo?
MV Bill: Inscrevam-se e tragam suas idéias sem medo. A renovação agradece!

RAP POPULAR BRASILEIRO


O Rap Brasileiro nunca mais será o mesmo!

RAP POPULAR BRASILEIRO PREMIAÇÃO EM DINHEIRO : 1º LUGAR R$2.000,00 - 2º LUGAR R$ 1.000,00 - 3º LUGAR R$ 500,00


NOVAS DATAS DO RPB FESTIVAL

Datas:

1 de junho
Fim das inscrições


07 de junho
1º Eliminatória Estadual.

Viaduto Negrão de Lima

14 de junho
2º Eliminatória Estadual.

Viaduto Negrão de Lima

21 de junho
Final do Estadual.

Viaduto Negrão de Lima

27 de setembro
RPB FESTIVAL BRASIL
Local a definir


REALIZAÇÃO
Art. 1° CUFA - Centra única das favelas, promove o R.P.B-Festival – Rap Popular Brasileiro, em JUNHO E SETEMBRO de 2009, em âmbito nacional.
O festival acontecerá em diversos estados do país, sendo uma das cidades realizadoras o Rio de Janeiro cujas eliminatórias acontecerão de, 07 de junho, 14 de Junho, 21 de Junho e 27 de Setembro.
A final Nacional com os campeões estaduais acontecerá igualmente no Rio de Janeiro, dia 27 de Setembro.

OBJETIVO
Art. 2° - O R.P.B Festival – que tem como objetivos:
· Incentivar o desenvolvimento e difusão do Rap,
· revelar talentos,
· valorizar artistas, compositores e Mc’s deste gênero musical;

DATAS.
Art. 3º - As etapas do RPB Festival acontecerão nas seguintes datas:
· 2 de fevereiro - Inicio das inscrições via site. www.rappopularbrasileiro.com.br
· 12 de abril - fim da inscrição 1 de Junho.

LOCAL.
Art. 4º - Todas as etapas do Rio de Janeiro sob o Viaduto Negrão de Lima, no
Centro Cultural e Esportivo CUFA – Rua : Alfeu Farias Castros/n.º - Madureira – RJ

INSCRIÇÕES.
Art.5° - A pré-inscrição deverá ser feita pelo site do festival www.rpbfestival.com.br, de 02 (dois) de fevereiro a 1 (primeiro) de junho de 2009. Após a realização da pré-inscrição, o candidato deverá enviar, para realizar a inscrição efetiva, via Correio, o material endereçados a CUFA PRODUÇÕES : Rua Carvalho de Souza, 137-sala 111 – Madureira- RJ – CEP – 21350-180, A-C :RPB FESTIVAL Rio de Janeiro) conforme descrição:
CD - em mp3 e áudio contendo apenas a musica inscrita, ficha de inscrição – com todos os itens preenchidos. O não preenchimento de algum item implica a não conclusão da inscrição.
- Rider técnico; mapa de palco;
- Letra da musica em papel A4, fonte 12;
- Foto de divulgação - digital, com resolução mínima de 300dpis;
- Copia do RG do responsável e integrante do grupo;
- Release – documento com breve apresentação do grupo. Mínimo de uma pagina em fonte de letras tamanho 12.
- Desejável vídeo de boa qualidade para divulgação.
Art. 6 º Poderão se escrever grupos de rap de todos os gêneros

Art. 7º O limite de idade mínima para os grupos inscreverem seus integrantes é de 16 anos de idade. Caso o grupo tenha um menor de idade,
Art. 8º Não serão aceitos materiais enviadas fora do prazo estabelecido. O selo do correio será uma comprovação da data de postagem. Entrega em mãos no escritório da Cufa, somente dentro do período de inscrição.
Art. 9° Não Será cobrada taxa de inscrição.

MÚSICAS.
Art. 10° Cada grupo poderá inscrever apenas 1 (uma) músicas, respeitando os critérios de ineditismo e originalidade da mesma .
· Entendemos por INÉTIDA a música que não tenha sido gravada em discos comerciais, nem editada.
· Deverá ser mantida a originalidade, entendendo-se como tal à inexistência de plágio de composição já existente considerada tanto a parte musical quanto literária.
· Parágrafo Único - O material enviado para a produção passará a fazer parte do acervo do festival.

AUTORIZAÇÕES.
Art. 11 º No ato da inscrição todos os integrantes do grupo devem liberar seus direitos de imagem.
SELEÇÃO E APRESENTAÇÃO DOS GRUPOS.
Art. 12° - Serão selecionados pela comissão organizadora, os grupos do Rio de Janeiro para a etapa estadual do R.P.B. Festival Rio de Janeiro. A relação dos grupos selecionados, para concorrerem ao festival, estará disponível no site: http://www.rpbfestival.com.br/ , a partir...
Art. 13º - Os grupos selecionados serão divididos por sorteio em dois blocos. Cada bloco se apresentará em uma das duas eliminatórias, conforme datas constantes neste edital.
Art. 14º Os grupos classificadas deverão ser apresentadas exatamente conforme foram enviadas para o processo seletivo, não perdendo a sua originalidade do CD inscrito, que servirão de base para a triagem dos trabalhos que concorrerão ao festival

Parágrafo único – A ordem de apresentação de cada grupo será feita por sorteio.


COMISSÃO JULGADORA.
Art. 15° O Corpo de Jurados será composto por 10 (dez) membros, dentre rapers, jornalistas, literatos, produtores culturais e pessoas ligadas à arte e à cultura em geral e uma pessoa do publico.
Art. 16° - É competência do Corpo de Jurados, a escolha dos grupos finalistas e a atribuição dos prêmios, dentre os concorrentes, ficando as suas decisões definidas como inapeláveis e irrecorríveis.
Art. 17° -Os valores de pontuação, que serão utilizados pela Comissão Julgadora, será: Nota MÍNIMA - 1 (um) ponto e a nota MÁXIMA - 10 (dez) pontos.


AVALIAÇÃO.

Art. 18º - Serão avaliados através de pontuação de 1 (um) a 10 (dez) pela comissão julgadora os seguintes itens.

Letra.
Musica.
Peformance de palco.

Havendo empate o quesito de desempate será: PEFORMANCE DE PALCO.Sendo assim o grupo que empatar será avaliado a maior nota que ele recebeu no quesito “Peformance de palco”, se o empate permanecer, será avaliado o quesito MUSICA.Continuando o empate será avaliados o quesitos LETRA.


DISPOSIÇÕES GERAIS.
Art. 19° Todos os casos omissos, não previstos nesse regulamento serão resolvidos pela Comissão Organizadora.


DISPOSIÇÃO FINAL.
Art. 20°– A inscrição efetuada para concorrer ao R.P.B Festival, desde já, pressupõe a aceitação e concordância com todos os termos deste regulamento, valendo como contrato de adesão para todos os envolvidos como: autores, m’cs, d’js, backing vocal, enfim, todos os participantes do evento.

Barreiras de concreto 'fecham pobres em guetos' no Rio, diz 'Times'


Muro em construção no morro Dona Marta

Muros aumentam divisão social na cidade, segundo o jornal

Os muros em construção pelo governo ao redor das favelas nos morros do Rio de Janeiro estão dividindo ainda mais uma cidade já separada entre ricos e pobres, afirma reportagem publicada nesta terça-feira pelo diário britânico The Times.

O jornal observa que os críticos do projeto dizem que as barreiras de concreto, de até três metros de altura, transformarão as favelas em guetos, segregando os seus habitantes ao separá-los das áreas mais ricas.

A reportagem comenta que o governador do Rio, Sérgio Cabral, argumenta que seu projeto de cercar 13 favelas tem como objetivo evitar que sua expansão destrua a vegetação dos morros.

Mas o jornal diz que "em uma cidade rachada pela violência, pela desconfiança e pela desigualdade social, poucos acreditam nele".

Muro de Berlim

O Times cita o escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, que comparou os muros no Rio ao Muro de Berlim e às barreiras nos territórios palestinos, e contrasta suas declarações às do presidente da empresa de obras públicas do Rio, Ícaro Moreno Júnior.

Segundo Moreno Júnior, as áreas verdes dos morros cariocas podem desaparecer em dez anos se nada for feito. "Estamos protegendo a floresta. Não estamos dividindo as pessoas. É maluquice comparar isso ao Muro de Berlim ou à Faixa de Gaza", disse ele ao Times.

O jornal observa que, apesar das críticas, muitos moradores apoiam o projeto. Esse é o caso do morador do morro Dona Marta José Raimundo Brito, de 26 anos, para quem "as coisas melhoraram com o muro".

Segundo ele, outras obras públicas recentes na favela, como a instalação de uma base da polícia e de uma linha de bonde gratuito para a subida do morro, elevaram o valor da casa de sua irmã no último ano, de cerca de R$ 8 mil para cerca de R$ 15 mil.

Mas para Rubem César Fernandes, diretor da ONG Viva Rio, que se dedica à redução da violência nas favelas, os muros são "um símbolo agressivo das divisões mais profundas dentro da cidade".

"Um muro satisfaz a opinião pública. Simbolicamente é um controle. Mas é uma má solução para um problema real", disse ele ao jornal.

Fonte : BBC

Exposição Fotográfica "Meu Morro, Meu Olhar - o olhar das crianças sobre o Morro do Papagaio"


aumentar fonte diminuir fonte imprimir
Foto Jorge Quintão Jr.
O projeto "Meu Morro, Meu Olhar" surgiu com a intenção de contribuir para a formação das crianças que participam do Programa Escola Integrada. Através de aulas de fotografia, essas crianças de 11 a 14 anos, reeducam seus olhares e os voltam para a comunidade que os cercam.

Nome do Evento: Exposição Fotográfica "Meu Morro, Meu Olhar - o olhar das crianças sobre o Morro do Papagaio"
Data Inicial:08/07/2009
Data Final: 27/07/2009
Hora Inicial:13:00
Hora Final:22:00
Entrada:Gratuito
Consumação:Gratuito
Categoria:Exposição

Mercado brasileiro se prepara para leitores eletrônicos

EDUARDO SIMÕES

Anunciado no início deste mês, o Kindle DX (pronuncia-se "quindou"), o mais novo leitor eletrônico de livros e jornais da Amazon, é mais um passo numa esperada revolução na forma de armazenar, transferir e consumir livros, algo talvez comparável ao que aconteceu com a indústria da música e os aparelhos como os tocadores de MP3, na década de 90, e o iPod, que surgiu em 2001.

Divulgação
Aparelho Kindle Deluxe é o mais recente modelo de leitor da companhia Amazon
Aparelho Kindle Deluxe é o mais recente modelo de leitor da companhia Amazon

Embora os aparelhos e livros digitais ainda sejam limitados aos EUA e não tenham previsão de chegar ao Brasil, o assunto já está na pauta das principais editoras do mercado e também das grandes livrarias. Por exemplo, a maioria dos contratos assinados nos últimos três anos, quando surgiram os primeiros leitores Kindle e Reader (da Sony), já inclui o direito à distribuição na forma digital. E as editoras, de um modo geral, afirmam poder produzir rapidamente as versões e-books de seu catálogo.

"Temos arquivos digitais de tudo, estamos muito preparados para distribuir 100% do nosso catálogo principal", diz Mauro Palermo, diretor-executivo da Nova Fronteira. "A adesão do leitor será rápida porque a plataforma é irresistível. Inicialmente, a distribuição continuará sendo feita pelos parceiros livreiros. E ganharão muito os que têm uma boa loja.com."

Marcílio D'Amico Pousada, diretor-presidente da Livraria Saraiva, que acaba de lançar um serviço de aluguel e compra de filmes via download pelo site, acredita que o "negócio do livro digital vai evoluir".

"A internet já representa 33% do faturamento da Saraiva. As experiências com livros digitais ainda não são definitivas, mas já estão avançadas. Quando a fotocópia apareceu, nos anos 60, achavam que o livro iria acabar. Mas há um convívio até hoje. O livro físico é difícil de ser 100% substituído, mas, em parte, sim."

Aparelhos

A compra e download de livros digitais ainda é exclusiva para o território americano, seja via conexão à internet por meio de um computador (caso do Sony Reader) ou por uma rede sem fio exclusiva, caso do Kindle (Amazon). Porém, os editores brasileiros já vêm testando os aparelhos com textos em formato PDF ou versões digitais de livros já em domínio público, disponíveis no Google.

As avaliações são diversas. Luciana Villas-Boas, diretora-editorial da Record, tem um Sony Reader, cuja tela ainda considera "muito fosca". A editora também acha improvável uma grande adesão a um aparelho caro que vai "sujar ou enferrujar" se levado à praia.

Paulo Roberto Pires, da editora Agir (grupo Ediouro), que já utiliza o aplicativo gratuito Stanza para ler livros digitais ou arquivos PDF em seu iPhone, considera uma "bobagem" a discussão de que não se pode ler bem numa tela. "Os aparelhos não substituem o livro, mas dá para ler na tela, sim."

Menos entusiasmada com os aparelhos de leitura disponíveis, a diretora de produção da Companhia das Letras, Elisa Braga, diz que, em termos de visualização, o Kindle é o melhor, "tem menos reflexo na tela". Mas ressalva: "São pouco práticos. E mais, um aparelho somente para leitura, por quase 500 dólares, é algo que não vai pegar no Brasil. Só vai funcionar quando houver um dispositivo que integre tudo, como um celular com tela dobrável".

Sergio Herz, diretor de operações da Livraria Cultura, também aponta problemas com os aparelhos. Com os custos de importação, se eles chegassem ao Brasil hoje, não sairiam por menos de US$ 600 ou 700, cerca de R$ 1,5 mil. E mais: "Quem viaja, a trabalho ou em férias, vai querer carregar notebook, celular e ainda um e-reader? Com os respectivos cabos e carregadores? O quanto estamos dispostos a ter e carregar tantos cacarecos?", questiona.

Futurologia

Ponderado, Roberto Feith, diretor-presidente da editora Objetiva, arrisca o que chama de "exercício de futurologia" para estabelecer algumas etapas para a chegada dos aparelhos e adesão aos livros digitais.
Para Feith, a primeira etapa será de downloads para leitura em celulares avançados, já existentes no mercado. A segunda deve acontecer com a chegada dos primeiros Sony Readers importados e com custo alto.

"Devem ser usados mais como ferramenta de trabalho para pessoas que precisam carregar com frequência grandes volumes de texto, como advogados, jornalistas e editores", diz.
A quarta etapa, afirma o editor, começará quando houver aparelhos de leitura e redes de distribuição sem fio.

"Esta é a imensa diferença entre o Kindle e os demais dispositivos de leitura, como o Sony Reader", diz Feith. "O Kindle é o único que funciona sem fio, permitindo a compra, por impulso ou não, de qualquer conteúdo digital a partir de quaisquer lugar e hora. Ou seja, o Kindle não oferece apenas uma alternativa equivalente de leitura. Ele oferece uma importante vantagem em comparação com a compra e leitura de livros impressos, que é a compra instantânea, de qualquer texto, em qualquer lugar."

Redes sociais mantêm fotos apagadas por usuários, diz pesquisa


Facebook (arquivo)

O Facebook afirma que as fotos apagadas são retiradas imediatamente de seus servidores

Uma pesquisa feita por estudiosos da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha, indica que sete sites de redes sociais mantêm na internet por até 30 dias as fotos que seus usuários apagaram.

Os pesquisadores colocaram fotos em 16 sites populares - anotando os endereços de rede onde as imagens foram armazenadas - e então apagaram as fotos.

A equipe afirma que conseguiu encontrar as fotos novamente em sites como o Facebook, o MySpace e o Hi5, usando os endereços diretos para as fotos, mesmo depois de elas aparentemente terem sido apagadas até 30 dias antes.

Os pesquisadores afirmam que páginas de compartilhamento de fotos como Flickr ou Picasa, do Google, tiveram um desempenho melhor, e que as fotos foram imediatamente eliminadas do Orkut.

"Isto demonstra como as páginas de redes sociais frequentemente têm uma abordagem preguiçosa à privacidade do usuário, fazendo o que é mais simples em vez de fazer o que é certo", disse Joseph Bonneau, um dos pesquisadores.

Reagindo à pesquisa, um porta-voz do Facebook garantiu que "quando um usuário apaga uma fotografia no Facebook, ela é removida de nossos servidores imediatamente."

"No entanto, URLs para as fotografias podem continuar existindo na Rede de Entrega de Conteúdo (CDN, na sigla em inglês), depois que os usuários apagam as imagens do Facebook, até que algo seja escrito por cima. Isto geralmente ocorre depois de um período curto."

A pesquisa foi publicada no blog Light Blue Touchpaper, dos pesquisadores do Grupo de Segurança do Laboratório de Computação da Universidade de Cambridge.

Hip hop nas ruas e nos projetos

A cena não é difícil de ser vista nas grandes cidades, principalmente em suas áreas pobres: ao som de raps, grupos de jovens dançam break, pintam muros com suas latas de spray e fazem rimas com batidas ao fundo. Os temas dos grafites – como são chamadas as pinturas – e das músicas – os raps – quase sempre abordam o cotidiano de quem ainda tem pouca idade, é negro e mora em regiões por muitos anos esquecidas pelo poder público. São comuns desenhos sobre a repressão policial e letras sobre como é difícil arrumar um emprego e fácil ser discriminado por sua raça. O relato da violência nas periferias está presente em muitas canções.

Por falar da realidade vivida por um enorme número de pessoas, o hip hop, nome da cultura que engloba todos esses elementos, já se tornou um fenômeno. Vende milhares de discos, mobiliza a juventude, colore o cinza das cidades e produz moda sem esquecer as discussões políticas. O que antes era considerado coisa de marginal por boa parte da sociedade é hoje um dos mais úteis instrumentos de inclusão social, utilizado como ferramenta de diversos projetos e com forte influência na juventude. Tanto que foi reconhecido até pelo governo federal como fator importante das políticas públicas voltadas para essa parcela da sociedade (veja box ao lado). Mas agora encara o desafio de se manter fiel às raízes para não perder a vocação política devido ao crescimento.

A origem do hip hop está na década de 60, época em que o movimento de luta pelos direitos civis nos EUA se fortaleceu e valorizou a cultura negra. Nessa época começam a surgir os mestres de cerimônia (MCs), que cantam as músicas; os disc-jockeys, cuja função é colocar os discos na vitrola e, às vezes, “misturar” as músicas; os grafiteiros e os dançarinos de break. A dança, aliás, surgiu como protesto contra a guerra do Vietnã, pois imitava os movimentos dos feridos em combate. As coreografias são “quebradas”, daí o nome. O termo “hip hop”, também vem dos movimentos: hip quer dizer quadril e hop, salto.

Poesia, música, dança e artes plásticas, portanto, são os quatro elementos do hip hop.

Por muito tempo o estilo ficou segregado nos guetos negros norte-americanos, mas tornou-se rapidamente um canal de expressão da juventude, por causa das letras dos raps. “Não me empurre, pois estou perto do limite. Estou tentando não perder a cabeça. Às vezes isso é como a selva e me faz imaginar como não afundar”, dizia o norte-americano Grandmaster Flash no refrão de “The Message”. A música foi lançada em 1983 e expressava a situação dos jovens negros nas ruas de Nova Iorque naquela época.

Organizados em gangues, muitos resolviam seus problemas com violência, mas a solução começou a ser alcançada também por meio da dança. Em vez de trocarem socos e tiros, faziam disputas de break durante festas animadas com caixas de som colocadas na rua. Os que levavam jeito para cantar se desafiavam na elaboração de músicas e provocavam-se ao mesmo tempo em que tentavam passar uma mensagem para a platéia. A politização daquele tempo permanece até hoje como princípio dessa cultura.

Foi nessa época que o estilo chegou ao Brasil. O centro de São Paulo era o principal pólo de hip hop do país, cuja imagem para a polícia não era das melhores. Lá foram formadas as primeiras rodas de break, onde jovens de diversas partes da cidade se reuniam para dançar ao ritmo das músicas importadas.

“Começamos na Praça Ramos de Azevedo, mas mudamos nosso ponto de encontro algumas vezes, por causa da repressão”, lembra Carlos Alberto de Souza, o Kall, integrante do movimento hip hop desde o começo dos anos 80 e hoje MC [Mestre de Cerimônias] do grupo Conclusão. O local que acabou se tornando mais famoso foi o Largo São Bento, também no Centro. “Era lá que todos se informavam e trocavam idéias. Quem sabia inglês traduzia as letras para os outros, e assim começavam as discussões”, diz Kall, que lembra a importância dos bailes de música negra, os bailes blacks, na formação musical desses pioneiros. Discos também foram trocados e surgiram os primeiros campeonatos de dança de rua.

Para ele, o primeiro boom do hip hop brasileiro aconteceu em 1984. Naquele ano, Nelson Triunfo, um “black”, como eram chamados os que gostavam de hip hop e freqüentavam bailes, participou da abertura de uma novela em rede nacional e assim popularizou a dança e o ritmo ainda mais. “O que era uma cultura de rua, do Centro, começou a ir para a periferia”, afirma Kall, que já passou mais de três horas em ônibus para se encontrar com seus “manos”. Com o crescimento da cidade, o acesso ao Centro foi dificultado e as atividades nas demais áreas se multiplicaram.

No fim da década de 80 e começo da de 90 surgiram as “posses”, pequenos grupos organizados por causa do hip hop e bastante politizados. O nome de uma das primeiras a ser fundada, em 89, demonstra isso: Sindicato Negro. Sua missão, assim como a das demais, era fazer raps, grafites, dançar, debater política e fazer atividades em favor de suas comunidades. A repressão, no entanto, continuava. Kall, lembra que em 89 um colega seu foi morto por um policial numa estação de metrô por estar cantando rap e não aceitar parar. Hoje, afirma, a situação está bem melhor, apesar de ainda haver preconceito.

Em 91 houve um evento que também é considerado marcante para o rap nacional. O grupo Public Enemy, outro pioneiro do hip hop norte-americano, fez sua primeira apresentação no Brasil, aberta pelos Racionais MCs, hoje o conjunto mais conhecido do país. A mídia deu boa cobertura e passou a prestar atenção nos brasileiros, cujas letras eram conhecidas por grande parte do público.

A partir daí, ONGs e poder público começam a despertar para o fenômeno. Em 1992 o Instituto da Mulher Negra Geledes criou o projeto Rappers, cujo objetivo era conscientizar a juventude sobre as diversas formas de exclusão social e contribuir para a organização política dos jovens da periferia. O projeto, atualmente, está desativado.

A prefeitura de São Paulo, na gestão de 1989 a 92, implementou o programa Belezura, que incentivava a pintura de muros com grafites e apoiava, por meio de outra iniciativa, o “Repensando a Educação”, a utilização dos demais elementos do hip hop como ferramentas de ensino nas escolas municipais.

Atualmente os elementos do hip hop estão difundidos em diversos projetos. Um dos mais bem sucedidos é a Casa do Hip Hop de Diadema, que funciona desde 1999 na cidade da Grande São Paulo, conhecida por suas altas taxas de criminalidade. Cerca de 2.500 adolescentes freqüentam aulas de dança, desenho e discotecagem e muitos, após se formarem, ensinam em novas turmas no próprio programa ou em outros. “Hoje 80% de nossos professores são ex-alunos”, diz Jéferson Costa, coordenador da entidade.

“Nosso principal resultado foi a diminuição da criminalidade no entorno. Tiramos jovens das ruas pregando o ‘quinto elemento’ do hip hop, a conscientização”. Costa lembra que no começo do projeto havia muitas brigas de gangues na área onde está a casa, mas elas foram substituídas por disputas de break e grafite. Como no início do movimento. A idéia deu tão certo que todos os centros culturais de Diadema hoje têm pessoas oriundas da Casa ministrando oficinas de algum dos quatro elementos.

Já o Projeto Quixote, também de São Paulo, dá aulas de grafitagem para adolescentes em situação de risco. Terminado o curso, eles produzem camisetas a partir do grafite e fazem instalações em diversos locais da cidade. Tudo remunerado. Contudo há um problema recorrente em projetos ligados ao hip hop: pais de alunos que não vêem com bons olhos o trabalho dos filhos. “Acham que são vagabundos por ficarem pintando muros, apesar de estarem fazendo arte. Mas isso está mudando”, diz Roberto Madalena, coordenador de Educação para o Trabalho do projeto. “Sempre se sonha com um emprego mais convencional, porém hoje é possível ganhar muito dinheiro com o grafite”, argumenta.

Um exemplo disso, cita Madalena, é a compra de painéis por lojas de grife, que querem aproveitar o crescimento do hip hop. Ele, no entanto, gosta mais de outras telas. “Prefiro grafitar espaços onde seja possível passar uma mensagem, como o [ex-presídio] Carandiru, a Cracolândia [região do centro de São Paulo conhecida pelo grande consumo de crack]”.

Não só ONGs fazem atividades com adolescentes. Alguns grupos não se contentam em apenas narrar seu cotidiano e também colocam a mão na massa. Um deles é o Anastácias, de Porto Alegre, composto só por mulheres – o que ainda é raro no meio. Vencedoras na categoria grupo feminino do Prêmio Hutus 2003, a maior premiação do hip hop nacional, elas, sempre que possível, visitam escolas da periferia da capital gaúcha para dar oficinas e ministrar palestras. “Valorizamos bastante a auto-estima dos negros, que são minoria em Porto Alegre”, diz a MC Denise, que reclama apenas do machismo ainda existente no meio. “Não concordamos com o ponto de vista de alguns grupos, muito agressivos em relação às mulheres. Isso não constrói nada, não aponta soluções”.

Ela, aliás, é um exemplo da atração do hip hop sobre a juventude. A gaúcha conta que não gostava de rap por achar coisa de “maloqueiro”. Mas, quando conheceu um grupo de Porto Alegre com letras interessantes, passou a freqüentar rodas de break e a ouvir rap. Para Denise, o poder de atração do hip hop se deve, além da identificação com o conteúdo, à facilidade de produção. “É muita coisa junta: dança, música, arte... e tudo fácil de fazer, não precisa de diploma. O trabalho social também chama bastante a atenção”.

Kall, entrentanto, reclama do enfraquecimento das posses e do fato de algumas ONGs chegarem às comunidades com o projeto fechado. “As posses eram feitas por pessoas autônomas, mas que se perderam por vários motivos, como falta de apoio e visão política. Já as organizações não têm a vivência daquelas pessoas e tentam padronizar as iniciativas. Ainda falta troca entre as entidades e as comunidades, além de interesse de fortalecer a cultura e o aproveitamento de quem já faz parte do movimento. Não dá certo contratar bailarino pra dar aula de break”, diz.

Apesar de todos os elogios para discursos dos integrantes do movimento, há quem alerte para as falhas. “Muitos não sabem o que dizem, compram um pensamento fechado e o difundem sem analisar”, afirma Patrícia Casseano, uma das três autoras do livro “Hip hop: a periferia grita” (Fundação Perseu Abramo). A jornalista, entretanto, ressalta a importância dessa cultura para a periferia. “O hip hop é a voz de quem está na dificuldade, não há outra forma cultural que dê voz a quem passa por isso”.

Isso pode justificar a crescente popularização do estilo. O disco “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais MCs, mais famoso grupo de rap nacional, vendeu um milhão de cópias desde seu lançamento, em 1997. A marca foi atingida sem nenhum grande esquema de divulgação, somente com comentários boca a boca e a execução das músicas em rádios comunitárias. Se estivessem em uma grande gravadora, ganhariam disco duplo de diamante, prêmio da Associação Brasileira de Produtores de Discos para quem atinge essa vendagem.

Nos EUA os rappers há tempos lideram as listas de discos mais vendidos, mas isso não quer dizer que as letras continuam politizadas. “A parte musical é excelente, mas o conteúdo tem muita porcaria”, opina a MC Denise. Para as pessoas envolvidas com o hip hop, a manutenção do seu lado social é o grande desafio do momento. Kall afirma que a mudança vai acontecer e que a tendência do hip hop é sair da periferia e se tornar uma cultura de massa. “Por isso é preciso valorizá-lo como arte. A responsabilidade do enfoque é de quem produz. Não podemos esquecer que ele é uma grande ferramenta de mudança”.

Segundo Jéferson Costa, o risco está na perda de identidade do movimento. “Há um grande poder financeiro em volta e modismos. Mas acredito que o viés social não será perdido totalmente”. A opinião é compartilhada pelo educador social Alexandre Isaac, que trabalhou durante dois anos em um projeto baseado no hip hop, acredita que há um risco de o estilo ser “cooptado pelo mercado”. “Sempre há aproveitadores”, afirma.

Já o produtor musical Celso Athayde, organizador do prêmio Hutus, acredita que “quando o dinheiro aparecer, a maioria poderá seguir a trilha de suas necessidades básicas. Esse é o nosso desafio: criar nosso próprio mercado e repensar a nossa resistência”. Para Denise, contudo, o hip hop feito no país será cada vez mais brasileiro no sentido da mistura com outros estilos e de criar uma nova identidade. “Ninguém quer que aconteça o mesmo que lá nos EUA. Os temas dos raps e grafites vão variar, mas a cultura nunca irá se perder”.

Afinal, como diz Athayde, “se o hip hop não existir para salvar vida, então não é hip hop.” (Fonte: www.rits.org.br - Marcelo Medeiros)

A droga e os jovens





José María Poirier

Buenos Aires / Temas – "Se nos deixarmos vencer pela droga perdemos liberdade e plenitude, porque todo vício é uma forma de escravidão, o oposto da felicidade", sintetiza monsenhor Jorge Lozano, bispo de Gualeguaychú, em conversa com a revista Ciudad Nueva, quando em nosso país se debate sobre a liberação do consumo. E agrega: "A lei cumpre um papel punitivo e tem também um valor de proposta, de modelo. A liberação poderia conduzir a uma espécie de justificação das condutas viciosas. Outras questões são como ajudar os jovens a sair da droga e aprender a não tratar como delinqüentes aqueles que sofrem o drama do consumo e do vício. Porém, a liberação pode ser um gol contra".

Jorge Lozano é um homem sereno e profundo, preocupado e interessado pelos múltiplos problemas que afetam as pessoas hoje em dia. Trabalha como responsável da área de Laicos Construtores da Sociedade, dependente do Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino-Americano. Mais adiante esclarece que não é um especialista na temática droga, mas que a ação pastoral e a urgência de acompanhar os outros o levam a ter contato com muita gente e, a partir disso, nascem algumas reflexões.

Hoje o que leva os meninos e os adolescentes para a droga?

A vontade de "se sentir bem", quando não é o desespero devido à fome e ao frio nas ruas. Garotos que perambulam por nossas cidades e cheiram cola; adolescentes que querem se desinibir no círculo vicioso de sábado à noite, onde para serem aceitos ou por medo de frustrar o outro sexualmente misturam álcool, drogas e Viagra. Em algumas zonas urbanas e suburbanas é maior o consumo de estimulantes sexuais em adolescentes que em adultos.

O senhor já se referiu ao "paco" em mais de uma ocasião, inclusive em meios jornalísticos.

É um tema gravíssimo. É a "droga-lixo", o que sobra da elaboração da cocaína, o que se varre do chão. Nela se agregam outras coisas, o mais barato, o mais letal e o que provoca estragos entre os garotos mais pobres. Aliás, não existe gasto de transporte, não implica traslado, é vendido nos mesmos lugares. A Argentina tem um dos índices de consumo mais altos da América Latina.

Isto leva a reexaminar as cumplicidades que a droga implica.

A cumplicidade existe e não é um fenômeno de agora, mas de anos. Se as pessoas que andam pelas ruas sabem onde se vende droga, como as autoridades não vão saber? Existe cumplicidade policial e política. A droga movimenta muito dinheiro. Muita gente não quer fazer denúncias porque quando chegam as autoridades os implicados já foram advertidos. Um negócio que explica o fenômeno da lavagem de dinheiro no futebol e o boom imobiliário.

O que a Igreja ou as Igrejas e as comunidades religiosas podem fazer?

O problema tem diferentes níveis. Perseguir as máfias é tarefa do Estado. A droga, junto com o negócio das armas e o tráfico de pessoas, é hoje um dos grandes problemas do mundo. As comunidades religiosas podem colaborar na prevenção e no acompanhamento dos grupos de recuperação, mas, sobretudo no que se refere ao sentido mesmo da vida. Para cada jovem que decide provar a droga são muitos os que fracassam: a família, a escola, a paróquia, o grupo de jovens, toda a sociedade. O que podemos oferecer são espaços de convivência e de diálogo. Muitos jovens procuram as drogas depois de sofrer experiências de profunda solidão e isolamento. Os jovens reclamam. Temos que multiplicar e melhorar os espaços familiares, educativos e religiosos onde os garotos possam se expressar, expor seus relatos, dizer o que acontece com eles. Não é fácil: muitos jovens não sabem dizer o que sentem, o que pensam, o que vivem, precisam ser ouvidos. Acredito que nas famílias um dos momentos mais importantes é quando os jovens voltam no domingo de manhã após terem passado a noite com seus amigos. Devemos encontrar lugares e momentos onde eles possam comunicar a angústia e a solidão. Precisam, além disso, de espaços de certeza. Hoje o passado não diz nada aos jovens e eles não vislumbram um futuro: vivem na angústia do presente sem horizontes. A falta de certezas ocorre no aspecto laboral, escolar e afetivo. Teríamos que fazer com que eles soubessem que Deus nos ama, que a vida deles não é um incômodo para nós, mas sim uma alegria. Temos que demonstrar que o amor é possível.

Por que o senhor insiste que se deva encontrar o sentido da vida?

Porque em muitas experiências de vício a vida aparece como insegurança, como medo, como incapacidade de abertura, como angústia. A droga se apresenta como uma bengala ilusória onde se apoiar. Lembro-me que João Paulo II dizia que a droga aparece como um raio na noite, mas em uma noite chuvosa. E Bento XVI dizia aos jovens no Brasil que o que mais se teme é uma vida sem sentido. A droga é sinônimo de morte. Deve-se apostar na vida. Despertar grandes ideais e anseios profundos, não aceitar a fragmentação da existência, não aceitar que todo o afetivo se reduza a relações emotivamente intensas, porém fugazes, não aceitar como única verdade o dia-a-dia, como se nos faltasse história e projeção. O sentido da vida tem a ver com as relações verdadeiras, com o tempo e as forças que estamos dispostos a brindar aos demais. Temos que ir descobrindo juntos o sentido da vida, em um vínculo de amor recíproco.

___________________________
José María Poirier
Diretor da Revista Criterio.

(Fonte: www.miradaglobal.com)

Hip-hop é trabalho coletivo e trata dos excluídos, diz documentarista

Tony C. tinha dez anos quando teve seu primeiro contato com a música que retratava os problemas cotidianos dos negros. O hip-hop era ouvido em fitas cassete. Com amigos mais velhos, Tony se enturmava e conseguia entrar nas matinês, ficando até mais tarde nas boates, onde logo começou a discotecar.

Hoje, aos 25 anos, o publicitário dirige e produz um documentário ainda sem nome sobre a história do hip-hop no Brasil. "Estou filmando o meu cotidiano, o hip-hop fala dos excluídos e é feito 90% por pessoas da periferia". Morador de Carapicuíba, município que fica a 23 quilômetros de São Paulo, leva duas horas de metrô para chegar ao centro da capital paulista, onde trabalha como webmaster. "Aproveito a viagem para ler e, assim, leio uma média de dois livros por semana", conta.

Integrante da entidade Nação Hip Hop, define o estilo musical como um "trabalho coletivo", formado por DJs, MCs (cantores), grafiteiros e B boys (dançarinos de brake), que leva nas letras uma mensagem de igualdade. "Estamos num país que diz ser de democracia racial, mas isso não existe. Estamos longe ainda", ressalta Tony, que é a favor das cotas universitárias para negros. "São formas de buscar essa igualdade", diz.

Para Tony, o hip-hop é um movimento de auto-afirmação não apenas dos negros, mas dos pobres e excluídos. "É um movimento que diz ‘olha, apesar de todas as dificuldades, você é uma pessoa como qualquer outra, entre você e o presidente da República não existe diferença’. Quando você começa a dizer isso e questionar a discriminação, você eleva a auto-estima", aponta. Uma das conseqüências da discriminação é a redução da cultura, história e estética que faz, por exemplo, "com que as pessoas alisem o cabelo achando que esse é o padrão da beleza".

O DJ diz que o sonho de ganhar dinheiro como músico no Brasil ficou guardado na infância. Hoje, "não é meu sonho, não faço com a pretensão de ganhar dinheiro. As pessoas fazem por militância, por acreditar", diz. Outro dia, assistiu a uma reportagem que falava do DJ mais novo do mundo, um inglês de doze anos. "Eu comecei aos dez". Para ele, o episódio retrata como a arte no Brasil é mal conhecida e valorizada.

O primeiro contato com um rap nacional veio pelo rádio. "Gravei, mostrei pro pessoal e fui 'zoado'", recorda. Uma música cantada em português, com gírias e erros de linguagem, foi motivo de gozação entre os amigos. Era a música "Pânico na Zona Sul", do grupo Racionais MCs, que anos depois fez sucesso em todo país. (Fonte: Agência Brasil)

As múltiplas falas do hip hop - Entrevista exclusiva com Tânia Ximenes Ferreira


Hip hop e educação: mesma linguagem, múltiplas falas é o título da dissertação de mestrado de Tania Ximenes Ferreira, apresentada na Faculdade de Educação da Unicamp. A pesquisadora mergulhou no movimento hip hop de Campinas para entender se havia crise no grupo. "A crise que atinge o movimento em Campinas pode ser ampliada para outras localidades. Esta crise, porém, deve ser encarada não como caos, mas como risco e oportunidade, possibilidades de se delimitarem novas relações", explica Ximenes. A IHU On-Line entrevistou por e-mail a estudiosa sobre o tema.

IHU On-Line - Quais foram os conflitos no movimento hip hop verificados em sua pesquisa?

Tânia Ximenes Ferreira - Há uma multiplicidade de posicionamentos e propostas entre os hip hoppers, mas o ideário que os norteia é o mesmo. Embora façam parte da mesma manifestação cultural, há peculiaridades. Denominam-se hip hop, mas expressam "múltiplas falas". Há aparente homogeneidade no hip hop: movimento de contestação social, denúncia e protesto, por meio de suas expressões artísticas. No entanto, há hip hoppers que afirmam "não fazer protesto" ou que não consideram todas as expressões do hip hop. Outros estão ligados a diferentes militâncias e outros, ainda, têm interesses exclusivamente financeiros. Enfim, pertencem a um grupo de jovens que compartilha de uma mesma definição de realidade, mas podem expressar múltiplas falas.

IHU On-Line - Qual é o perfil das pessoas que fazem parte do movimento? Quais são as suas falas?

Tânia Ximenes Ferreira - O hip hop é constituído, em sua maioria, por jovens, moradores de periferia e negros. Suas falas são as desigualdades sociais, a violência, a importância da educação, da informação e da politização. Uma característica importante é o compromisso com as modificações sociais.

IHU On-Line - Em que ponto a linguagem é a mesma se levarmos em conta a dança, o desenho e a música?

Tânia Ximenes Ferreira - A linguagem é a mesma se considerarmos a resistência e a ruptura com os padrões impostos pela sociedade. A linguagem sonora resiste quando rompe com a melodia da música legitimada pela sociedade, introduzindo elementos eletrônicos e ruídos como o arranhar do disco. Resiste quando cria jeitos de mexer, de torcer, de pular, de girar e recria passos de dançarinos e de ginastas profissionais. No desenho, a resistência está em fazê-lo colorido com spray nos muros e prédios públicos. Em retratar cenas urbanas, sem domínio de técnicas de pintura, sem moldura. Nas letras, o jeito de falar, rimar, com gírias sem seguir as mesmas regras das poesias.

IHU On-Line - Dá pra dizer que o hip hop é ainda um movimento único e integrado?

Tânia Ximenes Ferreira - Dá para dizer que o hip hop tem se construído em seu contexto ambíguo e que as diferenças permitem seu crescimento. É da tensão entre os grupos que o hip hop se mantém.

IHU On-Line - Quais são as diferenças mais gritantes que a senhora encontrou neste grupo de Campinas?

Tânia Ximenes Ferreira - As diferenças são a parte ativa da identidade, e não algo que descaracterize o hip hop. Os momentos se transformam e incorporam outros modos de luta e de participação. O hip hop hoje não se constituiu com base em uma abordagem exclusivamente contestatória. No entanto, alguns grupos podem ser identificados. Alguns b.boys (dançarinos de break) consideram o rap como expressão do hip hop e não fazem protesto, já que consideram apenas o caráter de festividade. Alguns rappers vêem a proximidade entre os partidos políticos e o hip hop como uma militância única. Outros hip hoppers têm objetivos exclusivamente financeiros. Há ainda grafiteiros que não gostam de rap e militantes do movimento negro que definem o hip hop como ideário apenas de luta racial.

IHU On-Line - O movimento hip hop está passando por uma crise? Dá para dizer que o quadro encontrado em Campinas pode ser ampliado para o País?

Tânia Ximenes Ferreira - A crise que atinge o movimento em Campinas pode ser ampliada para outras localidades. Porém, esta crise deve ser encarada não como caos, mas como risco e oportunidade, possibilidades de se delimitarem novas relações.

IHU On-Line - Qual a importância do hip hop para as comunidades nas quais o movimento se insere?

Tânia Ximenes Ferreira - Os hip hoppers têm desenvolvido atividades ligadas à educação não-formal por meio de oficinas, aulas, palestras, seminários e fóruns que abordam temas de interesse dos jovens moradores de periferia. Estabelecem-se parcerias com a administração municipal ou estadual, ONGs, centros comunitários, associações e escolas públicas. Em alguns locais onde foram desenvolvidas oficinas, os participantes estão sendo os multiplicadores do hip hop, dando continuidade aos projetos de formação de novos hip hoppers.

Falar a partir do muro (Grafite latino-americano)





Berlim / Cultura - Grafite! Somente a menção da palavra faz com que tremam os muros e que mais de uma jugular ameace romper. A espécie, entretanto, é tão velha quanto o Homem. Apenas erguido, ainda cambaleante, o homo sapiens foi presa imediata da irresistível tentação de registrar tal acontecimento nas paredes de suas residências pré-históricas em Aurignac, Lascaux ou Altamira. Desde aquela época, nenhum muro esteve a salvo da inspiração de uma mão que escreve ou desenha. Deixou suas marcas nos prodígios de Gizé, nos templos maias de Tikal e nos arenosos labirintos de Susa. Foi a mesma mão que, nos muros do palácio de Baltasar, rei dos caldeus, escreveu a mais enigmática da anunciação: Mene mene tekel u-parsin, cuja tradução fatalista devemos a Daniel, o profeta.

E nas trevas da Torre de Londres ou na sempiternamente ensolarada cara ocidental do Muro de Berlim essa mesma mão continuou sua longa crônica de nostalgias e iras. E impertérrita continua escrevendo, riscando, pintando, arranhando em todas as superfícies possíveis e impossíveis. Essa mão não encontrará paz enquanto existir uma razão que a inquiete. Independentemente de formas e conteúdos e apesar de todo o poder do estado, os grafites gozam de uma obstinada presença que os fazem igualar à eternidade.

Os grafites são anárquicos por natureza. Seus autores permanecem, por princípio, no anonimato. Contrário aos esforços policiais e apesar dos chamados morais de políticos imaculados, o grafite, como filho do urbano, só terminará com o fim da cidade. Nem um minuto a mais ou a menos. Grafite e cidade estão unidos indissoluvelmente por toda a vida e até que a morte os separe. Aceito este fato, vale a pena se perguntar se não seria mais razoável tomar e compreender os grafites como um signo de seu tempo, antes que se entregar ao sísifo trabalho de querer erradicá-los.

O que distingue o grafite latino-americano de seus distantes congêneres em outras latitudes?

A América Latina se inclina manifestamente pela variante do grafite escrito. De realização mais barata que o de intenção plástica dos países ricos. Depois de longas ditaduras militares e de reformas neoliberais não menos cruéis nas últimas duas décadas do passado século XX, cresceu e se estendeu ao longo dos muros latino-americanos um denso texto silvestre, de abundância e variedade nunca vistas antes. Ainda são visíveis neles vestígios da legendária primavera parisiense de 68. Porém, ao contrário desta, o caráter geral do atual grafite latino-americano está consumido por uma ironia niilista e uma iconoclastia radical.

Na América Latina não foi somente a direita tradicional ou renovada que se alucinou com a pílula ectasy do ultra-neoliberalismo. Também são numerosos os ex-devoradores de capitalistas, que hoje o adoram como uma panacéia prodigiosa contra todos os males. Sou marxista, mas da ala neoliberal: é o comentário que se lê na rua sobre esta metamorfose de Saulo a Paulo. Ou: Pobre país! Até os comunistas são de direita!

Políticos honrados são elementos asociais, informa o muro. Certamente tal informação é válida não apenas na América Latina.


O grafite marca, indefectivelmente, cada processo eleitoreiro, cada decisão governamental, cada debate parlamentário na exposição pública de sua palavra. Deste modo, nos muros latino-americanos têm lugar uma catarse muito particular, que ao menos serve para uma transitória desintoxicação das almas de autores e leitores, tão envenenadas pelas desilusões crônicas das democracias tortas.

O grafite latino-americano é a rebelião dos desdentados. Dos que não mordem, mas que se esforçam em ladrar um pouco. Já não transporta nenhum chamado para tomar o céu de assalto, como naqueles primeiros tempos em que as utopias ainda podiam caminhar. O que resta daquele tempo é uma descascada pátina de nostalgia. Por isso é que ainda se pode ler de vez em quando: Atenção, último chamado! Proletários de todos os países, uni-vos! Ou ainda: Che vive! Como adrenalina em nós!

Porém, isso não é tão certo. Também o comandante inesquecível vegeta agora sem rumo em camisetas descoloridas e os proletários têm hoje preocupações mais urgentes que a de lutar.

Apesar de tudo o muro insiste: Não mate seus ideais! Eles são uma espécie em extinção!

Bem sabem os inimigos do grafite que a luta contra eles não se pode vencer. As bofetadas do grafite alcançam também outros cúmplices do sistema e os acusa de subserviência. Imprensa, rádio e televisão.

Jornalista, tire a proteção da sua caneta, escreva a verdade!, exige o muro. E agrega: Os fatos não se podem mudar, mas pode-se interpretá-los de forma equivocada.

exige o muro. E agrega
Os moralistas municipais afirmam que o muro é o papel do exluídos. É possível que tal rudeza não peque de originalidade, mas em um ponto têm razão: em todo muro se pode escrever. O que se escreve é o que enfurece os sumistas das cidades latino-americanas.

Os namorados, por sua vez, fazem do muro o que sempre foi desde seus princípios: poderoso trompete do amor feliz ou desgraçado. Pois o mundo inteiro deve saber: Teu abraço, uma teia cheia de luz ou Vou chorar, vou ladrar, mas nunca, nunca mais voltarei a falar contigo. E ele sussurra: Espera por mim, nua entre os escorpiões. E ela responde: Ali estarei, com teu veneno em meu sangue.

Talvez, algum dia, quando (não só na América Latina) o grafite se transforme em poesia, será muito mais perigoso do que hoje podemos imaginar. Pode ocorrer, então, que um dia, um exército de sonhadores se decida a responder a pergunta Por que não damos um chute nesta enorme bolha cinza, com a ousadia da prática.

Omar Saavedra Santis

Escritor portenho, nascido em Valparaíso, cuja prolífera obra foi traduzida a diversos idiomas. Reside em Berlim desde 1974.


Entrevista com MV Bill





Você provavelmente o conheceu em 1999. Naquele ano, a classe média ficou escandalizada com as imagens de um cantor de rap se apresentando no Free Jazz Festival portando uma arma na cintura. Nas edições dos noticiários de TV e nas primeiras capas dos jornais do dia seguinte, a acusação: _ Apologia ao crime! O mundo dá voltas e, oito anos depois, MV Bill conquistou, com muito esforço, o respeito da elite intelectual e da mídia, a ponto da principal emissora do país veicular, durante quase uma hora, seu documentário, Falcão- Meninos do Tráfico, e no famigerado, porém bastante assistido, Fantástico. Alex Pereira Barbosa (nome verdadeiro de Bill) recebeu o Repórter Rodrigo Mathias e a fotógrafa Camila Rabelo, do ESPALHAFATO, na sede da CUFA (Central Única de Favelas), na Cidade de Deus, para um bate-papo descontraído e pautado por uma grande consciência política e social.

A fama e o respeito, conquistado com seu trabalho, mudaram sua relação com o público em geral?

Antes da fama eu carregava a áurea da incompreensão. Talvez eu também ainda não tivesse aprendido a me expressar de forma clara. Não sabia usar as palavras certas para externar a revolta que eu tinha dentro de mim. Todas as vezes que eu participava de debates nas universidades, eu era banido abaixo de gritos de racista, de preconceituoso, de radical... Quando na verdade, eu sempre preguei o que eu prego hoje, só que naquela época, eu confesso que era de uma forma mais agressiva.

O que mudou de lá pra cá?

Eu amadureci. E aconteceram outras coisas na minha vida que complementaram meu discurso, trazendo uma maior compreensão para aqueles que me ouvem. Talvez só com as palavras, eu não conseguisse atingir esse público. Depois que “Falcão” foi lançado, muito mais gente passou a prestar atenção no que eu falo. As imagens causam um espanto e permitem que as pessoas conheçam uma realidade que dificilmente conheceriam só com a minha fala. As imagens ainda causam surpresa.

Estar na mídia é uma vitória sua ou uma cooptação do sistema?

Toda vez que eu tive oportunidade de ir na TV, principalmente na Globo, eu nunca foquei no que poderia ser ganho em cima de mim, mas o que eu poderia ganhar com o espaço conquistado. E eu sempre vi a mídia, de um modo geral, como uma via de mão dupla. Eles se beneficiam, mas o meu discurso também se beneficia. Eu vejo todas essas inserções na mídia de forma positiva. De certa maneira, estamos ajudando a reescrever parte da história da TV brasileira. Não acho que aparecer em um lugar como a Globo seja um ponto negativo, muito pelo contrário, a gente ajudou a empretecer um pouco mais a TV.

Alguns artistas vëm de comunidades pobre e, depois da fama, esquecem de onde vëm e viram as costas para seus antigos fãs e mesmo amigos. O que você pensa disso?

Eu já fui muito mais radical sobre esse tema. Depois eu fui amadurecendo e vendo que o que a gente critica é aquilo que a gente é. Mas eu continuo criticando aquelas pessoas que sobem na vida e esquecem de onde vêm, do passado. Esquecem que precisam lutar também para melhorar a vida das pessoas que eles deixaram pra trás.

Qual o panorama que você faz sobre esses anos de CUFA?

Quando eu vejo o que a gente conquistou, eu fico impressionado. Quando começamos, eu não imaginava que conseguiríamos fazer isso tudo. Outro dia, na final da Libra (Liga Brasileira de Basquete de Rua), eu vi o tamanho daquilo tudo e fiquei boquiaberto. É uma coisa que me deixa muito feliz, mas que foi muito difícil para conseguir. Se hoje eu tivesse que começar tudo de novo talvez nem começasse, mas é um sacrifício que vale a pena. É uma pena muito dura, mas vale.

Qual sua visão do atual estágio do Movimento Negro?

Acho que o Movimento Negro é importante, mas quando eu participava dele vi que tinha muitas falhas. A meu ver, a principal delas é a distância que ele tem da população em geral. Nos encontros que eu ia, eu sempre via as mesmas pessoas. Eu ouvia aqueles discursos belíssimos, mas que só eram ouvidos por pouca gente. O que estava querendo se criar ali era apenas uma elite intelectual negra. Eu já acho que nós devemos mesmo é conversar com o povo em geral e não restringir a discussão a um grupo apenas.

Em abril, a UNE promoveu o primeiro Encontro de Estudantes Negros da UNE, o ENUNE. Você considera esse passo dado pelo Movimento Estudantil uma vitória, mesmo que pequena, para o combate ao racismo?

Acho muito bom que um grupo de pessoas se reúna para discutir esse assunto, que é um assunto muito pouco debatido. Mas eu acho que é preciso tomar cuidado para não ficar uma coisa estigmatizada, “estudantes negros”. Estudante negro é antes de tudo um estudante como qualquer outro. Não quero que a gente crie uma classe estigmatizada entre os estudantes.

Recentemente, um jornalista influente lançou um livro chamado “Não somos racistas”, que de uma certa forma resgata a idéia de democracia racial do Gilberto Freyre. O que você acha da insistência de uma parte da sociedade nessa teoria?

Cara, eu não tenho nem mais espanto quando vejo isso. É o reflexo de uma parte da sociedade. E como é uma parte dominante, continua a existir, de forma errônea, esse pensamento de que nós não somos uma nação racista e que o problema é um desnível social. Chame como quiser. Mas se você for até esses lugares onde a diferença econômica é pior, você vai identificar qual é a cor daquelas pessoas e isso não é uma coincidência. As pessoas tentam tirar a responsabilidade do racial e colocar no social, como se isso fosse amenizar o problema, mas ele continua grave da mesma forma. Não importa como chamem, olhem e vão identificar onde está esse problema, é só dar uma pesquisada na maioria da população de rua, na maioria da população carcerária, dos desempregados, das empregadas domésticas, dos subempregados, dos analfabetos, a maioria dos jovens que mais morrem com essa violência. Já existe uma desproporcionalidade na população negra masculina; morre-se mais do que se nasce. Se não vai chamar isso de racismo o que é então? Se não for racismo é genocídio.

Você é a favor das cotas?

Eu particularmente gostaria muito que as cotas não fossem necessárias, é o que eu queria. Mas a gente vive num país tão filha da puta... Eu ia nessas palestras em universidades e comecei a identificar algumas coisas. Depois que eu descobri que o ‘E’ de UERJ é estadual e o ‘F’ de UFRJ é federal, eu pensei: Pô, mas não são esses carros importados do ano que deveriam estar aqui nesse estacionamento. As pessoas da mesma cor que eu não poderiam estar só na cozinha, na limpeza ou na segurança. Ali está o erro. As universidades publicas são usadas de maneira errada. Claro que eu não acho que deva pegar qualquer muleque na rua e colocar lá. Tem que existir um pré-vestibular para preparar essas pessoas. Já existem estudos que demonstram que a maioria dos cotistas tem tirado notas melhores do que não-cotistas. Mas também acho que as cotas não devem ser uma coisa permanente. Por isso que eu brigo muito pelo ensino de base. Temos que fazer com que os pais consigam manter os filhos na escola, para que não sejam como os meus, que tiveram que me fazer optar por estudar ou trabalhar. Quando isso acontecer, aos poucos, as cotas podem ser abolidas. Eu vi uma campanha do governo federal que era pra pedir para as empresas terem diversidade racial no quadro de funcionários. Para eles começarem a contratar negros, nordestinos, índios, qualificados que não conseguem se inserir no mercado de trabalho. É uma propaganda que dá um pouco de vergonha lá no fundo, mas se o governo federal tá pedindo é porque tá precisando né.

Você já pensou em fundar um partido uma vez, o PPPomar. Por que você preferiu fundar um partido e não entrar em um?

Eu tenho muito problema com partidos, porque toda vez que eu ia procurar um, eles me indicavam para uma “ala” que cuida do Movimento Negro. Ora, eu não quero apenas uma ala de um partido, eu quero um partido inteiro. Então eu comecei a formular a idéia do PPPomar, que era para ser um partido destinado a colocar o problema racial em pauta. O problema é que existia uma burocracia muito grande para criar o partido e nós acabamos deixando ele meio de lado e se concentrando na CUFA.

O que você acha de iniciativas como o CUCA (Centro Universitário de Cultura e Arte da UNE) ?

Acho que essa é uma ótima forma de tentar colocar as discussões políticas em pauta. É um bom modo de chegar nas pessoas, que geralmente não se interessam por política. Eu acho um jeito interessante de se iniciar um tipo de movimento, mas é claro que não podemos ficar restritos à isso. Temos que pensar também em outros temas importantes da sociedade.

Qualquer pessoa que escuta Rap percebe a diferença entre o estilo estadunidense, mais focado na diversão, e o brasileiro, mais politizado. Por que existe essa diferença?

O rap americano começou igual ao daqui. Mas, eles começaram a falar para um público maior e a mídia começou a prestar atenção neles. O problema é que a mídia não quer saber de música que fala da realidade dura, de problemas como racismo e pobreza. Eles querem só a parte da diversão, e por isso que virou isso ai que está hoje. Eu fiquei muito decepcionado quando estive naquele festival “Hip Hop Manifesto”, com o Já Rule e o Snoop Dog. Os caras vêm fazer um evento patrocinado por uma cerveja e mais um monte de outras empresas com gente de fora e chamaram de o maior evento de hip hop do Brasil! Isso me deixou puto porque a gente faz o Hutuz, que é o maior festival de hip hop da América Latina e ninguém fala nada. É revoltante.

A UNE fez a Bienal de Arte e Cultura, em janeiro, com o apoio da Rede Globo e recebeu muitas críticas de setores do Movimento Estudantil. A CUFA também contou com a cobertura da Globo na final da Liga Brasileira de Basquete de Rua. Você recebeu críticas por aceitar essa parceria?

Sim. Foram críticas vindas de pseudo-revolucionários do hip-hop e alguns débeis mentais de faculdade, que se acham revoltados e consideram que uma emissora é culpada por tudo o que acontece no país. Eu, pelo contrário, não acho que nenhuma delas é melhor ou pior que outra. Todas elas tem uma forma linear de nos tratar. Isso vai desde a emissora mais popular a mais musical. Todas elas tem o mesmo padrão de beleza, a mesma forma de se dirigir as pessoas de forma desrespeitosa. Não dão os espaços necessários para os afrodescendentes e periféricos. Então eu acho uma incoerência ser contra apenas uma. É como no hip hop. O cara fala que não vai na TV, mas faz vídeo clipe. E vídeo clipe não é para passar no telefone ou no rádio. Muitos dizem que não vão à TV, mas na verdade nunca foram convidados. Portanto recusam um convite que na verdade nunca foi feito. Eu procurei achar espaços nos lugares que eu não precisava me moldar. Não precisava mudar meu discurso, não precisava mudar minha pessoa para poder me encaixar dentro dos padrões. E todas as pessoas que me fizeram críticas por eu ter ido à Globo assistiram os programas que eu fiz na TV. Quer dizer, a Globo é tem um poder tão grande, que até os pseudo revolucionários param para assistir. Através dessa inserção na TV, de forma sincera e sem banalizar as coisas que eu faço, eu consegui ampliar meu raio de trabalho. Antigamente eu falava só pros “calça larga” que nem eu, o pessoal do hip hop. Hoje eu falo pra você, falo pra minha mãe, falo pros filhos dos meus amigos. Aí o pessoal fala que o Bill mudou, que ele era mais pesado. Claro que era! Eu falava pra mim mesmo. Então eu podia falar qualquer coisa. Hoje eu falo para um pai de família. Então meu discurso não precisa ser modificado, ele tem que ser amadurecido.

(Fonte: DCE- PUC-Rio)