Quando fala o coração

Júnia Kelle Teles Martins
Aluna do 8º período do curso de letras da UFMG

Nasci menina de cabelos cacheados e de olhos pretos e tristes. A menina, a adolescente, a moça e, um dia, a mulher. Menina de sensibilidades e questionamentos profundos. Menina de coração mole e coração duro. Eu sabia ser os dois. E tentava não ser nenhum deles. Vida de fases foi o que tracei e vivi. Com meu um quarto de século vividos, uma das melhores fases vivo agora. Vontade de fazer tudo e muito, vontade de viver tudo e muito. Mas o que mais venho fazendo, e o que mais quero viver, é a felicidade. Felicidade é palavra abstrata, leve e suave. Leveza da alma que não conhece a tristeza da solidão, que não sente a dor da morte ou que não sente o incômodo das grandes dores. Sentimento que acaricia o coração, sentimento que abranda a ansiedade, sentimento que acaricia a alma dos homens. Queria eu apenas que a felicidade não fosse embora, não tivesse, também, as suas fases.

Passa o tempo. Nascem tempos. Morrem outros tempos. Vivem outros, renovam-se mais um tanto. A vida se colore, se ilumina, se fortalece. A menina sente a mudança, o crescimento, a força da alma feliz. Mas, tal como o preto e o branco, a vida tem seus contrastes. Chega um dia e o coração se entristece. E como dói na alma essa ausência... Contudo, essa ausência tem um lado positivo, pois é ela quem mostra à menina que o coração fez sua escolha: a escolha de amar. A ausência não é a bruxa dos contos de fada; é só a Cinderela que perde o sapato pouco antes da meia-noite.

Sentimentos do mundo, livro de Drummond do qual gosto muito. Poesias que completam a alma quando a felicidade insiste em não voltar. Palavras que me trazem a vontade de correr pelo mundo, sem rumo, e rumo ao amor que me completará, um dia. Gosto de acreditar no amor. A menina de cabelos cacheados que acredita no amor. A menina cujos olhos pretos não querem mais ser tristes.

Sabe-se lá como, mas a vida tem, escondida atrás das nossas rotinas, a arte de guardar o amor. Não posso nem quero desacreditar nisso só porque a felicidade vai embora de vez em quando. O amor é a cura para tudo. Não há tristeza que sobreviva diante da força dessa força. Força que me anima e me conduz. Amor que dá ao meu corpo o alimento para o levantar e para o adormecer.

Queira Deus eu saiba sobreviver minutos sem o amor. Queira Deus eu encontre o meu amor. Queria Deus eu saiba sonhar sempre, querer sempre, amar sempre. Quero mesmo é ter esse tal amor, e quero mais ainda não perder a felicidade. Sou gente que depende do outro, sou alma que se perde sem a minha outra alma. Sou barco perdido no cais pela ausência do farol que brilha no porto. Seja eu a eterna luz para seus olhos, e a verdadeira felicidade que preenche os seus anseios e buscas. Sejamos um só, cuidemos um do outro. Sejamos a menina de cabelos cacheados e o homem que faz brilhar os olhos pretos que não querem mais ser tristes. Sejamos amor e felicidade, sempre...

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