Hip-hop é trabalho coletivo e trata dos excluídos, diz documentarista

Tony C. tinha dez anos quando teve seu primeiro contato com a música que retratava os problemas cotidianos dos negros. O hip-hop era ouvido em fitas cassete. Com amigos mais velhos, Tony se enturmava e conseguia entrar nas matinês, ficando até mais tarde nas boates, onde logo começou a discotecar.

Hoje, aos 25 anos, o publicitário dirige e produz um documentário ainda sem nome sobre a história do hip-hop no Brasil. "Estou filmando o meu cotidiano, o hip-hop fala dos excluídos e é feito 90% por pessoas da periferia". Morador de Carapicuíba, município que fica a 23 quilômetros de São Paulo, leva duas horas de metrô para chegar ao centro da capital paulista, onde trabalha como webmaster. "Aproveito a viagem para ler e, assim, leio uma média de dois livros por semana", conta.

Integrante da entidade Nação Hip Hop, define o estilo musical como um "trabalho coletivo", formado por DJs, MCs (cantores), grafiteiros e B boys (dançarinos de brake), que leva nas letras uma mensagem de igualdade. "Estamos num país que diz ser de democracia racial, mas isso não existe. Estamos longe ainda", ressalta Tony, que é a favor das cotas universitárias para negros. "São formas de buscar essa igualdade", diz.

Para Tony, o hip-hop é um movimento de auto-afirmação não apenas dos negros, mas dos pobres e excluídos. "É um movimento que diz ‘olha, apesar de todas as dificuldades, você é uma pessoa como qualquer outra, entre você e o presidente da República não existe diferença’. Quando você começa a dizer isso e questionar a discriminação, você eleva a auto-estima", aponta. Uma das conseqüências da discriminação é a redução da cultura, história e estética que faz, por exemplo, "com que as pessoas alisem o cabelo achando que esse é o padrão da beleza".

O DJ diz que o sonho de ganhar dinheiro como músico no Brasil ficou guardado na infância. Hoje, "não é meu sonho, não faço com a pretensão de ganhar dinheiro. As pessoas fazem por militância, por acreditar", diz. Outro dia, assistiu a uma reportagem que falava do DJ mais novo do mundo, um inglês de doze anos. "Eu comecei aos dez". Para ele, o episódio retrata como a arte no Brasil é mal conhecida e valorizada.

O primeiro contato com um rap nacional veio pelo rádio. "Gravei, mostrei pro pessoal e fui 'zoado'", recorda. Uma música cantada em português, com gírias e erros de linguagem, foi motivo de gozação entre os amigos. Era a música "Pânico na Zona Sul", do grupo Racionais MCs, que anos depois fez sucesso em todo país. (Fonte: Agência Brasil)

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