TONI GARRIDO : Sobra sotaque estrangeiro

Paralelamente à carreira de ator e apresentador, TONI GARRIDO, que liderou o Cidade Negra durante 14 anos, lança o disco solo Todo meu canto.

Ailton Magioli

TONI GARRIDO

A abertura do rádio para a música brasileira é fundamental, na opinião de Toni Garrido. “A difusão do que está aí já ouvimos, mas acho que a descoberta e a abertura para a música brasileira em geral é fundamental”, prega o cantor, compositor e instrumentista, detectando um “excesso do sotaque estrangeiro” nas emissoras brasileiras, em especial do norte-americano. “Gosto do hip hop, tem inclusive um no meu álbum, mas o pop-rock não é só o hip hop americano. Tem muito hip hop brasileiro que a gente não ouve no rádio”, critica Toni, salientando que há gente fazendo funk, soul, rock, black music, samba, sertanejo, hip hop e outros ritmos em cada cidade, cada bairro e cada prédio deste país.

Consciente de que o jabá sempre norteou o dial, o cantor admite que as rádios têm suas preferências e indicações também. “Os hits são formados pelo gosto das rádios ou pela resposta comercial que elas possam ter”, adverte. “Mas não se pode mais ter medo ou vergonha de falar do assunto, diante da prática que, com a naturalidade com que é feita, me parece inclusive legal.”

“Entendo isso da seguinte forma: houve uma época em que as rádios enriqueceram as gravadoras de forma inacreditável. Elas pegavam seus produtos e tornavam as rádios suas sócias, fazendo-as tocar e estourar alguma música, que eles chamavam inclusive de produto. Quem fazia isso eram emissoras que estavam em rede, que tinham força e geravam os shows, porque elas davam a maior força, tocando as músicas. As gravadoras enriqueceram, os artistas também, mas as rádios não. Donos e funcionários não ganharam proporcionalmente ao que as gravadoras lucraram com os seus produtos estourados.”

“O que ocorreu, então?”, interroga-se Toni Garrido, já com resposta pronta. “Chegou uma hora em que as rádios ficaram sem dinheiro e tiveram de começar a fazer negócios. Aí entra o ciclo vicioso. Como quem agora está precisando são as gravadoras, elas têm de pagar um dinheirinho para poder fazer seus negócios”, acrescenta o cantor. Conversando com radialistas recentemente, ele diz ter ficado sabendo que o cara às vezes prefere fazer uma exposição comercial em uma empresa de ônibus, do que na rádio. “Muitas emissoras foram vilipendiadas”, lamenta Garrido, sem negar a importância do veículo para o artista. “As rádios entregam a gente na casa das pessoas, elas fazem a ponte”, afirma.

Toni conta também que teria ficado sabendo que, na televisão, quando entra um musical, a audiência cai. “Isso é terrível, porque daqui a pouco vai faltar mais espaço para divulgação do nosso trabalho. Temos de fortalecer os meios de comunicação para eles fazerem isso de forma social, gratuita. Essa é a vocação do rádio e da tevê: distribuir arte e cultura para as pessoas e ganhar dinheiro com comercial”. No primeiro ano fora do Cidade Negra, com quem gravou 11 álbuns, além de uma novela (Caminhos do coração), o cantor, apresentador e ator comandou na televisão o reality de bandas de rock Gas sound. Anteriormente, havia feito Fama, com Angélica, os filmes Orfeu e Fados e vários comerciais.

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